Como num funeral, hoje – 23/09/2014 - é um dia de luto histórico para o rio São Francisco e seu povo. Segundo o diretor do Parque Nacional da Serra da Canastra sua nascente histórica secou (G1).
Roberto Malvezzi (Gogó)
Como dizia Shakespeare pela boca de Macbeth:
Amanhã, e amanhã, e ainda outro amanhã arrastam-se nessa passada trivial do dia para a noite, da noite para o dia, até a última sílaba do registro dos tempos. E todos os nossos ontens não fizeram mais que iluminar para os tolos o caminho que leva ao pó da morte. Apaga-te, apaga-te, chama breve! A vida não passa de uma sombra que caminha, um pobre ator que se pavoneia e se aflige sobre o palco - faz isso por uma hora e, depois, não se escuta mais sua voz. É uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria e vazia de significado.
Nem o pior dos vaticínios nos anteciparia essa notícia. Agora não é mais previsão dos catastrofistas, dos apocalípticos, de ambientalistas sectários. Estamos diante do fato.
James Lovelock previa que o território brasileiro, até o final do século, seria inabitável. Se ele está certou ou não só o futuro dirá. Mas, com certeza, pela destruição de nossas bases naturais, estamos construindo um futuro apavorante.
Leia também a reportagem produzida pelo portal UOL
Pela primeira vez, seca a nascente do rio São Francisco, em MG
Carlos Madeiro
Do UOL, em Maceió
A nascente do rio São Francisco, que está localizada dentro do Parque Nacional da Serra da Canastra, no sudoeste de Minas Gerais, está seca. Segundo o chefe do parque, diretor Luiz Arthur Castanheira, o evento é inédito e o motivo para isso foi a sucessão de secas que atingem a região há pelo menos três anos.
O parque tem 200 mil hectares de área e preserva, além das nascentes do São Francisco, outros monumentos naturais. Serve como divisor natural de águas das bacias dos rios São Francisco e Paraná.
"É um fenômeno natural que ocorre sempre, diminuindo a quantidade de água. Mas a seca está muito forte este ano. É a primeira vez que as nascentes altas do São Francisco estão secas. O pessoal do parque aqui disse que nunca viu nada igual a isso", afirmou.
Castanheira afirmou que, apesar da nascente seca, o curso do rio --que se estende por 2.700 km, de Minas até a divisa entre os Estados de Alagoas e Sergipe-- não está ameaçado, já que outros rios e riachos o alimentam.
"Aqui, na verdade, é o começo do rio, mas tem muito tributário mais para baixo. Essa nascente seca serve para mostrar como estamos com problemas com a pequena quantidade de água", disse.
Segundo Castanheira, no parque, a nascente é alimentada por pequenos córregos, que vão formando a nascente do principal rio mais importante do semiárido brasileiro.
Segundo o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, a bacia do rio corta seis Estados --Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Goiás-- e uma pequena parte do Distrito Federal, chegando a 504 municípios. O rio é a única alternativa de água para milhares de pessoas que vivem no semiárido desses Estados.
O rio também é alvo da maior obra do PAC (Programa de Aceleração de Crescimento), com a transposição que constroi dois canais com um total de 477 km, que vão retirar água do rio e levar a 390 municípios do sertão de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará.
Segundo o Ministério da Integração Nacional, as obras físicas do projeto estão 62,4% executadas, e a entrega dos canais deve ocorrer em 2015.
Incêndios
Além da seca, o parque da Serra da Canastra também está sofrendo com os incêndios. Desde o dia 20 agosto, o chefe do parque disse que já foram oito focos registrados.
Por conta dos incêndios e de obras na estrada de acesso, o parque foi fechado desde a sexta-feira passada (19) e só deve ser reaberto no dia 6 de outubro. "Isso ocorre em situações em que precisamos preservar a segurança das pessoas que passam por aqui", alertou.