No dia 2 de setembro, morreu um recém nascido Awa-Guajá, na Aldeia Tiracambu, localizada na Terra Indígena Caru, no Maranhão. Não havia atendente de saúde na aldeia e, segundo informações do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), às 15h30 foi solicitado ao Polo de Santa Inês o envio de um veículo de transporte urgente, que chegou somente mais de 3 horas depois, quando a criança já havia falecido.
(CIMI e foto Greenpeace)
Nos meses de junho e julho, o movimento indígena do Maranhão realizou um grande protesto em defesa da saúde e denunciando as violações e as mortes na saúde indígena em todo o estado. Cerca de 500 indígenas ocuparam o Distrito Sanitário Especial Indígena(Dsei), em São Luís, no dia 24 de junho. A precariedade do atendimento à saúde indígena em todo o estado mobilizou os povos Gavião, Awá Guajá, Kaapó, Kreniê, Kricati, Tenetehara Apãniekra, Ramkokramekra e os Guajajara das terras Pindaré, Massaranduba, Barra do Corda, Grajaú, Canabrava, Karú e Rodeador para protestar contra o serviço de saúde prestado pela instituição. Eles denunciaram que há poucos médicos e não há médicos indígenas para o atendimento, além de não haver transporte para deslocar os doentes, nem para fazer o abastecimento dos medicamentos, o que coloca a vida das pessoas em estado grave em risco.
Morte anunciada - Após dez dias de ocupação da sede do Dsei, em que suas reivindicações não foram atendidas, cerca de 150 indígenas interditaram, no dia 4 de julho, a Estrada de Ferro Carajás, que liga as jazidas de minério de ferro da Vale ao porto de São Luís, na capital do estado. O trecho da ferrovia bloqueado passa pela aldeia Massaranduba, Terra Indígena Caru, dos Awá-Guajá, e Tenetehara (Guajajara). “Os parentes decidiram interditar a ferrovia para serem ouvidos”, explicou na épocaLourenço Krikati, 44 anos, da Terra Indígena Krikati. Entre o dia 24 de junho até o dia da ocupação da ferrovia (4 de julho), as comunidades contabilizaram seis mortes em decorrência da falta de estrutura para o atendimento da saúde. No mês de maio já havia falecido Ajrua Awa, vítima de uma doença tratável hoje pela medicina.
A comunidade indígena continua exigindo a presença de gestores da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai) na aldeia para conversar com a comunidade diante da revolta por tantas mortes nos últimos anos por negligência do órgão responsável pela saúde indígena. A comunidade Tiracambu reteve o carro do Polo até que apareçam os gestores para dialogar. O Ministério Público Federal (MPF) do Maranhão já está informado sobre o caso.
O Cimi reitera a urgência do Polo em dialogar com a comunidade e reforça a demanda dos indígenas de que as autoridades investiguem a responsabilidade da Sesai na morte desta criança.
Missão à aldeia Gurupiuna encontra cartuchos de uso exclusivo da polícia
Integrantes do Cimi do Maranhão, do Greenpeace e da Sociedade Maranhense de Direitos Humanos participaram de uma missão, nos dias 30 e 31 de agosto, à aldeia Gurupiuna, do povo Ka'apor, que no último dia 24 foi invadida por cerca de 50 madeireiros. Com sete famílias, totalizando 48 pessoas, esta aldeia está localizada na Terra Indígena Alto Turiaçu, município de Centro do Guilherme, no norte do estado, a 410km de São Luís. A comunidade foi atacada como represália ao trabalhorealizado pelos próprios indígenas de fiscalização e apreensão de caminhões madeireiros dentro do seu território tradicional. No ato da invasão da aldeia Gurupiuna, os invasores amarraram e bateram em um indígena idoso, Gonito Ka'apor, saquearam plantações e levaram animais.
O objetivo da missão foi prestar solidariedade junto à comunidade atacada e renovar o compromisso das instituições com os direitos indígenas e contra as violações aos direitos humanos de comunidades indígenas em luta pela garantia e proteção de seus territórios. Em Gurupiuna, a equipe colheu vários cartuchos que, segundo informações que obtiveram, são de uso exclusivo da polícia. Eles também se reuniram com as famílias atacadas, que se encontravam na aldeia Waxiguirendá.
Segundo o relato de Zé Pantoja, morador da aldeia Gurupiuna, “os madeireiros invadiram nossa aldeia porque fizemos a vigilância dentro de nosso território. Quando estávamos fazendo a vigilância, encontramos dois não indígenas. Levamos eles para a aldeia, mas não os agredimos. Levamos as motos deles também. No outro dia cedo, o madeireiro Sérgio, com cinquenta homens, invadiu nossa aldeia. Eles chegaram atirando. Nós saímos correndo. Eles pegaram Gonito, que estava doente e não podia correr, amarraram e bateram bastante nele".
Os Ka'apor denunciam que a invasão do território continua e que a operação Hileia Pátria (realizada pelo Ibama, em junho, quefechou várias madeireiras e apreendeu caminhões) não resolveu o problema de invasão. “Depois que a operação saiu, os madeireiros voltaram para dentro da mata. Mas estamos fiscalizando. No último monitoramento, apreendemos motosserra e, mesmo depois deste ataque à nossa aldeia, nós vamos continuar a proteger nosso território”, afirmou outro indígena.