A assentada da reforma agrária, Regina dos Santos Pinho, de 56 anos, foi sepultada na tarde de ontem, 7 de fevereiro, em Campos dos Goytacazes - RJ. Neste momento de despedida alguns amigos e familiares lembraram que Regina buscou através da luta pela terra realizar um sonho: "ter acesso a Terra para viver e produzir com dignidade!". Foi em busca desse sonho que acampou e posteriormente conquistou um lote no Assentamento Zumbi dos Palmares, onde residia há mais de 11 anos.
As dificuldades com as quais se deparou quando chegou ao assentamento, por ser titular de um lote de Reforma Agrária sendo mulher e vivendo sozinha, a fizeram identificar o contexto de dominação cultural masculina de latifúndio e exploração do trabalho que historicamente caracterizam a região. Onde para pessoas como Regina inexistem, ou são ineficazes, políticas públicas principalmente agrárias e agrícolas.
Um exemplo claro disso, é o cenário onde Regina morava e produzia, seu lote está situado na divisa de Campos dos Goytacazes com São Francisco de Itabapoana, localidade também conhecida como antiga Fazenda Campelo, que não possui iluminação nem transporte público, a única escola do 1º segmento do ensino fundamental foi desativada desde que área foi desapropriada para fins de Reforma Agrária. Ainda assim, Regina lutou para ter acesso à educação; no ano passado conseguiu se inscrever no ProJovem Campo Saberes da Terra, mas nunca assistiu às aulas porque o governo do Estado do RJ, mesmo com recursos, não garantiu o transporte para os inscritos, o que inviabilizou a participação dos assentados desta localidade neste programa.
Seu sonho era terminar o ensino fundamental para fazer o ensino médio em enfermagem, para atuar no assentamento. Regina contribuiu ativamente na implementação da Feira Agroecológica no Uned Guarus - IFF, a partir da organização do coletivo de mulheres assentadas, buscando, assim, ampliar os espaços alternativos de comercialização dos produtos agrícolas das mulheres assentadas na região. Por meio de espaços como este, ela expressava a alegria em viver e os projetos de vida que tinha: queria que os assentados tivessem espaços de lazer que proporcionassem diversão para os trabalhadores rurais. A alegria de Regina cativou muitas amizades.
Muitos de seus amigos, juntamente com os familiares, acompanharam inconsolados e indignados seu sepultamento, pois sabem que Regina é mais uma vítima de um sistema de extermínio, exploração e marginalização daqueles que ousam lutar por um mundo mais justo e digno através da Reforma Agrária.
O assassinato da mulher, mãe, trabalhadora e amiga Regina expressa a urgência de um projeto político de Estado que fortaleça da agricultura familiar, que apesar de garantir 70% da alimentação consumida no país, muitas vezes não é valorizada. É preciso denunciar a existência de um sistema criminoso que continua exterminando mulheres e homens que lutam pela distribuição da Terra no país. Um sistema que se sustenta mantendo os camponeses reféns de uma política oligárquica e latifundiária; operada pelo Estado brasileiro que financia descaradamente um modelo de “desenvolvimento" concentrador e explorador da Terra. Ao mesmo tempo em que nega aos povos do campo o direito a uma cidadania real através da implementação de uma efetiva política de Reforma Agrária.
Rio de Janeiro, 07 de fevereiro de 2013.
CPT Rio de Janeiro