Na última semana, nos dias 2 e 3 de maio, um grupo composto por 70 pessoas realizou um encontro para troca de experiências de luta em defesa dos territórios e das águas na região de Correntina, situada no Cerrado do oeste baiano. Participaram desse evento comunidades da Bahia e de Minas Gerais.
Texto e imagens por Amanda Alves
A atividade de intercâmbio envolveu comunidades tradicionais geraizeiras, quilombolas, pescadores, integrantes de assentamentos do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) da região do Norte de Minas Gerais, comunidades de fundo e fechos de pasto e quilombolas da região de Irecê, Barra e Correntina, da Bahia.
O Cerrado e as águas do Rio São Francisco aproximam essas pessoas, que embora vivam em territórios geograficamente distantes e diferentes, suas histórias de vida e de lutas se encontram, tanto pela cultura, convivência e relação com o bioma Cerrado, assim como também pelo contexto das políticas de “desenvolvimento” e “modernização” que assola seus territórios.
Para enfrentar o avanço totalitário do agronegócio sobre o Cerrado, essas populações têm feito diversas formas de enfrentamento, como a organização por meio de associações de Fundo e Fecho de Pasto e de Coletivos de Povos Geraizeiros. Um exemplo de organização é a Comunidade de Fecho de Pasto Brejo Verde, de Correntina, que vem resistindo e enfrentando o avanço das monoculturas do agronegócio e o uso desenfreado das águas por meio do hidronegócio.
O grupo que participou do intercâmbio teve a oportunidade de visitar boa parte do território do Brejo Verde, Tarto e Catolés, como os quintais produtivos familiares, as nascentes de água, e as áreas comunais de fundo e fecho de pasto das comunidades que compõem o território, utilizadas para a solta do gado nos períodos de estiagem, além da coleta dos frutos nativos e das plantas medicinais.
Num clima de fraternidade, no rancho da Comunidade de Fundo e Fecho de Pasto do Tarto, diariamente usado pelos vaqueiros, foi servido um almoço típico da região, regado com depoimentos e muita chula (estilo de musical tradicional dessa região de Cerrado).
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À noite foi exibido o curta-metragem “O Levante dos Ribeirinhos”, que relata a revolta dos ribeirinhos do vale do Rio Arrojado, na Bahia, que se levantaram em 2017 contra as fazendas que sugam, de maneira desenfreada, as águas dos rios e do lençol freático para irrigar as monoculturas do agronegócio. Em seguida, em uma roda de conversa, o grupo trocou experiências e conversou sobre o filme.
A última etapa do intercâmbio foi a visita ao Museu do Cerrado, em Correntina, onde o grupo teve a oportunidade de conhecer, através da história natural, como se deu o processo de formação do Cerrado e seus períodos evolutivos até os tempos atuais.
A experiência de intercâmbio encoraja os povos geraizeiros a seguir lutando pelos seus territórios, fortalecendo suas crenças, costumes, tradições e lutas!
“Ninguém vai morrer de sede nas margens de nossos rios”
Sem Cerrado, Sem Água, Sem Vida!