A primeira Conferência Regional de Prêmios Nobel Alternativo, finalizada na última sexta-feira em Bogotá, Colômbia, teve fortes declarações contra a violência sofrida por indígenas, camponeses e líderes sociais latinoamericanos. Homens e mulheres, representantes de organizações diversas, agraciados com o prêmio Right Livelihood Award reuniram-se durante cinco dias na Colômbia, para debater os principais problemas que atualmente enfrenta a região, e discutir soluções práticas que transformem a vida da sociedade civil. A CPT foi representada por Silvano Lima, da CPT Araguaia-Tocantins.
(notícia RLA - tradução CPT Nacional)
Quatorze “Prêmios Nobel Alternativo” compartilharam experiências e propuseram suas visões sobre os atuais desafios para a América Latina, na Conferência Regional que os reuniu em Bogotá (Colômbia) entre 1 e 6 de julho. A confluência dos poderes econômico e político, em detrimento dos direitos civis foi um eixo comum na diversidade de temas tratados. Fortes declarações e propostas de rápida ação conjunta resultaram dos encontros ao longo desses dias.
Depois de compartilhar suas experiências e trajetórias, os laureados concordaram na necessidade de desenvolver um mecanismo efetivo de proteção para os líderes e ativistas da região ameaçados. Segundo estatísticas da Global Witness, em nível mundial e para o período 2002-2011, o Brasil foi o país que registrou a maior quantidade de assassinatos de líderes ambientais e sociais, com 365 vítimas. Seguem-lhe Peru, com 123; e Colômbia, com 70 assassinados. Somente nos seis primeiros meses de 2013, o Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) já contabilizou 11 mortes no Brasil, vinculadas à luta pela reforma agrária. Também na Colômbia é de longa data a violência no âmbito rural. A Associação de Trabalhadores Camponeses do Carare (ATCC) relatou que para a década 1970-1980 foram 500 mortos. Evaristo Nugkuag Ikanan, que vive e trabalha na selva peruana auxiliando na organização das comunidades indígenas, contou que eles já lamentam a morte de cinco companheiros, que resistiam à expulsão de suas terras, e que, além disso, eles têm muita dificuldade em conseguir o apoio de advogados.
Relacionando aspectos econômicos e políticos, Martín Almada recordou que o golpe de estado no Paraguai esteve vinculado a pressões de grandes empresas estrangeiras, com interesses sobre extensas porções de terra no país. Com profunda preocupação, os laureados se referiram, também, aos numerosos assassinatos de jornalistas, intermediários entre quem luta e o conjunto da sociedade civil: “Desde nossa posição como laureados devemos promover a proteção daqueles que trabalham em denunciar e oferecer soluções alternativas”, assegurou Raúl Montenegro, da Argentina.
Afirmando que “a economia tem matado mais gente que todas as guerras juntas”, o economista chileno Manfred Max-Neef propôs a criação de um Tribunal para Crimes Econômicos contra a Humanidade. “São evidentes os estragos do sistema dominante atual. Devemos promover um novo paradigma de desenvolvimento baseado na felicidade, onde não falemos do Produto Interno Bruto (PIB) senão da Felicidade Interna Bruta (FIB), o que supõe viver de maneira sustentável com tudo o que somos”.
Por sua vez, Francisco Whitaker fomentou a assinatura da declaração “Por uma América Latina e Caribe livres de Centrais Nucleares”, que condena a tendência regional a expandir o uso deste tipo de energia não sustentável, assumindo graves e desnecessários riscos para as atuais e futuras gerações.
A partir de suas reuniões e conversas, os Prêmios Nobel Alternativo subscreveram o documento intitulado “Chamado de Bogotá“, que compila suas conversas sobre as necessidades observadas em matéria de direitos humanos e ambientais, processos de paz e memória, participação democrática e autonomia dos estados latinoamericanos.
A Conferência também teve lugar para o intercâmbio entre os laureados e organizações sociais locais, bem como espaços para o encontro com o público. O fórum chamado “Criando um meio favorável para a sociedade civil” foi uma enriquecedora experiência compartilhada entre laureados e assistentes interessados nos temas que ali trataram, tais como educação, desenvolvimento, crimes de lesa humanidade, etc.
Estas atividades foram organizadas conjuntamente pela Fundação Right Livelihood Award, Fundação GAIA Amazonas e Projeto COAMA, dirigido por Martín von Hildebrand, com o apoio da Igreja da Suécia. A Fundação Right Livelihood Award é uma organização com base em Estocolmo (Suécia), que reconhece o trabalho das pessoas mais valentes e inspiradoras do mundo e as distingue com o que se conhece como “Prêmio Nobel Alternativo”. Desde 1980, promove a luta de indivíduos excepcionais que têm atingido mudanças positivas em áreas como manutenção da paz, investigação científica, educação, cuidado da saúde, direitos humanos e proteção do meio ambiente. Em 33 anos de atuação premiou 149 pessoas e organizações pertencentes a 62 países.
Participaram desta conferência regional os seguintes “Prêmios Nobel Alternativo”: Manfred Max-Neef (Chile, 1983), Evaristo Nugkuag Ikanan (Peru, 1986), Associação de Trabalhadores Camponeses do Carare, ATCC (Colômbia, 1990), Comissão Pastoral de Terra, CPT (Brasil, 1991), Movimento de Trabalhadores Rurais Sem Terra, MST (Brasil, 1991), Helen Mack Chang (Guatemala, 1992), Juan Pablo Orrego (Chile, 1998), International Baby Food Action Network, IBFAN, (México, 1998), COAMA (Colômbia, 1999), Grupo de Agricultura Orgânica (Cuba, 1999), Martín Almada (Paraguai, 2002), Raúl Montenegro (Argentina, 2004), Francisco "Chico" Whitaker (Brasil, 2006), Festival Internacional de Poesia de Medellín, FIPM (Colômbia, 2006).
A realização desse evento na Colômbia significou uma expressão de solidariedade com as organizações da sociedade civil, ativistas, e laureados locais: “A Colômbia vive uma das maiores tragédias humanitárias da Terra, com uma guerra a mais de meio século que tem deixado cinco milhões de vítimas entre mortos, desaparecidos, feridos, mutilados e deslocados, se constituindo em uma das mais prolongadas guerras da história humana”, afirmou Fernando Rendón, diretor do FIPM.