COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Estiveram reunidos no dia 7 de janeiro, em Queimadas, a 60 quilômetros de Codó (MA), dezenas de trabalhadores de comunidades e povoados da região, para discutir as ameaças e pressões que vêm sofrendo por parte da empresa Costa Pinto. Confira carta divulgada pela CPT em Coroatá após a reunião:

 

Estiveram reunidos na tarde do dia 7 de janeiro de 2012, na comunidade Queimadas, a 60 km da sede do município de Codó – MA, cerca de 60 camponeses/as (sem contar as crianças), representando centenas de outros companheiros/as das comunidades ameaçadas pelos projetos de expansão do lucro da empresa Costa Pinto, que diz ser a proprietária da terra onde há quase um século moram centenas de camponeses/as em dezenas de povoados e comunidades naquela região. Entre as comunidades presentes estavam: Três Irmãos, Estiva, Monta Barro, São Domingos, Parnaso, Limão e Queimadas. O objetivo da reunião foi para discutir a organicidade do grupo e suas estratégias de resistência e por fim, analisar a “proposta” feita pelo sr. Humberto Costa Pinto Neto que diz ser um dos proprietários da empresa. Além de várias lideranças locais, estiveram presentes dois agentes da CPT e duas lideranças sindicais.

 

Até o momento de iniciarmos o encontro, o clima foi de tensão e apreensão causada por representantes da Costa Pinto que souberam da reunião dos camponeses e tentaram infiltrar seus jagunços que logo foram reconhecidos e pacificamente expulsos da reunião, embora dois deles conhecidos por Raimundo e Maguila, tentaram com certa medida de arrogância e prepotência justificar suas presenças. Era um grupo de quatro homens e mais um que se identifica como Israel e afirma ser gerente da Costa Pinto, passou o dia em uma Pickup L200 de cor preta monitorando o movimento dos trabalhadores em cada uma das comunidades vizinhas. Em Monta Barro, segundo um grupo de mulheres da localidade, o sr. Israel, em tom de intimidação e ameaçador, teria dito para que não fossem à reunião. Durante toda à tarde de sábado Israel e seus jagunços ficaram de plantão em uma das casas que normalmente costumam visitar em Queimadas, observando quem chegava. O bando só se retirou do povoado quando já se aproximava do fim do encontro dos trabalhadores.

Durante a reunião muitos camponeses e camponesas se manifestaram através da fala. Havia uma presença expressiva de jovens interessados na causa. Em algumas falas os trabalhadores afirmaram que a presença constante dos representantes da Costa Pinto ou de seus jagunços, sobretudo quando há reunião, tem sido uma forma de pressão psicológica que gera insegurança e tensão. “Querem impedir a liberdade da gente”, disse um dos trabalhadores; “estão o tempo todo querendo criar terror”, disse outro. Ainda segundo os moradores, em várias ocasiões usam expressões com meias-palavras com a intenção de intimidar e desarticular a organização.

Em uma reunião no dia 14 de dezembro de 2011, na comunidade de Queimadas com os trabalhadores/as, com o representante do INCRA-MA José Lino, o Delegado Agrário do Maranhão, Rubem Sergio, o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Codó, António José e o Padre Bento, representante da CPT da diocese de Coroatá com o Sr. Humberto Costa Pinto Neto, quem se apresentou como atual dono da terra da Costa Pinto. O  sr. Humberto Costa Pinto Neto apareceu inicialmente muito arrogante procurando o pe. Bento, agente da CPT, e ao perceber a presença das demais autoridades que estavam naquele momento, o empresário logo mudou o tom da fala. Falou publicamente a fim de confundir os camponeses/as de que está interessado em fazer um acordo desde que deixem ele desenvolva seus projetos sem ser incomodados pelas famílias que moram na região. Esse discurso é antigo na família Costa Pinto, todos sabem que desde quando a empresa começou suas atividades com cana-de-açúcar em Aldeias Altas, foi esse discurso que usaram para enganar e expulsar várias as famílias de várias comunidades onde hoje é um imenso deserto verde de cana. Normalmente tentam convencer os trabalhadores de que estão trazendo o desenvolvimento, emprego e que todos podem ficar tranquilos que ninguém será despejado da terra. Quando a cana ou como agora estão pretendo plantar eucalipto cortarem o terreiro da casa e o fundo do quintal, ninguém conseguirá permanecer ali. É importante reconhecermos que os processos de proletarização dos camponeses ou a tentativa dessa, vem sendo ao longo da história um ato de violência extremamente grave contra as comunidades tradicionais. A intransigência do capital agrário tem gerado violência e exploração de mão-de-obra em grandes proporções e destruído costumes e valores culturais secularmente preservados pelas comunidades tradicionais.

As comunidades ameaçadas pela Costa Pinto estão se fortalecendo e se organizando. Neste encontro todos saíram muito entusiasmados e animados, porque várias questões foram explicadas aos trabalhadores. Falou-se da história e da longa caminhada da CPT junto às comunidades camponesas ameaçadas; falou-se do dever do Estado e dos direitos da classe trabalhadora previsto na lei; da importância da luta e da organização da classe; falou-se da resistência e dos desafios a serem superados. Os trabalhadores/as foram unanimes ao afirmar que a terra que estão reivindicando junto ao INCRA é a totalidade da área onde moram e trabalham há quase 100 anos. Após o momento místico final desse encontro observou-se o sinal no rosto de cada homem, mulher, jovem e criança, que o próximo encontro, provavelmente será três vezes sessenta.

Codó, 09 de janeiro de 2012.

Assina:

Comissão Pastoral da Terra - Diocese de Coroatá

Estiveram reunidos na tarde do dia 7 de janeiro de 2012, na comunidade Queimadas, a 60 km da sede do município de Codó – MA, cerca de 60 camponeses/as (sem contar as crianças), representando centenas de outros companheiros/as das comunidades ameaçadas pelos projetos de expansão do lucro da empresa Costa Pinto, que diz ser a proprietária da terra onde há quase um século moram centenas de camponeses/as em dezenas de povoados e comunidades naquela região. Entre as comunidades presentes estavam: Três Irmãos, Estiva, Monta Barro, São Domingos, Parnaso, Limão e Queimadas. O objetivo da reunião foi para discutir a organicidade do grupo e suas estratégias de resistência e por fim, analisar a “proposta” feita pelo sr. Humberto Costa Pinto Neto que diz ser um dos proprietários da empresa. Além de várias lideranças locais, estiveram presentes dois agentes da CPT e duas lideranças sindicais.
Até o momento de iniciarmos o encontro, o clima foi de tensão e apreensão causada por representantes da Costa Pinto que souberam da reunião dos camponeses e tentaram infiltrar seus jagunços que logo foram reconhecidos e pacificamente expulsos da reunião, embora dois deles conhecidos por Raimundo e Maguila, tentaram com certa medida de arrogância e prepotência justificar suas presenças. Era um grupo de quatro homens e mais um que se identifica como Israel e afirma ser gerente da Costa Pinto, passou o dia em uma Pickup L200 de cor preta monitorando o movimento dos trabalhadores em cada uma das comunidades vizinhas. Em Monta Barro, segundo um grupo de mulheres da localidade, o sr. Israel, em tom de intimidação e ameaçador, teria dito para que não fossem à reunião. Durante toda à tarde de sábado Israel e seus jagunços ficaram de plantão em uma das casas que normalmente costumam visitar em Queimadas, observando quem chegava. O bando só se retirou do povoado quando já se aproximava do fim do encontro dos trabalhadores.
Durante a reunião muitos camponeses e camponesas se manifestaram através da fala. Havia uma presença expressiva de jovens interessados na causa. Em algumas falas os trabalhadores afirmaram que a presença constante dos representantes da Costa Pinto ou de seus jagunços, sobretudo quando há reunião, tem sido uma forma de pressão psicológica que gera insegurança e tensão. “Querem impedir a liberdade da gente”, disse um dos trabalhadores; “estão o tempo todo querendo criar terror”, disse outro. Ainda segundo os moradores, em várias ocasiões usam expressões com meias-palavras com a intenção de intimidar e desarticular a organização.
Em uma reunião no dia 14 de dezembro de 2011, na comunidade de Queimadas com os trabalhadores/as, com o representante do INCRA-MA José Lino, o Delegado Agrário do Maranhão, Rubem Sergio, o vice-presidente do Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Codó, António José e o Padre Bento, representante da CPT da diocese de Coroatá com o Sr. Humberto Costa Pinto Neto, quem se apresentou como atual dono da terra da Costa Pinto. O  sr. Humberto Costa Pinto Neto apareceu inicialmente muito arrogante procurando o pe. Bento, agente da CPT, e ao perceber a presença das demais autoridades que estavam naquele momento, o empresário logo mudou o tom da fala. Falou publicamente a fim de confundir os camponeses/as de que está interessado em fazer um acordo desde que deixem ele desenvolva seus projetos sem ser incomodados pelas famílias que moram na região. Esse discurso é antigo na família Costa Pinto, todos sabem que desde quando a empresa começou suas atividades com cana-de-açúcar em Aldeias Altas, foi esse discurso que usaram para enganar e expulsar várias as famílias de várias comunidades onde hoje é um imenso deserto verde de cana. Normalmente tentam convencer os trabalhadores de que estão trazendo o desenvolvimento, emprego e que todos podem ficar tranquilos que ninguém será despejado da terra. Quando a cana ou como agora estão pretendo plantar eucalipto cortarem o terreiro da casa e o fundo do quintal, ninguém conseguirá permanecer ali. É importante reconhecermos que os processos de proletarização dos camponeses ou a tentativa dessa, vem sendo ao longo da história um ato de violência extremamente grave contra as comunidades tradicionais. A intransigência do capital agrário tem gerado violência e exploração de mão-de-obra em grandes proporções e destruído costumes e valores culturais secularmente preservados pelas comunidades tradicionais.
As comunidades ameaçadas pela Costa Pinto estão se fortalecendo e se organizando. Neste encontro todos saíram muito entusiasmados e animados, porque várias questões foram explicadas aos trabalhadores. Falou-se da história e da longa caminhada da CPT junto às comunidades camponesas ameaçadas; falou-se do dever do Estado e dos direitos da classe trabalhadora previsto na lei; da importância da luta e da organização da classe; falou-se da resistência e dos desafios a serem superados. Os trabalhadores/as foram unanimes ao afirmar que a terra que estão reivindicando junto ao INCRA é a totalidade da área onde moram e trabalham há quase 100 anos. Após o momento místico final desse encontro observou-se o sinal no rosto de cada homem, mulher, jovem e criança, que o próximo encontro, provavelmente será três vezes sessenta.
Codó, 09 de janeiro de 2012.
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