COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Foi o terceiro nos últimos 30 dias. Pistoleiros da fazenda Cachoeira estavam armados com revólveres e espingardas e atiraram nos barracos dos indígenas enquanto eles dormiam. Uma mulher ficou ferida durante a fuga do local.

 

Cimi Regional Mato Grosso do Sul

Na madrugada de 06 de abril ocorreu um novo ataque de pistoleiros contra a comunidade indígena Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue. De acordo com informações das lideranças da comunidade, “seguranças” (pistoleiros) da fazenda Cachoeira, município de Iguatemi, armados com revólveres e espingardas de grosso calibre dispararam tiros contra os barracos de lona, enquanto as famílias Guarani e Kaiowá dormiam. Assustados, os moradores de barracos situados nas proximidades da rodovia saíram correndo para fugir dos pistoleiros e, na fuga, uma mulher, Sra. Síria Marcos, acabou caindo e machucando gravemente os braços. As lideranças afirmam que estão de posse de cartuchos e de balas encontradas depois do ataque.

Esta foi a terceira ação violenta de pistoleiros contra a comunidade de Pyelito Kue nos últimos 30 dias. Geralmente estas ações criminosas estão sendo praticadas de madrugada e sempre aos finais de semana. A comunidade tem denunciando as violências à Funai – Fundação Nacional do Índio – e  às Polícias Federal e Civil. No entanto, nenhuma medida protetiva foi adotada no sentido de prevenir e coibir os ataques contra a comunidade indígena. As lideranças afirmaram que estão cansadas de esperar que o governo federal conclua o procedimento de demarcação de sua terra e principalmente cansadas de serem alvejadas por pistoleiros.

“Não aguentamos mais, será que nós mesmos vamos ter que tomar a decisão de nos defender com mais força? Será que precisaremos matar ou morrer para que olhem, respeitem e garantam os nossos direitos? Não aguentamos mais tanto sofrimento”.

A comunidade de Pyelito Kue está residindo na antiga fazenda Cambará, às margens de uma estrada vicinal distante aproximadamente 35 km de Iguatemi/MS. No final de 2012, os indígenas divulgaram uma carta afirmando a decisão de resistir em suas terras até as últimas consequências, o que despertou a atenção da opinião pública nacional e internacional. Na ocasião, eles viviam na beira do rio Hovy.

O tekoha Pyelito Kue/Mbarakay foi identificado (por ESTUDOS DE IDENTIFICAÇÃO E DELIMITAÇÃO de um Grupo Técnico criado pela Funai) com 41.571 hectares de extensão como sendo de ocupação tradicional dos Guarani e Kaiowá. A terra em demarcação situa-se  na Bacia Iguatemipeguá, próxima a reserva Indígena Sassoró. A fazenda Cambará, que foi retomada em fevereiro pelos indígenas e onde atualmente vivem, é apenas uma das várias propriedades incidentes sobre a área identificada como de ocupação indígena.

As lideranças indígenas, uma vez mais, pedem às autoridades proteção para ficar no seu tekoha (terra sagrada), solicitam agilidade no procedimento de demarcação, e exigem que se realize urgente investigação e punição dos responsáveis pelos atentados criminosos contra a comunidade de Pyelito kue.

Campo Grande, 06 de abril de 2014.

 

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