COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Munduruku dão continuidade ao processo de fiscalização da Terra Indígena Sawre Muybu, no Médio Tapajós, e denunciam devastação de madeireiros e garimpeiros.

Fonte: Assessoria de Comunicação do Cimi 

Imagem: Povo Munduruku

O povo Munduruku do Médio e do Alto Tapajós realizou, recentemente, a quinta etapa da autodemarcação da Terra Indígena (TI) Sawre Muybu, chamada pelos indígenas de território Daje Kapap Eipi. Os Munduruku afirmam ter encontrado aberturas e vários ramais de madeireiros e palmiteiros no interior da Terra Indígena, e expulsado os invasores da área, durante uma expedição de mais de cem quilômetros território adentro.

“Nós expulsamos dois grupos de madeireiros que invadiram o nosso território. Ficamos muito revoltados por ver as nossas árvores derrubadas e as nossas castanheiras como tora de madeira em cima de um caminhão”, relatam os Munduruku, em comunicado da Associação Indígena Pariri publicada nesta segunda (29).

A Associação afirma que os indígenas deram um prazo de três dias para que os invasores retirassem seu maquinário de dentro da terra. “E com muita pressão, eles passaram a madrugada toda retirando 11 máquinas pesadas, 2 caminhões, 1 quadriciclo, 1 balsa e 8 motos. Todos sem placa”, aponta a nota.

“Os invasores estão matando a nossa vida e derramando a sangue da nossa floresta. A nossa vida está em perigo”

Os indígenas também contam que tiveram que beber “água suja do rio Jamanxim”, em função da poluição provocada pelo garimpo ilegal.

“Sozinhos conseguimos expulsar madeireiros que nem o ICMBio, Ibama e Funai conseguiram”, criticam os Munduruku. “Os invasores estão matando a nossa vida e derramando a sangue da nossa floresta. A nossa vida está em perigo”.

“Será que vai precisar morrer outros parentes, como aconteceu com a liderança Wajãpi, para que os órgãos competentes atuem?”

Em 2014, o povo Munduruku iniciou a autodemarcação da TI Sawre Muybu, cujo relatório circunstanciado de identificação e delimitação foi publicado pela Fundação Nacional do Índio (Funai) apenas em 2016, após muita pressão dos indígenas. No mesmo ano, o Ibama arquivou o processo de licenciamento da Usina Hidrelétrica (UHE) São Luís do Tapajós, que seria construída no curso médio do Rio Tapajós e afetaria diretamente o território Munduruku, alagando inclusive algumas aldeias. Apesar do arquivamento, os planos de construção da hidrelétrica seguem presentes e ainda ameaçam demarcação da área.

Nos últimos anos, os indígenas vêm lutando contra os grandes projetos e denunciando as invasões de madeireiros, garimpeiros e palmiteiros na Terra Indígena. “Será que vai precisar morrer outros parentes, como aconteceu com a liderança Wajãpi, para que os órgãos competentes atuem?”, questionam os Munduruku.

“Vamos continuar mostrando a nossa resistência e a nossa autonomia. Estamos aqui defendendo o que é nosso e não dos pariwat”

Leia a nota na íntegra:

Comunicado dos Munduruku

A nossa autodemarcação e defesa do nosso território continua

Nós o povo Munduruku do Médio e Alto Tapajós continuamos a autodemarcação do nosso território Daje Kapap Eipi, conhecido como Terra Indígena Sawre Muybu. Nós andamos mais que 100 km no nosso território, na terra que já possui o Relatório Circunstancial de Identificação e Delimitação publicado no diário oficial desde abril de 2016. Organizados em 5 grupos– os guerreiros Pusuru Kao, Pukorao Pik Pik, Waremucu Pak Pak, Surup Surup e a guerreira Wakoborun– continuamos defendendo o nosso território sagrado. Assim sempre foi a nossa resistência. Como nossos antepassados sempre venciam as batalhas e nunca foram atingidos pelas flechas dos inimigos, nós também continuamos limpando os nosso picos, fiscalizando, formando grupos de vigilância e abrindo novas aldeais, como Karoebak no Rio Jamanxim.

 

Durante essa quinta etapa da autodemarcação e nossa retomada, nós encontramos novas aberturas e vários ramais de madeireiros e palmiteiros dentro da nossa terra. Nós expulsamos dois grupos de madeireiros que invadiram o nosso território. Ficamos muito revoltados por ver as nossas árvores derrubadas e as nossas castanheiras como torra de madeira em cima de um caminhão. E nós sabemos que quando retiram madeira, vão querer transformar nossa terra em um grande pasto para criar gado. Por isso, demos um prazo de 3 dias para os invasores retirarem todo o equipamento deles. Nós estávamos armados com nossos cânticos, nossa pintura, nossas flechas e a sabedoria dos nossos antepassados. E com muita pressão, eles passaram a madrugada toda retirando 11 máquinas pesadas, 2 caminhões, 1 quadriciclo, 1 balsa e 8 motos. Todos sem placa. Na retomada, andamos 26 km vigiando os ramais que os madeireiros fizeram no nosso território e bebendo água suja do rio Jamanxim que está poluída pelo garimpo. Sozinhos conseguimos expulsar madeireiros que nem o ICMBIO, IBAMA e FUNAI conseguiram. E sabemos que dentro da Flona de Itaituba II, tem pista de pouso.

 

Os invasores estão matando a nossa vida e derramando a sangue da nossa floresta. A nossa vida está em perigo. Mas por isso, nós vamos continuar mostrando a nossa resistência e a nossa autonomia. Somos capazes de cuidar e proteger o nosso território para nossos filhos e as futuras gerações. Ninguém vai fazer medo e ninguém vai impedir porque nós mandamos na nossa casa que é nosso território. Estamos aqui defendendo o que é nosso e não dos pariwat. Por isso sempre vamos continuar lutando pelas demarcações dos nossos territórios. Nunca vão nos derrubar. Nunca vamos negociar o que é sagrado.

 

Será que vai precisar morrer outros parentes, como aconteceu com a liderança Wajãpi, para que os órgãos competentes atuem?

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