COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Lavradores relatam que jagunços armados com pistolas e escopetas mandaram tratoristas derrubar casas, currais e até a capela da comunidade Tiúba, zona rural de Chapadinha. O fato ocorreu no último dia 31 de outubro. “Apelamos para as autoridades tomarem providência o mais rápido possível, porque depois que morrer dois ou três não adianta nem vir aqui”, diz um trabalhador da região.

 

(Diogo Cabral é Advogado da CPT-MA e FETAEMA)

 

Moradores da comunidade rural Tiúba, zona rural de Chapadinha, tiveram suas casas e currais demolidos no último dia 31 de outubro. Nem mesmo a capela da comunidade foi poupada da sanha de vários homens armados, a mando do proprietário rural José Maria Quariguasi, que, com uso de uma máquina retro-escavadeira, destruiu lares de trabalhadores rurais pobres de uma das regiões com maior número de conflitos agrários do Brasil, o Baixo Parnaíba, região do cerrado maranhense que foi invadida por extensas florestas artificiais de eucalipto e milhões de hectares de soja.

A moradora M.F presenciou toda a ação criminosa e viu vários jagunços armados com escopetas e pistolas: “O que aconteceu é que eles chegaram, desceram das motos e já pegaram as armas e mandaram o tratorista derrubar as casas. Eles mandaram esbagaçar e esbagaçaram mesmo”, disse a trabalhadora rural, que relatou a derrubada de cinco casas, três currais, um chiqueiro de bode e a capela católica da comunidade.

O lavrador J.M encontrou o grupo de pistoleiro no caminho da comunidade, quando os homens retornavam à sede da fazenda. Segundo o trabalhador, os homens estavam fortemente armados e disse ter reconhecido a retro-escavadeira que a prefeitura de Chapadinha recebeu por meio do MDA/PAC 2. “Estava a retro-escavadeira na frente e o batalhão atrás, tudo bem armado, só arma pesada”, relatou J.M.

Os lavradores denunciaram que os jagunços a serviço do proprietário voltarão para completar o serviço de destruição das moradias restantes.

O lavrador J.M pede a intervenção das autoridades para evitar derramamento de sangue. “Apelamos para as autoridades tomarem providência o mais rápido possível, porque depois que morrer dois ou três não adianta nem vir aqui”, finalizou.

Em 2013, o Maranhão tem se mantido na dianteira em número de conflitos agrários. Além de três assassinatos por conflitos agrários e uma dezena de trabalhadores ameaçados de morte, esta é a segunda capela destruída neste ano - a primeira ocorreu no dia 4 de janeiro, em Codó.

No mês de junho, jagunços tentaram dinamitar várias casas da comunidade Santa Rosa, em Urbano Santos. Na mesma comunidade, em fevereiro, várias casas foram incendiadas. Em setembro, mais de 100 tiros foram disparados contra lavradores de Campo do Bandeira, Alto Alegre do Maranhão. Em agosto, o trabalhador rural Francisco França foi preso ilegalmente e passou mais de 6 horas algemados no batalhão de polícia militar de Codó. No acampamento Cipó Cortado, em João Lisboa, vários milicianos armados invadiram o acampamento dos trabalhadores, espalhando o terror.

Até a presente data, nenhum decreto de desapropriação foi emitido pelo Governo Dilma. Por outro lado, vários despejos foram ordenados pelo Poder Judiciário do Maranhão, atendendo ao pedido de grandes proprietários rurais. Uma refilmagem da sangrenta década de 1980.

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