O jornal O Globo publicou no mês de agosto uma série de reportagens, de autoria da jornalista Cleide Carvalho, sobre a situação do Rio São Francisco em diversos pontos da sua extensão. Dados indicam que o mar já adentra 25 km do leito do Rio São Francisco e que a 85km da sua foz, entre Alagoas e Sergipe já se pesca peixe do mar, o que não é comum em áreas distantes do oceano. Confira as reportagens na íntegra nos links ao final da notícia:
(Jornal O Globo) / (Foto: João Zinclar)
Em 2006, um estudo da Universidade Federal de Alagoas detectou intrusão salina numa distância de 6 km da foz do São Francisco. Na época, a vazão média no Baixo São Francisco era de 2.041 metros cúbicos por segundo, quase o dobro da atual.
O controle da vazão no Baixo São Francisco feito pelas hidrelétricas pôs fim às cheias e correntezas e no pequeno município de Ilhas das Flores, a 25 km da foz, os pescadores não falam mais em cheias, mas em maré.
O Velho Chico tem perdido água com o desaparecimento de nascentes, veredas e afluentes. Pelo menos 16 rios da bacia, que eram perenes, hoje são intermitentes — secam durante parte do ano. Calcula-se que o rio já tenha perdido entre 35% e 40% de seu caudal.
Com águas paradas, multiplicam-se ilhas de areia, uma vez que 95% das margens do São Francisco sofrem com erosão. Nos últimos oito anos as ilhas têm se tornando fixas e maiores, algumas têm 2km de extensão.
No assentamento Borda da Mata, em Canhoba (SE), o rio baixou cerca de 10 metros e há trechos onde não passa de 50 centímetros. Os moradores do Baixo São Francisco temem o futuro com a transposição das águas.
CONSUMO
O Brasil consome 83% de sua água na produção agrícola e pecuária, Já o consumo humano, urbano e rural, não passa de 10% do total.
O que agrava é a distribuição é desigual: um quarto dos municípios brasileiros sofre com racionamento de água.
Um exemplo dessa desigualdade é o município de Jaíba, no Norte de Minas Gerais, que abriga o projeto de irrigação Jaíba, onde poços artesianos que atendiam cerca de 5 mil moradores da área rural secaram e a água tem de ser levada em carros pipas, como no semiárido. Mais de 10 mil pessoas que vivem no distrito de irrigação não recebem água tratada e usam a mesma água do canal que vai para a agricultura.
No Brasil, 56,7% dos municípios são abastecidos por águas superficiais, de rios e córregos, que têm sido poluídos por esgoto e agrotóxicos, além de serem assoreados, já que não têm proteção de mata nas margens.
Um relatório do Tribunal de Contas da União (TCU), publicado em 2012, sobre ações destinadas a recuperação e controle de erosão na Bacia Hidrográfica do São Francisco, mostra que muitos dos investimentos anunciados para garantir as águas do Rio São Francisco sequer saem do papel. De acordo com o relatório, as iniciativas de recuperação ambiental — essenciais para garantir a oferta e a qualidade da água do Velho Chico — são dispersas, e os recursos empregados até então foram modestos e insuficientes para reverter a degradação da bacia.
O assoreamento do São Francisco, aliado à seca na cabeceira, em Minas Gerais, pode dificultar ainda mais a situação de quem vive no semiárido brasileiro e expandir o processo de desertificação. Os técnicos do TCU alertam que, caso a degradação continue, há risco de aumentar a desertificação na Bacia do São Francisco, que já alcança 850 mil hectares apenas no núcleo de Cabrobó, onde começam as obras de transposição das águas para o eixo norte.
Confira as matérias na íntegra:
- Seca ameaça 40 milhões de pessoas que dependem de seis bacias hidrográficas
- Às margens do São Francisco, ‘marés’ substituem ‘cheias’
- Relatório do TCU mostra que recursos anunciados para conter erosão não saíram do papel