Na última segunda-feira, dia 5 de fevereiro, foi realizada na sede da Secretaria Nacional da CPT, em Goiânia (GO), uma celebração com as cinzas de Frei Henri des Roziers, militante histórico das causas do povo pobre do campo, principalmente na região Norte do país, falecido em novembro último em sua terra natal, França, mas que agora ficará assentado, eternamente, como assim queria, nas terras conquistadas pelo povo sem-terra no Pará, a quem ele dedicou parte de sua vida.
(Fonte: Assessoria de Comunicação da CPT | Imagem: Arquivo CPT)
Frei Xavier Plassat, confrade dominicano de Henri, foi o responsável por transportar a urna com as cinzas do frei, da França ao Brasil. Antes do seu destino final, uma pequena parada em Goiânia reuniu amigos, amigas, companheiros e companheiras de luta de Henri que relembraram, com emoção e esperança, suas histórias de dedicação à causa dos trabalhadores do campo brasileiro, assim como sua sempre docilidade e seu bom humor cativantes.
As palavras de Dom Pedro Casaldáliga iluminaram bem o momento: “Ao final do caminho me dirão: - E tu, viveste? Amaste? E eu, sem dizer nada, abrirei o coração cheio de nomes”... Henri presente, presente, presente!
Saiba mais sobre Frei Henri
Nascido em 1930 em uma família aristocrática, Henri se formou em advocacia e, provocado pelas situações de desigualdade e injustiça, se tornou frade dominicano. Em 1968, se alinhou com a revolução dos estudantes, em Paris, na qualidade de capelão do centro Saint Yves, o único centro dos estudantes que não fechou e nem condenou os anseios que buscavam. Em 1970, foi viver e conviver na condição de padre-operário exercendo funções de operário, motorista e zelador. Depois aceitou o desafio de morar no Brasil, provocado pela morte de Frei Tito (1974), exilado na França.
Chegou ao Brasil no final de 1978 e o campo de atuação que logo lhe abriu foi o trabalho desenvolvido pela CPT junto aos posseiros e pequenos agricultores na defesa de seus direitos à terra. Inicia junto à CPT do Norte do estado de Goiás, hoje Tocantins, sobretudo no Bico do Papagaio. Para melhor atuar em sua defesa, conseguiu o reconhecimento de seus estudos jurídicos e a inscrição na OAB.
Em 1991, após o assassinato do presidente do Sindicato de Rio Maria, Expedito Ribeiro da Silva, foi para Rio Maria, no sul do Pará, onde os conflitos pela terra e a violência contra os trabalhadores alcançavam dimensões assustadoras. E naquela região, entre Conceição do Araguaia, Rio Maria e Xinguara, exerceu sua ação até quando, com a saúde fragilizada, em 2013, voltou para a França. Henri foi responsável pela condenação de diversos fazendeiros mandantes de assassinatos de lideranças sindicais na região.
Com a cabeça posta a prêmio, várias vezes, por sua ação firme e decidida, foi forçado a aceitar a escolta ostensiva das forças de segurança. Sua atuação se tornou referência para a toda a CPT quando se tratava de combate à violência contra os trabalhadores do campo e ao trabalho escravo. Ele serviu de inspiração para uma plêiade de jovens advogados que pautaram suas atividades nos princípios e na determinação do frade que incomodava quem explorava e oprimia.