Quatro líderes indígenas da Comunidade Nativa Alto Tamaya–Saweto, no Peru, foram assassinados a balas na segunda-feira (1) quando se deslocavam dentro da floresta com destino a aldeia Apiwtxa, no Brasil, na fronteira dos dois países. Comunicada das mortes neste domingo (7), a presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Maria Augusta Assirati, prometeu “tentar acionar” a Polícia Federal em Brasília.
(Portal Amazônia)
Os indígenas Edwin Chota Valera, Jorge Ríos Pérez, Leoncio Quinticima Melendez e Francisco Pinedo, da etnia ashaninka, participariam de uma reunião com as lideranças brasileiras da mesma etnia sobre estratégias de continuidade de ações de vigilância e fiscalização da fronteiriça, para impedir a ação de narcotraficantes e de madeireiras, que exploram ilegalmente a região.
O líder indígena peruano Robert Guimarães Vásquez relatou que as vítimas foram assassinadas diante de vizinhos da comunidade de Saweto, na região de Ucayali, cuja capital é Pucalpa, como vingança de madeireiros cujas atividades ilegais foram denunciadas às autoridades pelos ashaninka.
- Os delinquentes agarraram as vítimas, as amarraram e balearam no campo desportivo – contou Vásquez.
Além de participar do movimento contra madeireiros e narcotraficantes que estão instalados na fronteira, os índios lutavam para demarcar sua terra no Rio Tamya, no Peru. Eles integravam um grupo de trabalho transfronteiriço, compostos por organizações indigenistas, ambientalistas e indígenas, pela proteção dos povos indígenas contactados e sem contatos na fronteira do Acre.
No domingo, Francisco Pyãnko, um dos líderes ashaninka do lado brasileiro da fronteira, enviou à presidente da Funai, Maria Augusta Assirati, mensagem relatando que os indígenas não tem dúvidas de que as mortes foram uma reação de traficantes e madeireiros tentando manter-se na região. Piyãko disse que o povo Ashaninka do Amônia, no Acre, não vai se intimidar e cobrou das autoridades brasileiras e peruanas a imediata apuração no caso. A presidente da Funai prometeu acionar a Policia Federal.
- Esses assassinatos fazem parte da ofensiva contra o movimento de lideranças que não aceita a presença de narcotraficantes e madeireiros na região. As lideranças se uniram contra as invasões de madeireiros e narcotraficantes peruanos nos dois lados da fronteira – disse Francisco Pyãko, um dos líderes Ashaninka, que ocupa cargo de diretor na secretaria estadual de Planejamento do governo do Acre.
Segundo a organização não-governamental Comissão Pró-Índio do Acre (CPI-AC), a “terrível notícia foi divulgada por radiofonia, cinco dias depois do ocorrido, quando do retorno do restante dos integrantes a aldeia de partida – Saweto, dadas as dificuldades de comunicação”.
A CPI-AC relatou que a situação de insegurança das comunidades ashaninka e de outros povos indígenas na fronteira Brasil-Peru tem sido agravada após a mobilização de esforços conjuntos entre suas lideranças para deter as investidas de grupos criminosos sobre os seus territórios. Os ashaninka buscam apoio de organizações de defesa de direitos indígenas e da sociedade civil em Ucayali, no Peru, e no Acre.
- Esperamos que o Estado peruano apure imediatamente este caso, com rigor, e não deixe se instalar a impunidade, como observado em casos anteriores, de crimes contra os direitos indígenas. Reafirmamos também a necessidade, diversas vezes já expressa, que os governos do Acre e federal respondam as demandas de fiscalização da fronteira, com ações mais contínuas, apoiando as comunidades indígenas que nela habitam e que continuam como atores solitários da defesa do território brasileiro – apelou a CPI-AC em nota.
O indígena Edwin Chota, líder da Comunidade Nativa Alto Tamaya–Sawetoera. Em rede social, a jornalista Maria Emília Coelho disse estar “muito triste e chocada” com a notícia do assassinato dele e de mais três lideranças.
- Eles lutavam muito para demarcar seu território e contra madeireiros e traficantes que estão instalados na região da fronteira Acre-Peru. Tive o prazer de conhecer Edwin Chota em 2012, quando viajamos juntos pelo Rio Amônea, até a aldeia Apiwtxa, do povo Ashaninka, no Brasil. Grande líder e guerreiro do seu povo. Perda enorme. Necessitamos urgente da apuração do caso pelas autoridades competentes no Peru e Brasil – escreveu Maria Emília.
Edwin Chota havia denunciado várias vezes os madeireiros várias vezes as autoridades peruanas. As denúncias não foram apuradas e os madeireiros continuam atuando impunemente no Alto Tamaya.
O líder Isaac Piyãko, da aldeia Apiwtxa, considera que esse é uns dos maiores massacre na região contra o povo ashaninka.
- Sei que luta pela terra é uns dos grande motivos. Naquela fronteira vai acontecer mais coisas se não for tomada nenhuma providência. As famílias asheninka do Saweto estavam lutando para sair do trabalho escravo. Agora, com a morte das principais lideranças da comunidade, vai piorar. Feriu a Apiwtxa diretamente. As pessoas mortas, suas famílias, moram na Apiwtxa. Nós vamos até o final, tentar garantir nossa liberdade.
Um funcionário da Funai, que pediu para que seu nome seja omitido, alertou que a preocupação é que os próximos alvos sejam os ashaninka do lado brasileiro.
Representante da Funai, Ministério Público Federal e Polícia Federal se reuniram em Cruzeiro do Sul (AC) para discutir uma ação na região, no intuito de apurar mais informações sobre o ocorrido e garantir a segurança da aldeia Apiwtxa e aos parentes das lideranças assassinadas. Agentes da PF e servidores da Funai serão deslocados para fronteira.