No 24 de Julho fez 25 anos da morte do Pe. Ezequiel Ramin. Apoiando aos excluídos que chegavam a Rondônia a procura de terra, numa época marcada pela ditadura militar e quando a terra era foco quente da desputa entre grandes grileiros sem escrúpulos e centenas de famílias de sem terra, em um deses conflitos em Cacoal, na fazenda Cataduva, Pe. Ezequiel, com 33 anos, foi assassinado.
No 24 de Julho fez 25 anos da morte do Pe. Ezequiel Ramin, assassinado em Cacoal, Rondônia. Apenas fazia o ano que ele tinha chegado, como missionário comboniano da Itália. Ele encontrou o estado em formação, fervilhando com a chegada massiva de migrantes, abertura de novas estradas, surgimento de novas cidades e colonização do interior da mata, num ambiente sapecado de violentos conflitos sociais.
O jovem P. Ezequiel chegó impregando de forte sensibilidade social, que rapidamente o aproximaram do bispo da Diocese, Dom Antôno Possamai, e dos outros padres combonianos de Cacoal. Entre eles o saudoso Pe. Zezinho Simoniatto e o atual prefeito da cidade, o Pe. Franco Vialetto.
Na época a paróquia de Cacoal estaba ainda nos seus inícios, porém já tinha muitas CEBs vivas e atuantes. Rapidamente se fez amigo das lideranças indígenas e comunitárias, dos sindicatos, das pastorais sociais da CPT e do CIMI.
Apoiando aos excluídos que chegavam a Rondônia a procura de terra, numa época marcada pela ditadura militar e quando a terra era foco quente da desputa entre grandes grileiros sem escrúpulos e centenas de famílias de sem terra. Um deses conflitos estourou na fazenda Cataduva, onde Ezequiel, com 33 anos, foi assassinado.
As combonianas contam assim como aconteceu o conflito:
(http://www.pimenet.org.br/noticias)
“FAZENDA CATUVA, PROIBIDA A ENTRADA”: Foi quando, em uma região entre Mato Grosso e Rondônia, na área pastoral de Cacoal, apareceu uma placa: “Fazenda Catuva, proibida a entrada”. Coisa estranha: 250 famílias trabalhavam aquelas terras há mais de dois anos, convivendo com os únicos possíveis donos, os índios Suruí, com os quais, porém, as famílias tinham conseguido estabelecer relações de respeito e amizade. Porém apareceu a placa e, com a placa, uma cerca e uma porteira; e gente armada, do outro lado, inibindo qualquer tentativa de aproximação. Os donos? Dois irmãos, Omar e Osmar, fazendeiros. No papel, proprietários de 2.499 hectares. Na prática, tentando abocanhar 50 mil hectares (alguém falava até em 100 mil); passando por cima dos índios, das famílias de posseiros e de suas roças. A questão chegou à paróquia. Pe. Ezequiel tinha chegado há pouco tempo. Tinha demonstrado sensibilidade pelos problemas do povo. Havia coisas que o incomodavam profundamente: as desigualdades sociais, sobretudo; os muitos que não têm nada e os poucos que têm tudo; as injustiças; a arrogância de quem tenta se impor pelas armas ou pela manipulação das leis. Em várias oportunidades tinha tocado nesses assuntos, inclusive nas homilias e celebrações. Era de seu estilo trazer a Palavra de Deus para a realidade das pessoas. O povo ouvia. Alguns simpatizavam, outros o criticavam. Uns poucos manifestavam publicamente seu desapontamento, tanto que o padre passou a gravar suas homilias, para que suas palavras, distorcidas, não fossem usadas como armas contra ele.
O dia 24 de Julho de 1985 Ezequiel, junto ao presidente do sindicato, foi a Fazenda Catuva advertir as famílias do perigo que estavam correndo. Ainda estavam falando com eles quando uma camionete chéia de jagunços saiu da fazenda. Eles ficaram de tocáia depois duma curva, atravessados na estrada no meio da mata. Quando o carro de Ezequiel chegou, os jagunços atiraram contra eles. O companheiro do sindicato teve mais sorte. Abrindo a porta do carro rodó pelo chão e ferido conseguiu sumir no meio da mata, fugindo a pé. Ele contou como advertiu Ezequiel de fazer o mesmo, porém, mais inexperiente, ele saiu do carro e ficou de pé uns instantes, que os pistoleiros não desperdizaram. Caiu ferido de morte lá mesmo.
Até agora nenhum dos assessinos nem mandantes do grupo foi preso, nem condenado pela justiça. O povo diz que Deus já tomou conta de alguns. O povo conhece os que erão, um grupo numeroso. Cntam que um deles está cego e incapacitado. Outros morreram em outros episódios violentos. Outros... ainda esperam a justiça divina.
Ezequiel Ramin se converteu em mais um mártir da igreja da libertação latinoamericana. A camisa ensangrentada dele tem presidido muitas romarias da terra e dos mártires latinoamericanos. Na celebração do XII Encontro Intereclesial de Porto Velho, no ano passado, muitos se aproximaram com devoção para tocar a camisa de Ezequiel Ramin furada de balas.
Recordado com fervor pela Diocese de Ji Paraná, em seu nome foi criado um projeto social que faz décadas atende os pequenos agricultores das comunidades rurais da diocese. Muitas comunidades e capelas rurais o escolheram por padroeiro.
Os missionários combonianos querem começar um processo de beatificação, pois acreditam que Ezequiel Ramín foi um verdadeiro mártir da fé, dando testemunho do Evangelho e de seu amor pelos pobres, seguindo Cristo até a morte. Se for para frente, ele será santo de minha devoção, com agora já o é do povo humilde de Rondônia.
Porto Velho, 23 de Julho de 2010
Josep Iborra Plans, da coordenação colegiada da CPT Rondônia.