“Temos um processo de sucateamento: salas mofadas e com umidade, a odontologia não funciona há nove meses e apenas um carro é usado para atender as aldeias”, destaca Leandro Wassu Cocal sobre o Pólo Base de Saúde no município de Joaquim Gomes (AL), ocupado pelos Wassu Cocal em protesto contra abandono da saúde indígena.
(Fonte/Foto: Cimi).
A precariedade no atendimento à saúde indígena levou o povo Wassu Cocal a ocupar a unidade do Pólo Base de Saúde nesta segunda-feira, 19, no município de Joaquim Gomes (AL). “Temos um processo de sucateamento: salas mofadas e com umidade, a odontologia não funciona há nove meses e apenas um carro é usado para atender as aldeias”, destaca Leandro Wassu Cocal, conselheiro regional de saúde. Os indígenas afirmam que se nada for feito, novas ações ocorrerão na capital Maceió.
O protesto tem como finalidade chamar a atenção das autoridades públicas e órgãos competentes para os problemas enfrentados pelo povo. “Queremos a garantia de uma saúde de qualidade. Queremos que venham até aqui ver o que está se passando”, diz o conselheiro. O indígena explica que as instalações não permitem o trabalho dos profissionais, deixando os Wassu Cocal sem atendimentos básicos.
Zennus Dinys Feitosa, missionário do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) do Regional Nordeste, afirma que ao se reunir com os indígenas e técnicos constatou “o descaso da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena). Condicionadores de ar quebrados, portas quebradas e banheiros numa situação insalubre. O médico atende em condições insustentáveis. A psicóloga não possui uma sala para atender com privacidade”.
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Durante o período do Carnaval, um paciente que necessita de hemodiálise não pôde realizar o procedimento por falta de transporte; o veículo do Pólo Base quebrou e não foi levado para reparos. “Os motoristas avisaram a empresa terceirizada, mas como ela responde processo judicial por suspeita de fraudes no contrato, os carros não são liberados”, explica o cacique Edmílson Wassu Cocal.
A comunidade questiona ainda a forma como o povo é tratado pela coordenação do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI). “Para outros povos, que têm entre 80, 300 e 900 pessoas, são disponibilizados dois carros ou mais. Wassu que tem mais de 2300 pessoas, apenas um carro para atender toda demanda – e que agora está quebrado”, afirma o cacique.
O consultório odontológico funcionava numa sala com mofo e fungos tomando conta do teto e das paredes. Um risco para a saúde de pacientes e profissionais. Para tentar solucionar o problema, a comunidade conseguiu uma clínica móvel, que se encontrava em Xukuru Kariri, em Palmeira dos Índios. O que inicialmente foi motivo de alegria, tornou-se mais um problema em uma longa lista.
“Devido às constantes quedas de energia, o local não foi projetado para suportar a ligação dos equipamentos, a clínica móvel teve a parte elétrica queimada e os profissionais que vieram para solucionar o problema, não conseguiram solucionar”, diz o missionário do Cimi. Com isso, mais um equipamento que poderia garantir o direito à saúde aos Wassu está largado no pátio do Pólo Base, assim como os próprios indígenas.