A publicação anual da Comissão Pastoral da Terra (CPT), Conflitos no Campo Brasil 2015, foi lançada ontem, sexta-feira, 15, em ato no Acampamento Nacional pela Democracia e Contra o Golpe, em frente ao Estádio Mané Garrincha, em Brasília.
(Por Assessoria de Comunicação da CPT | Imagem: MAB)
O lançamento se deu no contexto de uma grande plenária de formação, com a participação de aproximadamente 1500 pessoas. O ato teve início às 14:30 e se estendeu até quase 17 horas. Participaram da mesa João Pedro Stédile, da direção nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Iuri, representante do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB) e que atua em Altamira, no Pará, e um representante da Federação Única dos Petroleiros (FUP). Pela CPT, estavam na mesa Dom Enemésio Lazzaris, presidente da CPT e bispo de Balsas, no Maranhão, Antônio Canuto, secretário da coordenação nacional da CPT, e o professor Ariovaldo Umbelino de Oliveira, da Universidade de São Paulo (USP).
A figura mais aguardada no evento, sem dúvida, era João Pedro Stédile, que, de início, fez uma análise da conjuntura atual, no momento em que está para ser votado o processo de impedimento da presidenta Dilma, criticou as articulações políticas na busca pelo poder a todo custo, como o réu e presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB). O líder do MST disse ainda que independente da decisão que a Câmara tomará no domingo, o que é necessário e urgente é a articulação da população da cidade e do campo em torno de um projeto político popular. Stédile afirmou apostar na contribuição do ex-presidente Lula no governo após este período de turbulência.
Após isso, a palavra foi passada para a CPT. Dom Enemésio saudou, entusiasticamente, os/as participantes do Acampamento falando do compromisso da CPT em defesa da democracia. Canuto fez uma rápida apresentação dos dados de conflitos no campo e de violências que ocorreram em 2015. Ele destacou ainda os 14 assassinatos que já aconteceram em 2016, momento em que repassou informações recentes sobre a gravidade dos conflitos no município de Cujubim, em Rondônia, onde testemunhas de assassinatos, familiares das vítimas e jornalistas têm sofrido tentativas de assassinato. Antônio Canuto, com a publicação em mãos, mostrou aos participantes que, pela primeira vez, a CPT traz um quadro dos projetos que tramitam no Congresso Nacional que visam a desconstrução dos direitos dos povos.
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Em seguida, o professor Ariovaldo analisou os dados da CPT. Destacou que, após o fim da ditadura militar, em três períodos houve aumento da violência e dos assassinatos no campo, em 1987 e 1988, quando as forças democráticas conquistaram algumas vitórias, o que provocou que a UDR desencadeasse um forte processo de violência, e em 2002 e 2003, quando se conseguiu eleger um presidente que nos discursos mostrava um compromisso com a Reforma Agrária e se construiu o II Plano de Reforma Agrária, e agora com a fragilização do governo Dilma, que, apesar de não atender os clamores dos movimentos populares, a todo custo a elite quer alijá-la do poder. "As elites estão interessadas na retirada de direitos e ao mesmo tempo em mostrar aos trabalhadores, indígenas, quilombolas que têm uma arma, a violência. Observamos isso no recorde de assassinatos em 2015", afirmou.
Na continuidade, o representante do MAB falou sobre a questão energética e a construção de barragens que atingem as comunidades do campo. Já o representante dos petroleiros fez uma defesa enfática da Petrobrás e das suas conquistas nestes últimos anos, conquistas que, segundo ele, tentam passar às mãos do capital.
A grande palavra de ordem que galvanizava a todos era "Não vai ter golpe, vai ter luta!". Possivelmente este tenha sido o lançamento do Conflitos no Campo Brasil com o maior público e que se mostrou muito atento ao que era exposto. Os dados, porém, ficaram um tanto ofuscados pelo momento político em que eram apresentados.
Um grupo de indígenas Xacriabá, do Norte de Minas Gerais, participou do ato, acompanhado pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi). Também estiveram no evento e saudaram o povo a ministra interina do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Maria Fernanda, que ressaltou que Patrus Ananias assumiu, temporariamente, seu mandato de deputado federal para votar contra o impedimento da presidenta. Os deputados federais Paulo Pimenta e Marcon, ambos do PT, que garantiram que na Câmara há votos suficientes para frear o impedimento. Houve grande afluência da imprensa, a Rede Globo, porém, que tentou entrar pelos fundos, foi barrada pelos militantes.
"Esse lançamento me fez lembrar as palavras do Papa sobre a igreja em saída. Pois neste evento estivemos reunidos com o povo do campo, os movimentos, organizações, indígenas. Estivemos, nesse acampamento, reunidos com o povo", analisou, ao fim do evento, Dom Enemésio.