COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Acordo foi firmado entre o estado e a Comissão de Direitos Humanos (CIDH). Henrique foi assassinado com requintes de crueldade e ninguém foi punido.

(Portal G1 MT)

Trinta e quatro anos depois do assassinato do agricultor Henrique José Trindade, a mulher e os cinco filhos dele irão receber US$ 105 mil a título de reparação de danos morais e materiais sofridos com a morte brutal da vítima, na comunidade Capão Verde, em Alto Paraguai, a 219 km de Cuiabá, na década de 80.

O pagamento deve ser feito com base em um acordo firmado entre a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) e o governo de Mato Grosso para a solução do caso que tramita na CIDH desde 1998, quando o governo do estado foi denunciado por violação aos direitos humanos, em decorrência da morte do agricultor. Na época, a denúncia foi feita pelo Centro pela Justiça e o Direito Internacional (CEJIL), pelo Centro de Direitos Humanos Henrique Trindade (CDHHT) e pela Comissão Pastoral da Terra (CPT).

Com base nesse acordo, foi elaborado um projeto de lei para que a retirada do valor de reparação da família dos cofres públicos fosse avalizada pela Assembleia Legislativa. O projeto foi aprovado em outubro deste ano e deve ser sancionado pelo governador Pedro Taques (PSDB) nesta terça-feira (29), na presença da família da vítima e de representantes do Conselho Estadual de Direitos Humanos e da Pastoral da Terra. Por se tratar de um acordo internacional, o pagamento aos familiares deverá ser feito em dólar.

Henrique Trindade foi morto por seis pessoas, entre elas policiais, supostamente a mando do então delegado de polícia que atuava na região, atendendo aos interesses de um fazendeiro latifundiário. Um filho dele, que à época tinha 15 anos, também foi ferido.

Os criminosos entraram na propriedade da vítima à noite, fizeram ameaças e, em seguida, mataram Henrique, no dia 4 de setembro de 1982. O corpo dele foi encontrado no dia seguinte por moradores da região, a aproximadamente 1 km da residência dele. Estava com um olho arrancado, outro furado e o lábio inferior cortado. Também tinha três marcas de bala nas costas. No entanto, o laudo pericial da morte citou apenas os ferimentos causados pelos tiros.

Segundo o projeto, Henrique era posseiro que vivia do cultivo agrícola de terras devolutas naquela região. Houve um conflito fundiário no fim da década de 80. Naquela época, foram realizadas reuniões com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra-MT) e na Assembleia Legislativa a respeito dessa disputa.

O processo movido pelo Ministério Público Estadual (MPE) sobre o crime prescreveu e ninguém foi punido. Em 2006, a Justiça de Diamantino, a 209 km de Cuiabá, declarou a extinção da punibilidade dos acusados do assassinato por prescrição.

No entanto, o caso não caiu no esquecimento graças aos órgãos de defesa dos direitos humanos. Depois de reuniões com a Secretaria Especial de Direitos Humanos do Ministério das Mulheres, da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, da Presidência da República, houve um consenso, por meio do chamado Acordo de Solução Amistosa para encerramento do caso.

O estado de Mato Grosso se comprometeu a assegurar a reparação material, social e moral, tendo como beneficiários a vítima Juvenal Ferreira Trindade, que foi baleado pelos assassinados do pai na data do crime, além da viúva da vítima, Odomila Paimel Ribeiro e os filhos Emiza Ferreira Trindade, Creuza Ferreira Trindade, Eide Ferreira Trindade e Edinei Paimel da Trindade, e Juvenal.

Além dos US$ 15 mil a cada um deles, o governo ainda deverá conceder pensão legal vitalícia no valor de um salário mínimo à mulher de Henrique. Juvenal, que à época tinha 15 anos, deverá receber mais US$ 15 mil.

Save
Cookies user preferences
We use cookies to ensure you to get the best experience on our website. If you decline the use of cookies, this website may not function as expected.
Accept all
Decline all
Read more
Analytics
Tools used to analyze the data to measure the effectiveness of a website and to understand how it works.
Google Analytics
Accept
Decline
Unknown
Unknown
Accept
Decline