NÓS, agentes da Comissão Pastoral da Terra – Maranhão (CPT – MA), camponeses e camponesas, sertanejos, quilombolas, quebradeiras de coco, ribeirinhos e ribeirinhas reunidos em Assembleia, dirigimo-nos a todas as lutadoras e todos os lutadores da Pacha-Mama. “E as multidões estavam cansadas e abatidas como ovelhas sem pastor”.
Conduzidos e conduzidas pela Palavra de Jesus de Nazaré nos CONFRONTAMOS com a realidade do avanço do grande projeto do capital sobre os territórios dos povos e comunidades tradicionais, com apoio e financiamento do Estado Brasileiro. As previsões de expansão das áreas para plantio de soja, cana-de-açúcar, eucalipto, pecuária, a proliferação das barragens e de empresas de mineração aumentam em igual proporção a expectativa de conflitos e violações de direitos fundamentais dos Povos e da Mãe-Terra.
A persistência da concentração da terra nas mãos das elites latifundiárias neste Estado tem suas drásticas consequências. Citamos algumas:
Mais de um milhão e meio de maranhenses migraram para outros estados em busca de melhoria de vida – lembramos que dos dezenove trabalhadores rurais sem terra assassinados na chacina de Eldorado do Carajás (PA), em 1996, onze eram maranhenses;
Nos últimos três anos somos o estado com maior numero de conflitos agrários. Nos últimos 27 anos foram assassinados 132 camponeses e camponesas, sendo que nenhum mandante foi condenado.
Estamos entre os quatro estados do Brasil com maior número de trabalhadores resgatados de trabalho escravo - de cada dez trabalhadores resgatados, três nasceram no Maranhão. Recentemente na Capital do Estado foram libertados vinte e cinco trabalhadores que construíam o arraial do governo do Estado.
O Nosso estado continua governado por uma oligarquia que distribui terras e recursos financeiros para seus familiares e/ou aliados políticos sem qualquer escrúpulo e sem órgãos de controle para combater e punir essas práticas criminosas.
Em 2012, o governo federal desapropriou apenas 12.800 hectares de terra no Maranhão para fins de reforma agrária, o que representa uma redução de quase 75% em relação ao ano anterior; titulou apenas um território quilombola e homologou sete terras indígenas em todo o Brasil.
Eu venho pelas veias d´água, venho arrastado pela correnteza. Banzeiro grande foi que me trouxe, maresia é o meu cavalo. (Encantaria)
Ao som dos tambores e dos pés em danças os povos da terra e das águas continuam proclamando suas resistências e lutam com bravura em defesa de seus territórios, o território de seus ancestrais, com seus saberes, sabores e olhares num diálogo crítico com outros saberes, sabores e olhares. Foi partilhada com muita alegria e como sinal dos tempos a Aliança, ainda em processo de construção, entre Quilombolas e Povos Indígenas em defesa da Mãe-Terra e dos seus filhos e filhas.
Igualmente partilhamos com alegria o diálogo fraterno e afetivo com as Religiões de Matrizes Africanas e Indígenas e com as Igrejas Cristãs que se colocam a serviço da vida e da esperança dos nossos povos e da mãe-terra. Sentimos a força dos Encantados e Orixás.
Nossos corações ardem e nossos olhos se enchem de luz com o trabalho de recuperação da Memória dos Ancestrais, dos nossos Mártires e das lutas dos povos. A luta não pode ser apenas por um pedaço de terra, “é luta pelo direito de viver com nosso jeito, com nossas tradições, nossas crenças, nossas esperanças”, disse-nos um camponês.
“Viemos pra comungar
Com a luta sofrida do povo que quer ter voz, ter vez, lugar”.
A CPT REAFIRMA seu compromisso com a organização e articulação dos povos da terra e das águas, sempre na perspectiva do protagonismo e autonomia de seus processos e lutas;
Seguiremos solidários aos lutadores e lutadoras. Nesta hora da História prestamos nossa solidariedade irrestrita aos quilombolas e povos indígenas que lutam e por isso estão sendo criminalizados, perseguidos e mortos. Solidarizamo-nos igualmente como nossos irmãos e irmãs do CIMI. Aos perseguidos a Palavra de Jesus de Nazaré: “Não tenham medo pequeno rebanho”.
Declaramos nossa solidariedade aos trabalhadores e trabalhadoras rurais maranhenses que estão a caminho da cidade de São Luís para exigirem reforma agrária e justiça no campo e a todos que, pelo Brasil afora, ocupam as praças e ruas pelo direito à vida com dignidade e contra o sistema que condena à morte prematura milhares de brasileiros e brasileiras, sobretudo jovens.
Ao caminharmos com os que em todos os cantos do Brasil e do Mundo lutam por outros mundos possíveis e já em processo de gestação, alimentamo-nos da memória subversiva do evangelho da vida e da esperança, fieis ao Deus dos pobres, à terra de Deus e aos pobres da terra.
São Luís – Maranhão, junho de 2013.