COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Na madrugada de ontem (19/10) a cacica da comunidade Guarani da Terra Indígena (TI) Morro dos Cavalos, município de Palhoça, em Santa Catarina, sofreu o sexto atentado deste ano. Uma pessoa disparou dez vezes contra a escola e as casas que ficam no seu entorno.

 

(Fonte: Cimi)

Com a arma em uma mão e uma lanterna na outra, o desconhecido cruzou, caminhando, a passarela sobre a BR 101 que corta a terra indígena. Se não bastassem os tiros, gritou palavrões contra os Guarani e prometeu matar a cacica Kerexu Yxapyry (Eunice Antunes).

Alguns Guarani que moram próximo à escola chegaram a sair de suas casas para ver o que estava acontecendo, e o invasor apontou a lanterna em direção a eles e atirou. Os indígenas, com medo dos disparos, retornaram para suas casas, mas continuaram observando de dentro das mesmas. O invasor, logo depois, desceu em direção ao muro que fica na frente da casa da cacica e foi embora.

A comunidade se reuniu na parte da manhã e decidiu registrar Boletim de Ocorrência na Polícia Federal.

Os atentados se tornaram frequentes. Há cerca de três meses os indígenas sofreram várias ameaças, o que fez o Ministério Público Federal (MPF) a solicitar a presença da Polícia Militar através de rondas na aldeia para evitar qualquer violência. No entanto, essas rondas foram paralisada no final do mês de agosto.

A comunidade indígena está vivendo com medo e insegura e pede para as autoridades competentes que investiguem todos os atos de violência e puna os culpados.

Histórico das violências

Desde que assumiu o cacicado em 2012, a cacica Eunice e membros da comunidade Guarani de Morro dos Cavalos têm sofrido com as ameaças e a destruição do patrimônio da comunidade indígena.

Em 19 de fevereiro de 2013, após uma manifestação dos que são contrários à demarcação da terra indígena, a adutora de água que abastece a comunidade foi destruída, sendo picotada com 38 cortes, numa extensão de 200 metros. Na época, membros da comunidade indígena viram sete não indígenas rondando a comunidade.

Em janeiro de 2014, a comunidade indígena sofreu mais uma violência, novamente a adutora de água que abastece a comunidade indígena foi cortada. No dia 15 de dezembro de 2014, mais uma vez a adutora foi cortada. 

No início de 2015, as ameaças de morte e perseguição à cacica Eunice retornaram com bastante intensidade, movidas pela decisão judicial que reconheceu a terra como sendo dos Guarani.

No início do mês de maio, indivíduos não identificados passaram a invadir a terra indígena de madrugada, rondando e vigiando a casa da cacica. São indivíduos com motos ou a pé que chegam de madrugada e passam a noite rondando a casa. Cinco episódios foram registrados:

O primeiro episódio ocorreu na madrugada do dia 16 para o dia 17 de maio, quando uma moto com duas pessoas parou diante da casa da cacica, fazendo bastante barulho com a aceleração do motor, por volta das três horas da manhã. A cacica abriu a janela e se deparou com pessoas estranhas, e logo fechou a janela. Essas pessoas ficaram um tempo ainda ali escondidas na sombra, sem que pudessem ser identificadas. Eles não conseguiram se aproximar da casa por causa dos cachorros. Passados algum tempo, os dois indivíduos foram embora, por uma estrada que passa por detrás da casa da cacica, no sentido da região do Massiambu.

segundo episódio ocorreu na madrugada do dia 19 do mesmo mês, quando novamente pessoas se aproximaram da casa da cacica, desta vez a pé, vindas da mesma estrada do Massiambu.

terceiro episódio aconteceu na madrugada do dia 23 para 24 de maio, quando, novamente, foram ouvidos vozes e passos.

quarto episódio ocorreu no dia 1o de junho, em que sete pessoas cercaram o indígena Ivalino, tio da Cacica, e avisaram que "querem pegar a “Nice” (Eunice), ou seu irmão e que a comunidade deveria evitar ficar circulando à noite, pois a partir de então eles passariam a vigiar aquele trecho da estrada. Um Boletim de Ocorrência foi registrado na Polícia Federal.

quinto episódio ocorreu na madrugada do dia 7 de junho. A cacica e sua família dormiam, quando foram acordados com o barulho de alguém tentando abrir a janela do quarto. Os invasores fugiram ao perceber que os moradores da casa tinham acordado.

 

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