No final da tarde de ontem, 19 de junho, os movimentos socais participantes da Cúpula dos Povos realizaram um ato contra a transnacional Vale, em frente à sede da empresa, entre as ruas Santa Luzia e Graça Aranha, no Rio de Janeiro.
“A Vale usa a mesma estratégia em todos os países do mundo. Em Moçambique, são 1365 famílias sofrendo repressão desde 2004; a Vale viola os direitos dos trabalhadores, não dando condições de segurança e higiene e já controla todo o território centro-norte de Moçambique, através da construção de uma linha férrea”, denunciou Jeremias Vunjanhe, militante da ONG Justiça Ambiental, que havia sido impedido de entrar no Brasil na semana passada.
Além dos problemas sociais, os manifestantes focaram os impactos ambientais da empresa. “Estamos aqui, também, com um relatório de insustentabilidade, fruto de um ano de pesquisa e trabalho de aprofundamento, para desmontar as declarações que a própria empresa faz no relatório de sustentabilidade dela”, afirmou o padre Dário Bossi, da Comissão Pastoral da Terra (CPT). Bossi citou como exemplos desse impacto a construção da usina siderúrgica TKCSA, cuja poluição foi demonstrada por estudos, e que está sob intervenção do Ministério Público, e a duplicação da ferrovia de Carajás, no norte do país, que ameaça dobrar os impactos já existentes da mineração na Amazônia.
Scott, do sindicato USW (United Steelworkers), do Canadá, denunciou as péssimas condições enfrentadas pelos trabalhadores da Vale em seu país. A empresa provocou a maior greve da história do Canadá, que durou 11 meses entre 2009 e 2010, porque usou a recente crise mundial como justificativa para realizar demissões em massa, diminuir salários e aumentar jornadas, entre outros retrocessos nos direitos dos trabalhadores. “Isso é uma vergonha”, afirmou. Naquele país, só nesse ano já foram contabilizadas 16 mortes de trabalhadores em operações da Vale.
Adelaide, do Movimento Xingu Vivo para Sempre, relatou o processo de privatização da Amazônia impulsionada pela construção da usina de Belo Monte, cujo consórcio construtor conta com a presença da Vale. Larissa, da Marcha Mundial das Mulheres, denunciou como as obras de empresas como a Vale afetam em especial as mulheres, com o aumento da prostituição e da violência. Moisés, do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), denunciou o processo de criminalização do povo que luta contra as grandes empresas.
Durante o ato, foi projetado um vídeo na parede do prédio da empresa, com imagens de denúncia dos problemas causados pelas transnacionais. Os manifestantes também atiraram tinta vermelha contra o prédio, para simbolizar o rastro de sangue deixado pela Vale, e por todas as grandes corporações, nos territórios que atingem.
“As transnacionais são culpadas pelo atraso dos povos. Não podemos permitir que os ricos sigam sendo ricos e os pobres sigam sendo pobres”, afirmou Jairo Rubio, da Via Campesina na Colômbia.
A Vale, que está presente em 38 países na América, África e Ásia, foi eleita a pior empresa do mundo, por voto popular, no prêmio Public Eye Award.