A CPT em São Paulo divulgou ontem, 10 de abril, Nota Pública se posicionando "contra o golpe em curso e exige, por parte do governo federal, a retomada das bandeiras históricas da classe trabalhadora". Confira o documento:
“Malditas sejam todas as cercas!
Malditas todas as propriedades privadas que nos privam de viver e de amar!
Malditas sejam todas as leis, amanhadas por umas poucas mãos,
para ampararem cercas e bois e fazerem da terra escrava e escravos os homens!”
(D. Pedro Casaldáliga)
Neste momento de turbulência política, econômica e social, a Comissão Pastoral da Terra - SP vem a público reafirmar seus valores pastorais, manifestando-se contraria ao impeachment da presidenta democraticamente eleita por mais de cinquenta e três milhões de votos. A breve história da democracia brasileira - interrompida por inúmeros períodos ditatoriais - nos impele a reforçar a importância do fortalecimento das instituições democráticas do Estado brasileiro, dentre elas o voto direto para presidente(a). Vemos com preocupação os recentes desmandos e a exagerada partidarização operados por setores do judiciário brasileiro. O combate à corrupção é, de longa data, uma das inúmeras demandas dos movimentos sociais, mas não admitimos que seja exercido aos arrepios da lei, corrompendo a própria Constituição. Assusta-nos, também, o papel cumprido pela grande mídia na distorção e fabricação de fatos, bem como na perseguição de adversários políticos, num jogo que só faz mal à democracia e que distancia a população dos verdadeiros acontecimentos que tanto importam e impactam suas vidas.
Os avanços sociais dos últimos governos são inegáveis e devem ser defendidos. Milhões de brasileiros foram retirados da miséria, ao passo que importantes setores da sociedade acessaram inúmeros serviços antes restritos à pequenos e privilegiados grupos sociais. Contudo, a defesa dos direitos constitucionais, do Estado Democrático e da permanência de políticas sociais voltadas para as classes vulneráveis não podem ser confundidas com uma adesão inconteste ao atual governo. A política econômica levada a cabo pelos governos do PT, fortemente baseada na exploração e exportação dos produtos primários, capitaneada principalmente pelo agronegócio, pelo setor de petróleo e da mineração, traz prejuízos incalculáveis para a sociedade brasileira, especialmente para as populações que vivem da terra e das águas. O resultado está expresso no genocídio de povos indígenas, o quase total abandono da Reforma Agrária e da regularização de territórios tradicionais, na explosão sem precedentes dos assassinatos no campo, no deslocamento forçado de famílias das áreas rurais, na contaminação do solo e das águas e em prejuízos ambientais incalculáveis, dos quais o desastre de Mariana é, tão somente, um exemplo.
A solução dos impasses políticos e econômicos dos pais não será atingida pelo aumento do envolvimento de corporações no financiamento de campanhas político-partidárias. A solução não sairá de uma maior arrecadação oriunda das exportações do agronegócio e das mineradoras que tanto envenenam, escravizam e matam as populações deste país. A CPT é contra o golpe em curso e exige, por parte do governo federal, a retomada das bandeiras históricas da classe trabalhadora.
Comissão Pastoral da Terra - Regional São Paulo