COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Acaba de ser desarticulado, no município de Palmeirante, um grupo de pistoleiros que, segundo consta nos depoimentos colhidos pela Polícia Federal, estava tramando a “limpeza” da área ocupada pelas famílias que reivindicam a desapropriação da Fazenda Santo Reis (conhecida como Fazenda Brejão) para fins de reforma agrária.  

Em operação relâmpago ocorrida no dia 4 de Fevereiro de 2012, a pedido do Ministério Público Federal e da Coordenação do Programa Terra Legal no Tocantins, a Polícia Federal prendeu dois suspeitos de pistolagem; foram ouvidos no Pelotão da PM de Colinas pelo Delegado da PF de Araguaína, ocasião em que foi feita a acareação entre um dos suspeitos e um dos denunciantes.

Segue tensa e virtualmente explosiva a situação vivida pelas 19 famílias sem-terra do Acampamento Vitória, situado à margem direita da rodovia TO 335, km 30, no sentido Colinas-Palmeirante. Localizado numa região com confuso histórico fundiário, o acampamento foi constituído em novembro de 2010 dentro do lote 84 da Gleba Anajá, vizinho ao lote 83, ambos situados em área presumidamente da União, em apoio à reivindicação da criação de um assentamento pelo INCRA. Nestes mesmos lotes - já reivindicados por vários fazendeiros, o INCRA chegou a propor a titulação pelo programa Terra Legal, tendo entre os possíveis beneficiários alguns  laranjas dos pretensos donos. Denunciada a tempo, a tentativa foi frustrada, resultando nos últimos dias em novas ameaças de violência.

A Comissão Pastoral da Terra vem novamente a público manifestar a indignação e repúdio da comunidade tocantinense frente à violência e intolerância dos mandantes de tais crimes, agentes de um latifúndio improdutivo e mortífero que, movido pela ganância, apropria-se das terras da União e gera violência, miséria e expulsão das famílias do campo.

Instalado há anos e denunciado repetidas vezes pela CPT e pelos Bispos católicos do Tocantins, o presente conflito revela as mazelas do falso “progresso” proposto pelo agronegócio, nos monocultivos do eucalipto e da soja e na pecuária extensiva, na especulação imobiliária e na supervalorização das terras.

Graças à agilidade da intervenção da PF, foi possível reduzir o clima de tensão instalado no local do conflito. Aguarda-se ainda o resultado das investigações. Há fortes indícios de existir um grupo de pessoas, as mesmas que foram presas em 2004 na operação “Terra Nostra”, sob acusação de pistolagem e grilagem de terras.

Já está nas imediações da área ocupada pelas famílias sem terra uma equipe da Delegacia Especializada em Conflitos Agrários do Tocantins, designada pela Delegada Gladis. Diante do caráter frio e calculista do grupo criminoso e de sua ligação com políticos influentes, o denunciante do plano ora desvendado teve que ser recambiado para um local seguro.

Esperamos a máxima eficiência por parte da polícia investigativa na apuração e responsabilização dos envolvidos. Sabemos que a solução real passa pelo firme empenho do INCRA em operacionalizar a reforma agrária, dando o correto destino das terras públicas conforme prevê a Constituição Federal. É oportuno recordar neste momento essas palavras de Dom Pedro Casaldáliga: “Malditas todas as cercas que nos impedem de viver e amar”.

É urgente: Terra, Trabalho e Dignidade! Só assim a justiça será de fato alicerce para a paz tão sonhada no campo.   

Araguaína, 6 de fevereiro de 2012

COORDENAÇÃO CPT REGIONAL ARAGUAIA/TOCANTINS.

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