COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Na última segunda-feira (31), ao ser chamada pela própria comunidade para defender de um invasor das terras quilombolas, os militares responderam trazendo o Batalhão de Choque, ameaçando prender todos os negros no local e levando quatro presos no camburão até a delegacia.

 

(Fonte: Portal Vermelho / Imagem: Lucas Bois – Jornalistas Livres).

A Polícia Militar de Minas Gerais se expôs novamente ao ridículo, agredindo e prendendo 4 moradores do Quilombo dos Luízes, na região Oeste de Belo Horizonte (MG). Na última segunda-feira (31), ao ser chamada pela própria comunidade para defender de um invasor das terras quilombolas, os militares responderam trazendo o Batalhão de Choque, ameaçando prender todos os negros no local e levando quatro presos no camburão até a delegacia.

“O delegado deu uma gargalhada na nossa cara quando dissemos que éramos quilombolas. Eu respondi que ele respeitasse nossa comunidade. Ele disse que calássemos a boca ou ia dar voz de prisão para todo mundo”, conta Liliana Lunes, uma das representantes da comunidade que foi presa. Liliana vive há 36 anos na terra disputada. Segundo ela, a PM se recusou a ver os vários documentos que garantem a permanência dos quilombolas nas áreas em conflito.

“Ficamos sensibilizados com a comunidade e indignados com essas injustiças”, disse Frei Gilvander Luís Moreira, da Comissão Pastoral da Terra de MG. “A Polícia Militar chegou aqui, prendeu várias pessoas, levou para a delegacia, sem decisão judicial para isso, só para dar cobertura a um pretenso dono disputando um território quilombola”.

Quilombo de Luízes

“O Quilombo de Luízes é um dos raros casos de comunidades tradicionais que possui título, ou seja, há documentação reforçando o reconhecimento identitário dessas pessoas”, afirmou o antropólogo João Paulo Araujo. O quilombo atualmente é habitado por mais de 120 pessoas e conta com registros desde 1896, antes mesmo da fundação da cidade de Belo Horizonte. No entanto, conforme a expansão da metrópole, a cidade invadiu as terras dos ancestrais. Hoje, os territórios são alvo de vários processos e conflitos, intensificados sobretudo pela alta especulação imobiliária na região.

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O Brasil tem mais de 5000 comunidades quilombolas, mas há poucos registros de quilombos urbanos. Segundo o antropólogo, isso ocorre porque as próprias comunidades se afastam das cidades, buscando fugir das perseguições dos grandes centros. Com os anos, construtoras tomam o território e constroem casas, edifícios ou estacionamentos sem pudor ou respeito pelos proprietários negros.

“Isso aqui era a horta da vovó”, diz Maria Luzia Sidonio, de 71 anos, apontando para a atual faculdade de farmácia da Universidade Newton Paiva. “Quem chama a gente de invasores é porque não conhece a história da terra que pisa e mora”, diz Dona Luzia, que nasceu, cresceu e vive no Quilombo. “Até hoje as madames que estão dentro de prédios nossos invadidos, quando vêem nossas crianças brincando na rua descalços e sem camisa, dizem que ‘tem que tirar esses favelados daqui’ porque estamos desmerecendo ‘suas’ propriedades”.

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