A Articulação das CPT’s da Amazônia brasileira, representada pelos nove estados que formam a Amazônia Legal, vem denunciando faz algum tempo o contínuo ataque à floresta amazônica e às suas populações tradicionais. O avanço voraz de ilegalidade sempre procurou encontrar meios e apoio para garantir sua ferocidade. No Brasil, a Amazônia sempre foi alvo de cobiça, devido sua condição natural de estoque de bens naturais. O uso destes bens de forma sustentável parece muito lento para aqueles que ignoram os benefícios que tal bioma proporciona para todo o planeta. Assim, para continuar a saga de expansão e destruição, não hesitam em matar e desmatar na Amazônia.
Nos vários documentos da Comissão Pastoral da Terra (CPT) fica evidente o ataque avassalador deste projeto de destruição e ocupação violenta que criminosos efetivamente executam para atingir seus objetivos particulares. Os últimos dados da CPT demonstram que mais de 95% das áreas em disputa no Brasil estão localizadas na Amazônia Legal. Apontam também que as maiores chacinas e assassinatos de trabalhadoras/es e lideranças também ocorreram e ocorrem na Amazônia.
As lutas e resistências dos povos do campo, sejam camponeses, indígenas, quilombolas e outras populações tradicionais espalhadas por toda Amazônia têm sido o principal modo de enfrentamento aos ataques promovidos contra sua própria natureza humana e o bioma amazônico. Contudo, o Governo Brasileiro, que deveria ser o responsável em defender um dos principais bens naturais e o povo brasileiro, atua com benevolência e conivência em favor daqueles que cometem os mais variados crimes na Amazônia.
A eleição do atual presidente da República brasileira, no final de 2018, foi marcada pela campanha contra as Terras Indígenas, territórios quilombolas e as populações tradicionais que ocupam as Unidades de Conservação de Uso Sustentável, por considerar que tais áreas “atrapalham” os interesses daqueles que querem ocupar a Amazônia. Este discurso agressivo soou como aval aos criminosos para ampliarem a grilagem em terras públicas e atacarem com maior violência os territórios ocupados pelas populações tradicionais. Despejos de camponeses, expulsões de indígenas, ataques aos quilombolas, desmatamentos em Unidades de Conservação e demais territórios ocupados por vários grupos sociais encontrados na floresta amazônica, em especial, passaram a ser praticados em uma velocidade e violência nunca imaginada.
Novas regras de regularização fundiária que favorecem a grilagem se somaram a outras ações do governo para facilitar os crimes, entre elas estão: o desmantelamento dos órgãos ambientais, promoção de intimidações e mudanças em diretorias de vários órgãos de monitoramento e controle de desmatamento e queimada, quebra de acordos com doadores internacionais, ataques sistemáticos aos ambientalistas e movimentos sociais, e ainda o projeto de armar os fazendeiros contra os trabalhadores, além de outras dezenas de ações promovidas pelo atual governo, causaram pânico e terror a todos os grupos sociais amazônicos, assim como a grande parte da sociedade em geral, seja ela nacional ou internacional.
A consequência de todo este ataque tem seu ápice em um aumento assustador de incêndios promovidos pelos criminosos que, para ampliar as grilagens e expulsar os ocupantes dos territórios já destinados, estão transformando a floresta amazônica em cinzas, aproveitando de um período próprio da natureza, ou seja, o período de seca, para, de forma completamente inconsequente e criminosa, fazer valer o aval do atual presidente para retirar do caminho aqueles que “atrapalham” os seus interesses. O resultado está estampado em todos os noticiários do mundo, de que a “Amazônia está em chamas”.
A Articulação das CPT’s da Amazônia vem através desta Nota solicitar ajuda dos parceiros internacionais para que recorram aos seus governantes para que pressionem o atual governo brasileiro através de medidas diplomáticas, condicionando as relações comerciais à proteção da Floresta, até que sejam mudadas efetivamente as políticas para a Amazônia. Este é um pedido de apoio em favor da Amazônia e seus povos. Enquanto isso, convocamos a população brasileira para apoiar nossa luta e resistência contra todas as formas de destruição da cultura e do nosso povo, assim como da nossa principal fonte de vida, a Floresta Amazônica.
Articulação das CPT’s da Amazônia, 25 de agosto de 2019.
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Crédito foto: Mídia Ninja