COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Encontro tem por objetivo reafirmar atuação para que os direitos dos povos Guarani sejam garantidos.


 

 

 

Dança, alegria e rezas ao deus Ñanderu marcaram o início do III Encontro Continental do Povo Guarani, no Seminário Metropolitano, na cidade de Assunção, Paraguai. O encontro, que tem como tema “Terra, território, autonomia e governabilidade”. Participam do encontro indígenas do Brasil, Argentina, Bolívia e Paraguai. O evento segue até a próxima sexta-feira, 19 de novembro.

Após os rituais de iniciação do evento, foram lidas as memórias do I e II Encontro Continental do Povo Guarani, realizados no Rio Grande do Sul, nos anos de 2006 e 2007, respectivamente. O encontro é uma iniciativa frente a necessidade de uma maior articulação, reflexão e ação sobre a situação atual em que se encontram os povos Guarani desses quatro países.

O objetivo geral do encontro é incidir para que os direitos dos povos indígenas, constituídos nas constituições nacionais e convenções internacionais e ratificados por esses países, sejam de fato cumpridos. A principal bandeira de luta do movimento indigenista é justamente trabalhar para que o direito dos indígenas a terra seja garantido.

“O propósito principal é uma melhor articulação a nível continental”, afirmou Bernardo Bendites Rivarola, ou Karaipoty em Guarani, docente de cultura indígena numa aldeia Guarani perto de Assunção, Paraguai. Ele explica que, como em outros países, o governo paraguaio não respeita as leis nacionais e internacionais, dentre as quais as relativas à demarcação de terras. “Muitas comunidades estão lutando por suas terras tradicionais. No meu caso, vivo em um tipo de assento de um hectare e médio, com quarenta famílias”.

As terras tradicionais do povo Guarani têm suscitado a ganância de grandes empresários e latifundiários. Os primeiros invasores foram os que se apropriaram destas terras e utilizaram os Guarani como mão de obra barata. O território Guarani, hoje, está quase totalmente destruído pelas grandes plantações de soja, cana de açúcar e eucalipto. Esses territórios também estão ameaçados por grandes obras, como centrais hidrelétricas.

Mesmo vivendo em condições totalmente adversas e muitas vezes desumanas, como os Guarani Kaiowá de Mato Grosso do Sul, sitiados a beira de rodovias, os Guarani do Cone Sul demonstram ter um grande potencial para se reorganizarem e fortalecem a cada dia suas lutas pela recuperação de suas terras tradicionais e garantia de seus direitos.

Para Turíbio Gomez, da aldeã Itapuã, no Rio Grande do Sul, este tipo de encontro é muito importante. “Estes encontros nos ajudam a fortalecer a luta cada vez mais. Aqui vamos falar sobre como ajudar um ao outro, como dar força. Se lutamos unidos a toda a comunidade Guarani podemos conseguir vencer a batalha. Queremos nossas terras de volta, com mata e tudo, com água limpa”, declarou.

Principais temas
Durante o encontro serão discutidos temas como terra/território: caminhos de luta para a recuperação e construção para transformação da realidade; autodeterminação: direitos dos povos indígenas; territórios indígenas: soberania e livre determinação os povos indígenas; ferramentas jurídicas para a defesa da terra/território; autogestão e governabilidade os povos indígenas Guarani; antecedentes históricos na nação Guarani; autonomia e participação política desde a cosmovisão Guarani na Bolívia; articulação continental da nação Guarani.

Amanhã
Até o momento, já estão em Assunção as delegações do Brasil (Guarani Mbya e Ava Guarani, do sul do país, e Guarani Kaiowá e Ñandeva, do Mato Grosso do Sul) e do Paraguai (Guarani Ñandeva, Ava Guarani, Mbya, Paî, Ache e Guarani Ocidental). Faltam chegar as delegações da Argentina, representada pelos povos Mbya, Ava Guarani e Chane, e da Bolívia, com os Guarani Ocidental.

Amanhã, 16 de novembro, acontecerá a apresentação e abertura oficial do encontro, com a presença do sacerdote jesuíta e famoso indigenista Bartomeu Melia, que fará uma conferência sobre “Terra/Território: caminhos de luta na recuperação e construção para transformação da realidade.

Em todas as noites do evento, as delegações participantes serão responsáveis pela preparação de uma noite cultural, aonde compartilharão com seus parentes suas tradições e expressões culturais. Os indígenas Guarani do Brasil serão responsáveis pela noite cultural do dia 17 de novembro, próxima quarta-feira.

O III Encontro Contineltal do Povo Guarani vai até dia 19, quando será encerrado com um ritual indígena Guarani Ocidental e com a continuação da leitura do manifesto do encontro, que será elaborado por todos os povos presentes com denúncias sobre a situação em que vivem em suas comunidades. Também está previsto para o enc encerramento do evento, um discurso do presidente da República do Paraguai, Fernando Lugo.

O encontro conta com o apoio das seguintes organizações indigenistas: Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Coordenação Nacional da Pastoral Indígena do Paraguai (Conapi), Equipe Nacional de Pastoral Aborígene da Argentina (Endepa), Rede de Entidades Privadas a Serviço dos Povos Indígenas (PAR).

Histórico
O Primeiro Encontro Continental Guarani foi realizado pela ocasião dos 250 anos da morte de Sepé Tiaraju e seus mil e quinhentos soldados. Este grande líder Guarani resistiu à divisão de terras por parte dos espanhóis e portugueses, que se uniram para a disputa contra Sepé e sua resistência Guarani. Morrendo pela luta, ele se tornou um ícone da resistência dos lutadores. No entanto, somente há pouco tempo, o governo brasileiro o reconheceu como herói nacional.

A partir da luta e morte de Sepé Tiaraju surgiu a Campanha Guarani, com a articulação de várias organizações sociais. No primeiro encontram participaram mais de mil representantes Guarani, na cidade de São Gabriel, estado do Rio Grande do Sul.

O segundo encontro, que aconteceu em Porto Alegre, também no Rio Grande do Sul, foi um posicionamento político na história atual. Participara mais de 800 pessoas do Paraguai, Brasil, Uruguai e Bolívia. O tema principal foi “Terra e território Ywy Rupá”, que foi cortada, estabelecendo fronteiras entre os países e estados, assim com a importância da cultura milenar, a educação e a espiritualidade. A partir desse encontro teve início uma grande campanha internacional chamada Povo Guarani: Grande Povo; Vida, terra e futuro.

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