Cáritas brasileira escolheu a comunidade pelo seu histórico de resistência aos grileiros e preservação da vegetação nativa de Ponte do Mateus, na Bahia. O prêmio foi entregue no último dia 28, no auditório Dom Hélder Câmara da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Brasília (DF).
Por causa disso, os comunitários vivem atualmente aos sobressaltos, sob ameaça de grileiros. “Eles querem tomar à força a área de Ponte do Mateus porque o governo exige a criação de reservas legais para compensar o desmatamento que eles realizaram em suas propriedades. Eles derrubaram 100% da mata nativa de suas fazendas e, agora, para compensar a destruição e fazer as reservas legais exigidas pelo governo, querem tomar nosso território. Como a localidade é a única que se mantém preservada, querem avançar sobre ela”, explica Edite. Segundo relatos dos moradores, Ponte do Mateus é tão cobiçada que tem oito escrituras de proprietários diferentes. Edite disse que nunca morreu ninguém na região porque a comunidade nunca resistiu até as últimas conseqüências.
“Eles têm resistido de certa forma, porém, não tem partido para o enfrentamento. As comunidades que foram às últimas conseqüências não sobreviveram às chacinas. Em Luiz Eduardo Magalhães, por exemplo, a grilagem destruiu uma comunidade indígena. Outras comunidades que também foram ao enfrentamento desapareceram”, informa a representante da Agência 10envolvimento. Edite conta que, na década de 1980, quando se intensificaram a grilagem e outros crimes, tais como envenenamento de água potável, muitas comunidades foram expulsas de suas terras e outras foram totalmente dizimadas pelo avanço do agronegócio e latifundiários. Ela disse que até hoje a comunidade de Roda Velha de Baixo sofre as conseqüências dessas agressões, como, por exemplo, o envenenamento de água potável para pressionar as populações tracionais locais a abandonarem a região.
“Eles diziam que essa área tinha de ser desabitada porque era do Ibama. Os moradores morriam de medo do Ibama e, com isso, iam retirando-se, migrando para outros locais. Quem não ia embora para o Estado de Goiás, ficava recuado nas margens dos rios”, conta. As comunidades foram empurradas e hoje se encontram encurraladas nas beiras de rios. É o caso de Roda Velha de Baixo. “Essa localidade era a residência dos índios aricobés, que moravam ali porque já haviam sido expulsos, pelos coronéis, da localidade Missão do Aricobé, no município de Angical, nos séculos 19 e 20. Atualmente, esses remanescentes vivem acuados pela cultura de algodão.
Durante a festa de entrega dos prêmios, as três representantes do projeto afirmaram que os objetivos do Veredas Vivas é ter a comunidade como referencial de luta e resistência e produção. “As pessoas já sobreviviam do cerrado em pé, agora, a gente está qualificando. Fabricamos13 tipos de fitoterápicos. O bom disso é que todas as pessoas que usaram esses remédios se curaram. Temos garrafadas ou tinturas, xaropes, hormônios naturais, jatobás, culinária, e temos ainda a cultura local, coisa que a globalização vem dizimando. Temos visto também a opção política dos governantes e ainda assim estamos resistindo. Esse prêmio veio nos fortalecer porque com isso, e com a Agencia 10Envolvimento e a Cáritas de Barreiras, juntamente com a Diocese, está levando a outras comunidades.
