COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Durante três dias, equipe da CPT Bahia realizou um mutirão de formação e mobilização nas comunidades geraizeras do Estado. O objetivo dessa jornada foi visitar famílias que estão nos gerais e que dependem deles para garantir a manutenção do seu modo de vida.

 

CPT Bahia

“No princípio Deus, Deus criou o céu e a terra”… E Deus viu tudo que havia feito, e tudo era muito bom (Gn 1, 1,31)

Inspirados pelo principio da criação, entre os dias 1º e 3 de abril de 2014, a Comissão Pastoral da Terra – Equipe sul sudoeste da Bahia - realizou um mutirão de formação e mobilização nas comunidades geraizeiras dos municípios de Cordeiros, Condeúba e Tremedal. O objetivo da jornada foi visitar famílias que estão nos gerais e que dependem deles para garantir a manutenção do seu modo de vida, chamando a atenção para a necessidade de preservação deste bioma, uma vez que é nele que estão as nascentes que garantem a existência de muitos corpos hídricos que abastecem as comunidades locais. Foram visitadas 132 famílias nas comunidades de Tapera do Rochedo e Malhada Grande (Cordeiros), Feirinha (Condeúba), Ilha de dentro, Barra da Ilha e Tapioconga (Tremedal), atingindo cerca de 140 pessoas nas reuniões.

Durante as visitas, foi possível perceber a riqueza da região. São inúmeras nascentes, rios, riachos e cachoeiras que enchem os olhos e alimentam a alma dos moradores e visitantes. Águas que por onde passam irrigam solos nas baixadas férteis impulsionando toda uma produção de subsistência, com o cultivo de hortaliças, milho, mandioca, feijão, cana, arroz, entre outras, que garantem a sobrevivência e segurança alimentar de milhares de pessoas. O cerrado oferece ainda inúmeras plantas medicinais historicamente usadas pelas famílias,  a exemplo do barbatimão, chapéu-de-couro, leite de mangaba etc.  Além de uma grande diversidade de plantas frutíferas como caju, pequi, araçá, araticum.

Nessa região, o cerrado ao longo do tempo, vem passando por um processo de transformação motivado pela ação antrópica. Desde o final da década de 70 os gerais sofrem ocupações de empresas que entraram através da divisa do estado de Minas Gerais, suprimindo a vegetação nativa para implantação de grandes extensões de monocultivo de eucalipto, que de maneira indiscriminada avançaram por cima dos territórios tradicionais destruindo inúmeras áreas de nascentes e expulsando centenas de famílias. “Resistimos até quando podemos. Tivemos que sair com as máquinas arrancando todas as nossas roças”relata dona Gezuina, moradora da comunidade de Ilha de Dentro, expulsa do município mineiro de São João do Paraíso.

“Quando cheguei nessa região há 30 anos dava gosto de ver. Eram muitos os rios que cortavam essa região. Hoje em dia tudo seco por causa de tanta queimada e desmatamento”, conta  Juarez, da comunidade de Ilha de Dentro.

Na comunidade de Feirinha, os relatos não foram diferentes. Eles contam que o rio que passava pela comunidade há bem pouco tempo era bem caudaloso e corria água durante todo o ano. Tinha muito planto de cana para produção de cachaça e rapadura. Com a intensidade dos desmatamentos a água foi diminuindo até que secou. Mesmo assim, na comunidade ainda existem algumas das mais belas cachoeiras da região.

Durante as visitas muitas outras questões chamaram a atenção, a exemplo do fluxo de migração na região que é muito grande. Em todas as famílias visitadas foram relatados que os filhos ao completarem a idade de 18 anos saem à procura de emprego, tendo como destino a capital paulista onde trabalham principalmente na construção civil. Na feirinha um morador relata que tem muito mais gente do município que mora em São Paulo do que na própria cidade. Tal processo migratório se dá em função da falta de perspectivas e politicas públicas que viabilizem a permanência, principalmente dos jovens, no campo. Outra questão importante pontuada pelos moradores é a grande concentração de terras em poucas mãos: há propriedades que não produzem, nas mãos de quem não precisa. E pessoas que precisam, sem ter terra para plantar.

Ao final dos mutirões, a CPT reafirma seu serviço de assessoria e apoio e se coloca ao lado dos trabalhadores e trabalhadoras das comunidades geraizeiras a fim de continuar apoiando suas iniciativas de organização, na luta em defesa do território, pela preservação das nascentes e da biodiversidade do cerrado.

 

 

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