COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Sequestro da jovem faz parte do contexto de invasões, violências e ameaças enfrentadas pelo povo Ka’apor em seu território tradicional no Maranhão.

 

(Fonte: Socioambiental | Imagem: Cimi)

Desaparecida desde fevereiro, a jovem indígena Iraúna Ka’apor, 14, ainda não foi encontrada. Indígenas criticam a inação do governo para encontrar a adolescente, sequestrada na Terra Indígena (TI) Alto Turiaçu, no noroeste do Maranhão. Ela foi avistada pela última vez em um acampamento de madeireiros, no Pará, em fevereiro (saiba mais).

Em carta divulgada na semana passada e dirigida às autoridades, os Ka’apor pedem que sejam tomadas providências sobre o caso, além de vigilância e fiscalização de seus territórios e prisão dos assassinos de indígenas na região. O documento também denuncia o que seria a ação de funcionários da Fundação Nacional do Índio (Funai) e de outros órgãos de governo para enfraquecer a organização dos índios.

“Lutamos sozinhos durante esses anos, enfrentamos e expulsamos madeireiros. Por causa disso, mataram cinco lideranças, agrediram e atiraram em nossos guardas florestais, invadiram duas aldeias, madeireiros sequestraram Iraúna Ka’apor, estão ameaçando matar mais de 8 lideranças e apoiadores de nossa luta em defesa de nosso território”, escrevem os indígenas em outro trecho do documento (leia a carta).

De acordo com uma liderança da TI Alto Turiaçu que prefere não se identificar, em uma reunião promovida pelo procurador da República no estado do Maranhão Alexandre Silva Soares, no dia 13/7, em São Luís, os representantes da Secretaria de Segurança Pública e da Secretaria de Direitos Humanos do estado disseram não estar cientes do sequestro.

“As duas secretarias falaram que nunca tinham tomado conhecimento do fato. Dr. Alexandre perguntou: ‘como?’ Fez referência à nota do ISA e eles nem responderam. Depois se comprometeram a se empenhar no caso, mas nem apresentaram até hoje nenhum resultado”, diz.

Além das secretarias estaduais, a Polícia Federal (PF) e a Fundação Nacional do Índio (Funai) foram chamadas para a reunião no Ministério Público Federal (MPF), mas não compareceram. Segundo a mesma liderança, a PF justificou a ausência devido à Operação Hymenaea, realizada em conjunto com o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), iniciada no dia 14/7.

Os Ka’apor sofrem represálias por lutar ativamente contra as invasões de seus territórios e a retirada ilegal de madeira. Desde outubro de 2013, os indígenas fortaleceram ações próprias de fiscalização e proteção do território. A partir da destruição de antigos ramais de extração ilegal de madeira, os Ka’apor criam as “áreas protegidas”, onde vivem entre seis e oito famílias indígenas. Em uma das ações de represália, o líder Eusébio Ka’apor foi assassinado, em abril do ano passado, na TI Alto Turiaçu.

Os ataques persistem por décadas e incluem assassinatos de lideranças, incêndios criminosos e atentados a tiros. 

Operação Hymenaea

De acordo com a assessoria do Ibama, o objetivo da Operação Hymenaea era combater grupo criminoso ligado à extração ilegal de madeira na TI Caru – onde vivem o povo Guajajara e o povo isolado Awa Guajá – e na Reserva Biológica (Rebio) do Gurupi, no Maranhão. Na ação, foram destruídas 21 serrarias. Além disso, os agentes cumprem 11 mandados de prisão preventiva, dez de prisão temporária e 56 de busca e apreensão, além da suspensão da certificação de 44 empresas madeireiras.

A extração ilegal de madeira ocorre em todas as áreas protegidas da região do Gurupi, composta pelas TIs Alto Rio Guamá, Awa, Caru e Alto Turiaçu, além da Rebio do Gurupi. Todas as TIs já chegaram ao último estágio do processo de demarcação, a homologação. Em março, os órgãos realizaram outra ação na região, a Operação Lignum.

“A gente achou positiva essa ação para prender os agressores. Esse pessoal que só pensa em roubar, matar nossa floresta, roubar nosso alimento de nossa casa que é a floresta. Eles têm de continuar fazendo sempre essas ações”, diz o líder indígena. Mesmo assim, ele mostra-se preocupado com que os madeireiros podem fazer agora, depois da operação, e informa que as ameaças costumam aumentar depois de ações do tipo.

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