Nota de Repúdio da Comissão Pastoral da Terra - RJ ao ataque violento contra trabalhadores rurais e homicídio qualificado no Acampamento Emiliano Zapata da FETAGRI-RJ. Mesmo em tempos de pandemia, 40 famílias foram vítimas da violência em São Pedro da Aldeia (RJ).
“Quem é você, que só fala bonito e não ajuda em nada,
que tem a alma seca e a terra abandonada?”
Leia a nota na íntegra:
NOTA DE REPÚDIO DA COMISSÃO PASTORAL DA TERRA - RJ
Ocorreu mais um ataque violento e covarde contra trabalhadores rurais no Rio de Janeiro, dessa vez no acampamento Emiliano Zapata, coordenado pela Federação dos Trabalhadores da Agricultura do Rio de Janeiro FETAGRI-RJ. O latifúndio fluminense e o aparelho de Estado fazem mais vítimas. O acampamento está situado na área rural do município de São Pedro da Aldeia, região histórica de intensa especulação imobiliária e de luta popular pelo direito à terra. Mesmo em tempos de pandemia, 40 famílias foram vítimas da violência e do conflito no campo por estarem em resistência, acampadas em lonas, na luta por um pedaço de terra para viver e produzir alimentos saudáveis. O Estado brasileiro não é somente conivente mas sim, é agente de promoção direta de violência legalizada contra os povos em seus territórios.
O aumento dos casos de violência no campo nas últimas décadas é reflexo de um projeto de desenvolvimento que não respeita os modos de vida nos territórios e por uma ausência de uma política de reforma agrária popular. A violência está intrinsecamente associada às velhas oligarquias e elites agrárias e seus colaboradores através dos aparelhos do Estado-burguês. A área de ocupação do acampamento é de uma antiga fazenda improdutiva de um suposto ex-dono – a habitual prática de grilagem –, com o apoio da força policial, que vem, desde dezembro de 2017 ameaçando as 40 famílias que vivem no local e que há dois dias se materializou na queima dos barracos dos acampados e seus pertences, matança do gado, violência contra trabalhadores/as rurais por pistoleiros e que terminou com o brutal assassinato de um acampado por um policial militar.
Vivemos o cenário de aumento dos conflitos sociais em razão da crise sanitária, econômica, social e sobretudo, crise política, tem acirrado ainda mais os problemas vivenciados pelos trabalhadores do campo. Além disso, o desmonte de instituições e órgãos de governo que deveriam promover a segurança de todas e todos, do campo e da cidade, a partir da garantia de políticas públicas expõe o descaso do Estado com a vida dos trabalhadores rurais. É inaceitável que em pleno século XXI, o latifúndio, outrora escravizador e assassino continuem ainda hoje ceifando a vida dos trabalhadores rurais, destruindo a natureza e com a conivência ou promoção do Estado.
Até quando a sociedade fluminense ficará calada com tamanha barbárie cometidas àqueles que reivindicam o direito de morar, produzir alimentos saudáveis e reproduzir suas vidas no campo? Quem alimenta as cidades não é quem planta? A cidade e sua organização estrutural, não vive sem o campo e seus sujeitos.
Diante do ocorrido e ao considerar um período tão sensível e turbulento de pandemia, a Comissão Pastoral da Terra – RJ se solidariza com a dor das famílias, se posiciona contrária a violação de direitos fundamentais das populações do campo e denuncia toda e qualquer tipo de conflito no campo. Sendo assim, exigimos, juntamente com as organizações camponesas, organizações de direitos humanos, movimentos sociais e sindicais do campo, justiça e a garantia na celeridade da reforma agrária imediatamente!
Isto posto, repudiamos todo ato de crueldade e violência contra acampamentos e assentamentos rurais, contra as comunidades tradicionais e originárias no Rio de Janeiro assim como por todo o território nacional, rejeitamos com veemência as atrocidades ocorridas pelo proprietário da Fazenda Negreiros no acampamento.
Rio de Janeiro, 11 de julho de 2020.