As principais entidades e movimentos sociais do campo brasileiro destacaram a importância da unidade para garantir avanços na Reforma Agrária, na apresentação de manifesto conjunto a parlamentares, integrantes do governo e à sociedade civil na Câmara dos Deputados, na tarde desta terça-feira (28/2).
(Página do MST)
Desde o começo dos anos 2000, os movimentos sociais do campo não fechavam um compromisso tão firme com lutas unificadas pela Reforma Agrária, direitos territoriais e soberania alimentar e contra o agronegócio e o apoio do Estado às empresas transnacionais da agricultura.
Durante a apresentação do documento, Valter Israel, dirigente da Via Campesina Brasil, afirmou que o manifesto é o primeiro fruto do amadurecimento das entidades que promovem as lutas sociais do campo.
“Abrimos mão dos temas em que temos visões diferentes para somar no que nos une. Construímos unidade na análise apontando para a unidade na luta, vivenciando o início de uma nova fase, colocando a luta camponesa brasileira em outro patamar”, avalia.
Willian Clementino, da Contag, classificou as definições contidas no documento como “importantes” e “estratégicas”. “O que nos une é a conclusão de que é inadmissível que passemos para o segundo ano de um governo em que o carro chefe é o programa de combate à miséria e a Reforma Agrária não avança. A origem do problema é a concentração da terra”.
Para Elisângela Araújo, coordenadora geral da Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf), “a Reforma Agrária e a questão fundiária são pautas extremamente importantes que demandam unidade.
"Precisamos nos voltar para o desenvolvimento com sustentabilidade, que considere que a população rural e sua produção farão a diferença no combate à fome no Brasil e no planeta. Esse é um debate de toda a sociedade”, reiterou.
Paulino Montejo, assessor da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (Apib), ressaltou que os direitos territoriais dos povos indígenas, quilombolas e comunidades tradicionais também integrarão o arco unificado de lutas que se estabelece. “Os povos indígenas eram cinco milhões de pessoas e hoje não chegam a um milhão. Estamos dispostos a somar forças com todos os movimentos do campo para alcançarmos a unidade na diversidade”, disse.
O secretário Nacional de Articulação Social da Secretaria Geral do Planalto, Paulo Maldos, representante da Presidência da República,odefiniu a unidade como “momento histórico” essencial para o avanço da democracia no país.
“Caminhamos para a construção de uma sociedade mais diversa, mais culturalmente rica e com muito mais direitos assegurados. Forma-se aqui um outro patamar para seguir em frente na construção desse projeto”, avaliou.
Unidade para avançar
O deputado Valmir Assunção (PT-BA) criticou a morosidade no processo de criação de novos assentamentos para as mais de 180 mil famílias acampadas no país. “Para contrapor essa situação, só há um caminho: a unidade. Um esforço, independente das particularidades de cada movimento, que permita o avanço”.
“Até que enfim os movimentos conseguem tomar um rumo para se fortalecer. Não conseguimos avançar para as conquistas estruturantes no campo. Vemos estrangeiros comprando terra, o agronegócio avançando sobre as terras dos pequenos e Reforma Agrária andando muito devagar”, disse o deputado gaúcho Marcon (PT).
Domingos Dutra (PT/MA) ressaltou a importância da unidade das entidades para o fortalecimento da ação dos parlamentares. “O Brasil melhorou, tiramos milhões da pobreza absoluta, mas na Reforma Agrária, na questão indígena, na apuração de crimes praticados contra o latifúndio, estamos estagnados. Essa unidade expressa no manifesto dá forcas para a bancada, para todo o Congresso”.
O manifesto foi divulgado após uma reunião, realizada em Brasília nesta segunda (27) e terça (28), considerada “histórica” pelas entidades mais representativas do meio rural no Brasil.