COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Entre os dias 5 e 7 de julho último, a CPT Rondônia realizou sua XIV Assembleia estadual. Inspirados pela comemoração dos 50 anos do Concílio Vaticano II, a CPT elegeu uma nova coordenação executiva e reafirmou o seu compromisso com as lutas dos povos do campo. O evento contou com a assessoria de Dom Tomás Balduino, padre Flávio Lazzarin, Dom Benedito Araújo e com a presença profética de Dom Moacyr Grechi. Ao final, os participantes da Assembleia redigiram a “Carta de Porto Velho da Comissão Pastoral da Terra”. Confira o documento na íntegra:

 

Em Assembleia realizada nos dias 05, 06 e 07 de julho último, a CPT Rondônia escolheu nova equipe para sua coordenação Colegiada Executiva, em que foram eleitos Maria Petronila Neto, José Ossak, José Pinto de Lima e Claudinéia Pagung, representando as equipes da CPT da Arquidiocese de Porto Velho, da Diocese de Guajará Mirim, da Diocese de Ji Paraná e do Sínodo Luterano da Amazônia (IECLB). Além da coordenação colegiada, foram eleitos os 18 membros do Conselho Regional, organismo consultivo que se reúne quatro vezes por ano. O mandato é de três anos.

 

A Assembleia foi assessorada por Dom Tomás Balduino, conselheiro permanente da CPT, pelo Padre Flávio Lazzarin, da coordenação nacional da CPT, e por Dom Benedito Araújo, bispo diocesano de Guajará Mirim e acompanhante da CPT Rondônia. A assembleia contou com 79 participantes, entre membros da CPT, representantes de movimentos sociais e dos agricultores de diversos assentamentos e acampamentos do estado, além de membros das igrejas católica, luterana, presbiteriana e da assembleia de Deus.

 

O ato principal de formação foi uma Mesa Redonda realizada no sábado, dia 06 de julho, que contou com a presença de Dom Tomás Balduíno, o bispo emérito de Ji Paraná, Dom Antônio Possamai, a Pastora Sinodal Vera Lúcia Engelhard e o antigo coordenador da CPT RO e superintendente do INCRA, também luterano, Olavo Nienow. O tema tratado foi como o Concílio Vaticano II, o qual celebramos os 50 anos, inspirou na Igreja uma maior presença junto aos povos e o compromisso a favor dos pobres, dando início na época da ditadura militar à Comissão Pastoral da Terra.

 

 

O Pe. Flávio Lazzarin apresentou, com a complementação dos presentes, a análise de conjuntura política e eclesial atual. Os participantes da assembleia acolheram os relatórios de atividades e financeiros apresentados pela coordenação anterior, e elaboraram uma proposta de prioridades de atuação para os próximos anos, que contou também com as propostas de Dom Moacyr Grechi, bispo emérito de Porto Velho e um dos fundadores da entidade na Amazônia.

 

Com as contribuições dos participantes da Assembleia foi redigida a “Carta de Porto Velho da Comissão Pastoral da Terra”. O encontro finalizou com a celebração eucarística, de forma ecumênica, presidida por Dom Benedito de Araújo e Dom Tomás Balduíno.

 

Carta de Porto Velho da Comissão Pastoral da Terra

 

Inspirados pelas luzes do Concílio Vaticano II, que completa agora 50 anos, e da Conferência Episcopal Latino-americana de Medellín, nós, agentes pastorais, juntamente com camponeses e camponesas presentes na XIV Assembleia da Comissão Pastoral da Terra de Rondônia, confirmando nossa fidelidade ao Deus dos pobres, aos pobres da terra e à terra de Deus, nos dirigimos respeitosamente aos irmãos e irmãs camponeses, indígenas, quilombolas, aos outros povos tradicionais e aos membros da CPT e das igrejas cristãs.

 

Partilhamos as alegrias e as esperanças, no compromisso com as tristezas e as angústias da Amazônia. Celebramos com entusiasmo a presença fraterna ecumênica das igrejas Luterana, Presbiteriana e da Assembleia de Deus, presença, aliás, que caracteriza a CPT de Rondônia.

 

Alegra-nos a participação de diversos movimentos sociais de trabalhadores rurais de todo o estado de Rondônia, comprometidos com a defesa das florestas e das águas, e da vida dos povos indígenas e comunidades tradicionais. Engajados na produção de alimentos saudáveis, na agroecologia e no cuidado com o bioma amazônico. Saudamos a diversidade dos povos da terra e da água: camponeses, índios, quilombolas, ribeirinhos, acampados, assentados, colonos e aqueles escravizados, que na condição de sujeitos de sua própria caminhada, de rosto sofrido e ao mesmo tempo portadores de grande esperança.

 

Rondônia foi destaque na publicação “Conflitos no Campo – Brasil 2012”, com nove camponeses assassinados e inúmeras lideranças perseguidas e presas. O aumento da violência no campo coincide com o crescimento de famílias que buscam terra para trabalhar. Denunciamos a inoperância do Estado na apuração destes fatos, dificultando o acesso à justiça pelos camponeses. Denunciamos também a criminalização de todos que lutam pela terra de viver e trabalhar.

 

Aceitamos o chamado a exercemos a missão samaritana junto às famílias camponesas atingidas pela violência do capital e do Estado, articulados em defesa do agro-hidronegócio. Constata-se por parte desse governo a execução de ações destinadas a enfraquecer a luta, cooptando, sobretudo, as lideranças populares. Comprometemos-nos a estar ao lado das famílias camponesas, despejadas de suas terras, à beira da estrada, e das lideranças ameaçadas de morte e presas.

 

Reconhecemos que neste caminho, infelizmente, alguns agentes e camponeses vão tombando à sua margem, vencidos pelo cansaço, pela falta de confiança em si mesmo, pela desunião e pela intriga que nos afasta uns dos outros sem podermos mais nos apoiar, o que impede nossa união de classe, prejudicando a organização das lutas camponesas.

 

Atentos aos novos sinais dos tempos, tomamos a liberdade de exortar vocês, companheiros e companheiras, parentes, irmãos e irmãs de luta, a levar em conta o clamor das ruas, como um apelo a ingressar nessa nova caminhada vitoriosa na luta pela reforma agrária e pela defesa da vida.

 

Enquanto Comissão Pastoral da Terra nos comprometemos a recuperar o vigor profético de nossa ação missionária. Vamos construir uma nova história para o Brasil que queremos, ao lado dos povos da terra e das águas da Amazônia. Bem aventurados os camponeses e camponesas, os povos indígenas, os ribeirinhos, os quilombolas e as comunidades tradicionais, enfim, os homens e as mulheres da Amazônia.

 

Voltemos para o Deus da justiça, do amor aos pobres e libertador dos oprimidos e assim concretizemos, com sua ajuda, nossas esperanças, nossa utopia, assumindo a mística do Bem Viver para todos e para sempre.

 

“Não tenham medo, diz o Senhor, continuem a falar e não se calem, porque Eu estou com vocês” (cf At, 18,9)

 

Porto Velho, 07 de julho de 2013.

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