Reunidos nos dias 5 e 6 de setembro, em Catanhede (MA), o clero da diocese de Coroatá, junto ao seu bispo, discutiu o aumento da violência do latifúndio e do agronegócio sobre diversas comunidades da região. Confira carta aberta divulgada após a reunião.
Carta aberta
às autoridades federais, estaduais e municipais do Maranhão
e a todo o Povo da Diocese de Coroatá
Nós, o clero da Diocese de Coroatá, junto ao seu bispo, Dom Sebastião Bandeira Coêlho, reunidos nos dias 05 e 06 de Setembro de 2011, na cidade de Cantanhede – MA, depois de termos refletidos a Palavra de Deus na frase do livro do profeta Ezequiel “Quanto a ti, eu te estabeleci como vigia da casa de Israel” (Ez 33,7), em que o profeta nos coloca como pastores que devem estar atentos na defesa do povo e não cúmplices e aliados dos que se aproveitam para realizar os seus interesses próprios, tratamos do doloroso assunto dos conflitos de terra e água, na nossa Diocese.
Diante do aumento da violência do latifúndio e agronegócio, que atinge dezenas de comunidades nos municípios da nossa Igreja de Coroatá, queremos juntar a nossa voz ao grito das comunidades que clamam por terra, justiça e cidadania.
Os Conflitos por terra e água, em nossa igreja local, envolvem diretamente 1.500 famílias, atingindo mais de 5.000 pessoas em 58 comunidades que vivem em situação de risco, ameaçadas de expulsão pelo latifúndio, de violência física e por ação de reintegração de posse, vivendo na insegurança e na espera da definição territorial, nos municípios de Codó, Timbiras, Peritoró, Alto Alegre, São Mateus, Cantanhede, Itapecuru-Mirim, Pirapemas, Arari, Vargem Grande e Presidente Vargas.
Questionamos o modelo de desenvolvimento, que visa unicamente o avanço econômico e fecha os olhos diante das conseqüências da destruição das famílias, do meio ambiente e do planeta todo.
Comprometemo-nos em ajudar a mudar o sistema oligárquico, no nosso estado e em muitos municípios, que trata o bem público como propriedade particular e consequentemente o coloca no último lugar do desenvolvimento humano do Brasil.
Vemos com preocupação que Projetos de Assentamentos - PAs são utilizados para o desvio de verbas, deixando os assentados abandonados e criando a opinião de que o modelo da reforma agrária não corresponde à necessidade do homem do campo.
Oferecemos de coração o nosso apoio e a nossa solidariedade ao povo sofrido que se organiza para defender os seus direitos.
Apoiamos as iniciativas da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em nível diocesano e regional, a Comissão dos Direitos Humanos da OAB e a Defensoria Pública do Estado que buscam justiça pelas vias legais.
Estamos unidos ao Acampamento Quilombola Negro-Flaviano, que está juntando o clamor organizado de Indígenas, Quilombolas, Assentados e Acampados de todo o Maranhão.
Apelamos às Autoridades constituídas, para que assumam ética e politicamente sua responsabilidade e seu compromisso na Defesa do Estado de Direito, ameaçado por tantas injustiças, arbitrariedades e ilegalidades.
Diante das inúmeras dificuldades, não podemos desanimar e nem perder a esperança, como São Paulo dizemos: "estamos em apuros, mas não desesperados, somos perseguidos, mas não desamparados, derrubados, mas não destruídos" (2 Cor. 4,8-9), porque contamos com a força da fé em Deus, na resistência dos pobres e sofredores e na solidariedade de tantas pessoas de boa vontade, que tem sede e fome de justiça.
Cantanhede, 06 de Setembro de 2011
Em nome do Clero e da Diocese
Dom Sebastião Bandeira Coêlho
Bispo Diocesano