Despejo violento no Ceará deixa quatro pessoas feridas e três presas. Várias famílias de sem terra foram retiradas do acampamento em Mauriti, por 50 soldados da PM, nesta segunda-feira, 11 de junho.
(Por Marcelo Matos - da Página do MST)Cerca de 50 soldados da Polícia Militar de Juazeiro chegaram ao município Mauriti, na região do Cariri, divisa com o estado da Paraíba, por volta das 11h30 da manhã desta segunda-feira (11/07).
Às 80 famílias acampadas na fazenda Lagoa Cercada, apresentaram a ordem de despejo. A ordem era explícita: retirar as famílias à força.
Ao mesmo tempo, em Fortaleza, cerca de 150 famílias ocupavam o prédio do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), na Avenida José Bastos, para pressionar a assinatura do convênio de assistência técnica para os assentamentos de reforma agrária.
Despejo
Sem tempo para pegar seus pertences, os trabalhadores e trabalhadoras logo entraram em desespero, situação agravada quando os policiais começaram a atear fogo nos barracos, sem permitir que as famílias retirassem seus pertences de dentro.
Um caminhão da Prefeitura Municipal de Mauriti, sob a administração do prefeito Isaac Gomes da Silva Junior (PT), foi emprestado para a empreitada.
Segundo informações dos acampados, quatro pessoas estão feridas. Três acampados foram presos sob acusação de desacato, ao tentarem impedir que a polícia queimasse o que tinha restado.
Um acampado que não quis revelar o nome com medo de represálias falou que os policiais ameaçaram os que tentavam salvar suas barracas, colocando as armas sobre suas cabeças.
A coordenação do MST do Ceará afirma que, até o momento, os três trabalhadores que foram presos continuam sem poder receber visitas dos familiares.
Essa foi a segunda reintegração de posse de acampamentos do Movimento, segundo a coordenação local.
“Há um compromisso do governo do estado em negociar. Essa ação que ocorreu é um ato inconstitucional. Onde está o respeito à vida das pessoas?” questiona Antonia Ivoneide, da Coordenação Estadual do MST.
Para o ouvidor agrário do estado, Vasconcelos Araújo, “esse tipo de ação não era esperada. Nem o secretário de Desenvolvimento Agrário esperava isso. Já estamos tomando as devidas providências”.
Hoje no Ceará vivem cerca de 3.000 famílias em 26 acampamentos espalhados em todas as regiões do estado.
Para o movimento, há uma represália do setor conservador do Poder Judiciário. “Perseguem e criminalizam a luta no campo, impedindo o acesso a terra como manda a constituição”, aponta Ivoneide.
O MST espera uma imediata intervenção do estado para desapropriar a área e libertar os acampados presos