COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

A atividade teve início com a palavras de Dom Leonardo Steiner, secretário geral da CNBB, que destacou a manutenção da violência no campo. Já Dom André, presidente da CPT, chamou a atenção para a importância do trabalho de documentar todos os anos esses dados e da significativa denúncia que eles representam.

(texto: Cristiane Passos / foto: Elvis Marques - CPT Nacional)

Carlos Walter Porto-Gonçalves, professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), destacou a importância do trabalho de utilidade pública que a CPT faz com o relatório Conflitos no Campo Brasil, desde 1985. “A qualidade e o rigor que esses dados são tratados são inquestionáveis”, disse ele.

“Do ponto de vista epistemológico é um momento de abertura de compreensão da realidade da sociedade. É o contraponto da ideia de que o agro é tudo. As contradições e as dimensões que não aparecem no dia a dia. O conflito pela água em Correntina, é a mudança no uso da terra. As populações sempre usaram a água da superfície e já não podem mais usar. A população em desespero ocupa uma fazenda de ponta e quebra tudo. Como dizem os zapatistas, há raivas que são dignas. A água tinha que ter um destino digno”, analisou o professor.

De acordo com os dados da CPT, mais de 60% dos conflitos pela água foram protagonizados por mineradoras. 33 conflitos, 17%, aconteceram no contexto das hidrelétricas. Outros 26 conflitos, 13%, em áreas dominadas por fazendeiros. No contexto dos conflitos pela água, em área de mineradora, registrou-se um assassinato em  Barcarena, Pará. Fernando Pereira, liderança da Comunidade de Jardim Canaã, fortemente impactada pela operação da mineradora Hydro Alunorte, e membro da Associação dos Caboclos, Indígenas e Quilombolas da Amazônia - Cainquiama, foi assassinado a tiros no dia 22 de dezembro de 2017.  A organização estava envolvida na denúncia de conflitos fundiários na região e no combate aos crimes socioambientais protagonizados pela Hydro, que explora bauxita para produção de alumínio e tem um rol extenso de ilícitos cometidos ao longo de mais de três décadas. Minas Gerais concentrou o maior número de conflitos pela água, 72 ocorrências, seguido da Bahia com 54.

Adalgisa Maria de Jesus, a dona Nena, trouxe o depoimento do levante popular de Correntina, na Bahia. De um povo que se revoltou por ver seu bem mais precioso ser usurpado, a água. “Água é a vida de cada um e cada uma de nós. Correntina ficou conhecida depois daquele 2 de novembro de 2017, pouca gente conhecia. O povo de Correntina está perdendo esse bem precioso que é a água. As comunidades por conta da falta da água começaram a não conseguir mais fazer o engenho funcionar. Começou a ter apagão e a faltar energia também. E perceberam que era quando a fazenda Igarashi funcionava a pleno vapor, que a cidade ficava desabastecida. Isso não está certo. Além disso ela tinha um piscinão que se enchesse, não correria mais água dentro do rio. O povo não aguentou e foi lá e quebrou os diques que estavam secando o rio. Ninguém vai morrer de sede nas margens do rio Arrojado e ninguém vai morrer parado, sem lutar!”.

 “Se tem tanto conflito isso indica que tem problemas, apesar de muitos dizerem que o campo não é mais tão importante no cenário nacional”, destacou o professor Carlos Walter. Desde 2015 há um crescimento exponencial da violência no campo. “Eu analisei o período de 2015 a 2017 como um período de ruptura política, e ao compará-lo aos anteriores, cheguei à média de homicídios de 60,6. Entre os anos de 2011 a 2014, durante o governo Dilma, a média foi de 33,7. Portanto, estamos em um momento muito mais violento”.

Para a subprocuradora da República, Débora Duprat, “a ruptura do pacto constituinte de 2015, com a ascensão do governo Temer já iniciou suas ações levando as questões agrárias para a Casa Civil, tirando a expertise de quem sempre trabalhou com esses temas e levando para a esfera política as questões técnicas e específicas do campo. Da mesma forma fizeram com a Funai, colocando em risco o trabalho especializado que se precisa ter com essas questões”.

Para Polliane Barbosa, do acampamento Hugo Chávez, no Pará, despejado em dezembro de 2017, e dirigente nacional do MST no estado, há um aumento das opressões sobre todos trabalhadores brasileiros em geral, sobretudo contra camponesas e camponeses que lutam por terra, água e liberdade. Para ela, os números contidos no relatório da CPT evidenciam a luta que ela e tantos trabalhadores e trabalhadoras vivem em seu dia a dia no Brasil. "São dados que quantificam uma realidade concreta da qual trabalhadores do campo tem sofrido no nosso país. Eles partem da concretude da luta por terra!".

Ao analisar os dados de violência, Antônio Canuto, membro fundador da CPT, destacou que é possível identificar que o lado mais “macabro” de 2017 foram os massacres. Do total de mortos, 31 pessoas morreram em cinco massacres pelo país. 71 assassinatos foi o maior número registrado desde 2003, quando se computaram 73 vítimas. “É 16,4% maior que em 2016, quando houve o registro de 61 assassinatos, praticamente o dobro de 2014, que registrou 36 vítimas”, apontou Canuto.

 

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