No dia 5 de julho, o pescador e agricultor de vazante Zé Menino foi mais uma vítima dos inúmeros casos de violência no campo, que em 2017, até o momento, somam 46 assassinatos, segundo os dados registrados pela Comissão Pastoral da Terra. A missa de sétimo dia do trabalhador será realizada às 18 horas de hoje na comunidade da Boa Vista, no município de Ilha Grande, no Piauí.
(Fonte/Imagem: Movimento de Pescadores e Pescadoras Artesanais)
Vaqueiros de fazenda próxima de onde os pescadores plantavam iniciaram um tiroteio depois que Zé Menino e seu irmão foram expulsar o gado que estava invadindo a plantação deles. Zé Menino, ainda ferido, atirou em autodefesa num dos vaqueiros, que foi hospitalizado. Há anos a área era usada por algumas famílias da Boa Vista que plantam numa croa (ilha).
O conflito, que dura cinco anos, teve outros episódios de violência. O vaqueiro já havia, inclusive, posto fogo na plantação dos irmãos. Ultimamente o gado do fazendeiro vinha entrando no roçado dos pescadores, porque tinha se tornado uma prática comum dos funcionários da fazenda abrir o portão para o gado pastar fora. O vaqueiro, segundo informações, é conhecido por ter cometido outros assassinatos.
Os moradores da comunidade ainda fizeram um Boletim de Ocorrência em Araioses (MA), município onde aconteceu o conflito, mas até o momento a polícia civil não tomou nenhuma providência. Os vaqueiros continuam ameaçando as famílias da Boa Vista, proibindo-as de voltarem à área para colher a mandioca ou continuar plantando.
O caso de Zé Menino corrobora os dados trazidos recentemente pelo dossiê divulgado no dia 4 de julho pelo Comitê Brasileiro de Defensoras e Defensores de Direitos Humanos (CBDDH), que revela que pelo menos 66 defensores dos direitos humanos foram assassinados no Brasil em 2016. As regiões Norte e Nordeste concentram a maior parte dos casos, e os conflitos por terra é a principal causa da morte dos ativistas.
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Intitulado “Vidas em luta: criminalização e violência contra defensoras e defensores de direitos humanos no Brasil”, o documento atribui o crescimento desse tipo de violência, no país, ao "cenário de golpe de estado, com retirada de direitos, criminalização, esvaziamento político e financeiro de órgãos como o Incra e a Funai".
No Nordeste, foram 24 assassinatos, com a maioria dos casos registrados no estado do Maranhão, com 15 mortos. Ali, além do conflito entre trabalhadores rurais e latifundiários, é marcante também a disputa entre estes últimos e as comunidades tradicionais como os pescadores, os povos indígenas e quilombolas.
Outro caso de violência contra os pescadores no Maranhão aconteceu na comunidade do Cajueiro, em São Luís, no Maranhão, quando funcionários da construtora WTorres tentaram invadir a casa dos pescadores para ameaçá-los e expulsá-los de suas casas.