COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Nessa área retomada no MS, enquanto eram atacados a tiros, os cerca de 60 indígenas do acampamento se dispersaram, em fuga. Na correria, duas crianças, uma de 11 anos e outra de 10 anos, desapareceram. Com o ataque, barracos, roupas e demais objetos dos indígenas foram incendiados.

 

(Fonte: Cimi)

O presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara Federal, deputado Paulo Pimenta, esteve nesta quinta-feira, 25, nas áreas retomadas pelos Guarani e Kaiowá no cone sul do Mato Grosso do Sul e confirmou o desaparecimento de duas crianças após o ataque de 30 indivíduos armados, em ação paramilitar, contra o acampamento instalado pelos indígenas na fazenda Madama, incidente no tekoha – lugar onde se é – Kurusu Ambá. De acordo com o parlamentar, mais ataques podem ocorrer nas próximas horas.

Em mensagem dirigida ao ministro da Justiça José Eduardo Cardozo, o presidente da Comissão pediu de forma urgente a presença da Força Nacional na região. Cardozo afirmou que esperava pela formalização da solicitação por parte do governador do estado, Reinaldo Azambuja. No entanto, um documento enviado por Azambuja em maio já pedia o apoio das tropas federais para a manutenção da segurança na região. Na base da Força Nacional, Pimenta ouviu que a patrulha só poderia ser realizada com ordens do ministro da Justiça. Uma última informação, repassada pelo ministro de Direitos Humanos Pepe Vargas, dá conta de que a autorização teria sido emitida por Cardozo na noite desta quinta.    

Conforme o presidente da Comissão, o ataque ao acampamento de Kurusu Ambá foi coordenado pelo arrendatário da fazenda Madama, um indivíduo chamado Aguinaldo. O proprietário, que reside no Paraná, estava em negociação com o procurador da república Ricardo Pael, presente na visita da Comissão, para uma saída pacífica e acordada junto aos Guarani e Kaiowá. Parte desse diálogo garantiu a retirada de animais e pertences da fazenda, momento usado por Aguinaldo para realizar o ataque. Como ele não é o proprietário da fazenda, qualquer ação de reintegração de posse ficaria inviável uma vez que o proprietário decidiu pelo acordo.    

Enquanto eram atacados a tiros, os cerca de 60 indígenas do acampamento se dispersaram, em fuga. Na correria, as crianças J.M, de 11 anos, e D.P, de 10 anos, desapareceram. Encontrar estas crianças é um dos objetivos da permanência da Comissão de Direitos Humanos no MS. Barracos, roupas e demais objetos dos indígenas foram incendiados. No entanto, os Guarani e Kaiowá não saíram da fazenda Madama, lugar onde a liderança Xurite Lopes foi assassinada, em 2007, com tiros pelas costas. Além de compor o território tradicional reivindicado pelos Guarani e Kaiowá, a propriedade carrega em si esse episódio trágico ao povo.

Guaivyry

Pimenta ressalta que a ofensiva paramilitar contra os Guarani e Kaiowá de Kurusu Ambá pode se repetir em outras duas retomadas ocorridas nesta quarta-feira, 24, no tekoha Guaivyry, onde o parlamentar também esteve. De acordo com o Pimenta, apenas os caseiros estiveram nas retomadas para retirar pertences. Os indígenas não ocuparam as casas. Os fazendeiros, por sua vez, não apareceram nas propriedades, mas conforme Pimenta apurou passaram o dia reunidos em Amambai. Escolas já funcionam nos barracos de lona e dos locais os Guarani e Kaiowá afirmam que só saem mortos.

Na noite desta quinta-feira, indígenas das duas retomadas do Guaivyry comunicaram as autoridades que homens armados estão se concentrando em propriedades vizinhas aos acampamentos. Tiros foram disparados por cima das moradias improvisadas, o que conforme o histórico de todos os ataques contra os Guarani e Kaiowá sinalizam um aviso para que saíam antes de uma ofensiva mais violenta. A informação reforça a preocupação do presidente da Comissão de Direitos Humanos sobre novos ataques.

 

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