O apoio e a solidariedade chegam de todas as maneiras no acampamento Fátima Barros, em Tanque da Rodagem, no cerrado maranhense.
Assessoria de Comunicação da Rama
No último final de semana, o Grupo de Juventudes da Rede de Agroecologia do Maranhão (Rama), por meio da campanha Plante Árvores, encaminhou para o território quilombola cerca de 50 mudas, entre elas mamão, laranja, cupuaçu, juçara, ipê, tamarindo e ata, como forma de resistência ao monocultivo da soja que tentam instalar na região.
Há cerca de 40 dias, a vegetação dos territórios de Tanque da Rodagem e São João foi totalmente devastada, sob o comando de agricultores da soja. Os quilombolas montaram um acampamento em protesto e desde o dia 10 de setembro aguardam a presença da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SEMA) para registro do crime ambiental. Há informações que representantes da Secretaria foram ao município, mas não no acampamento Tanque da Rodagem para checar de perto a destruição da mata nativa.
Sobre o Plante uma Árvore
As mudas foram cultivadas por Ariana Gomes e Ivanessa Ramos, ambas do GT de Juventudes da Rama. Os integrantes do GT se comprometeram em cultivar mudas de espécies madeireiras, frutíferas e ornamentais, todas ameaçadas de extinção por conta do avanço do agronegócio, das queimadas e da monocultura. São vegetações que englobam os biomas Cocais, Cerrado e Caatinga.
O projeto Plante uma Árvore incentiva a participação dos jovens nas causas sociais que é de extrema importância para que a luta em prol da segurança alimentar, contra o Agronegócio. “Com certeza serão bem cuidadas, por mãos de gente que luta pelo território e pela permanência da diversidade do cerrado. Agora elas terão as raízes fincadas nas terras férteis de resistência e de gente lutadora”, afirmou Ariana Gomes.
Solidariedade
Há mais de 40 anos os quilombolas imprimem vida no território Tanque da Rodagem e São João, que reúnem muita ancestralidade. Recentemente, se juntaram a eles, em uma rede de solidariedade, outros quilombolas, quebradeiras de coco babaçu, indígenas, agricultores familiares e camponeses. São mais de cem pessoas no acampamento Fátima Barros, às margens da MA 262, semeando vida por meio do encontro de saberes e vivências.
Uso de agrotóxico liberado pela Sema
Outra grave denúncia que envolve o território é a conceção do Licenciamento Ambiental (nº 0000110/2018 – Atividade Agrossilvopastoril) pelaSecretaria Estadual de Meio Ambiente (SEMA), que autorizou o uso de agrotóxico na fazenda Castiça. A propriedade fica dentro da comunidade quilombola de Tanque da Rodagem, o que seria necessário a realização de consulta prévia, conforme exige a legislação ambiental.
A Comissão Pastoral da Terra no estado, que acompanha a comunidade, expressa a urgência da presença da SEMA no território. As denúncias foram feitas por meio de matérias jornalísticas.
No Licenciamento Ambiental (nº 0000110/2018 – Atividade Agrossilvopastoril) costa nos itens de 07 a 13, a regulamentação de como usar os agrotóxicos na fazenda Castiça. A autorização para uso de veneno está clara no documento emitido pela SEMA. Consta ainda orientação para uso do terrível glifosato, que envenena lençóis freáticos, sendo ele vetado o seu uso por aeronaves.
Problemas de saúde
Os quilombolas reclamaram de coceira e alergia pelo corpo. Uma quilombola denuncia: “vamos caçar o coco babaçu no mato e quando voltamos de lá, a pele está encarouçada”. Outro quilombola falou sobre o clima constante de ameaça e derrubadas das casas. “Só faltam passar por cima de nós”, alertou. Das mais de 60 famílias que moram no território, metade já se encontra desabrigada devido ao conflito com os plantadores de soja.
Sobre a comunidade Tanque da Rodagem
Desde 2013, tramita no Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) o processo de reconhecimento da área como território quilombola. No entanto, a última movimentação no processo do Tanque de Rodagem foi em 2017. Sem a documentação definitiva da posse, os moradores não conseguem avançar com a regulamentação das moradias e nem acessam linhas de crédito para a produção agrícola. Os primeiros quilombolas a ocuparem a área onde está o Quilombo Tanque de Rodagem chegaram na década de 1970. O terreno fica na beira da rodovia MA-262, onde os moradores já organizaram a divisão do território, com casas e plantações para o sustento da comunidade.