Confira Nota Pública divulgada pela CPT Araguaia-Tocantins sobre tiroteio no acampamento Vitória, Palmeirante (TO), na última quinta-feira, 27 de outubro.
No início da noite desta 5ª feira, dia 27 de outubro, pelas 19 horas, dois homens armados, aparentemente embriagados e drogados, adentraram o acampamento Vitória, atirando na direção do barraco do Sr Divino, xingando os sem-terra e procurando o Divino e o Noginel (tio do Divino e liderança do vizinho assentamento Santo Antônio). Reagindo ao tiroteio, uns dois ou três tiros saíram do lado dos acampados, para proteger o grupo já em estado de pânico. Os pistoleiros correram então para o outro lado da estrada, retornando à casa de uma assentada onde haviam sido vistos horas antes.
Pouco depois, pelas 21 horas, por ocasião de uma ronda de rotina no local, a Polícia encontrou os dois homens, feridos, e os encaminhou para Araguaína (TO) onde continuam internados. No início da tarde do mesmo dia, os mesmos dois homens tinham trocado tiros na Vila do Assentamento Paciência, situado a 6 km, provocando terror entre os presentes que resolveram chamar a Polícia (porém na chegada dos policiais, os mesmos haviam deixado o local).
O acampamento Vitória foi constituído em novembro de 2010 por 19 famílias sem-terra dentro do lote 84 da Gleba Anajá, vizinho ao lote 83, ambos situados em área presumidamente da União, em apoio à reivindicação da criação de um assentamento pelo INCRA. Situado à margem direita da rodovia TO 335, km 30, no sentido Colinas-Palmeirante, o local pertence a uma região com confusa situação fundiária: nos mesmos lotes já reivindicados por fazendeiros (Domingos Espindola e Major Ajuri (policial militar da Reserva)/lote 84; Chico Eduardo e Lazinho/lote 83, o INCRA está preparando outro parcelamento e a emissão de títulos pelo programa Terra Legal, beneficiando outros fazendeiros nunca vistos no local.
Cenas de violência promovidas por pistoleiros a mando provável destes pretensos donos já fazem parte da triste rotina enfrentada pelas famílias do acampamento: tiros de intimidação do pistoleiro “Mota” no dia 19 de dezembro de 2010; sessões de intimidação com tiros e movimentações noturnas repetidas a cada semana nos meses de fevereiro a maio; movimentação de veículos a baixa velocidade com passageiros xingando os acampados, etc. Essas situações foram levadas ao conhecimento das autoridades (Polícia, Ouvidoria Agrária, Ministério Público Federal) e foram incluídas na pauta da Audiência realizada no último dia 3 de agosto sob a presidência do Procurador da República, Dr. Victor Mariz.
Na oportunidade, foi também debatida a situação do vizinho assentamento Santo Antônio Bom Sossego, onde um conflito pesado havia surgido por conta da destinação ilegal pelo INCRA de vários lotes a três fazendeiros, em detrimento das famílias regularmente assentadas. Por força da intervenção da Procuradoria da República e da Ouvidoria Agrária, acionadas pelas famílias e pela CPT, este conflito está hoje em vias de resolução. Vale lembrar enfim que foi neste mesmo município de Palmeirante, no acampamento Bom Jesus, que foi assassinado, em 16 de outubro de 2010, o trabalhador Gabriel Vicente de Souza Filho.
Segundo informações colhidas hoje no final da tarde, dois veículos (L200 vermelho e S10 escuro) tendo a bordo sete homens armados e encapuzados estão rondando nas imediações do acampamento, com atitudes de explícita intimidação. Um dos veículos é dirigido pelo Major Ajuri e o outro pelo fazendeiro conhecido como Lazinho. Reforços de polícia foram solicitados pelas famílias aterrorizadas. A CPT acompanha a situação.
Consideradas como tendo forte potencial para o plantio da soja e do eucalipto, as terras da região têm suscitado enorme cobiça e frenética especulação, provocando intensificação da grilagem, múltiplos desmatamentos e inúmeras violências. É oportuno repetir aqui as palavras dos bispos católicos do Tocantins em sua nota pública, de 9 de junho passado, em reação às violências já registradas no município de Palmeirante: “Apegados na promessa do Deus da Vida, vimos manifestar nossa solidariedade com as famílias injustamente perseguidas. Apoiamos sua determinação em defender os recursos naturais e florestais contra a cobiça da grilagem. Confiamos na primazia da justiça e do direito: que sejam prontamente apuradas as atividades criminosas e incriminados seus perpetradores e instigadores. Rezamos ao Deus da Vida, Deus de Jesus Cristo e Pai dos pobres, para que a terra que dEle recebemos torne-se realmente terra de irmãos.”
Novamente, cobramos das autoridades – Polícia, Ministério público, Ouvidoria agrária, INCRA - todo empenho e agilidade possível neste momento: vidas estão em jogo.
Araguaína, TO, 28 de outubro de 2011
Comissão Pastoral da Terra Araguaia-Tocantins