COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

As ações ocorrem entre os dias 12 e 16 de agosto de Norte a Sul do país.

Fonte: Por Gustavo Marinho, Da Página do MST 

Imagens: Luiz Fernando / MST

O ano de 2019 marca a realização da 10ª edição da Jornada Nacional da Juventude Sem Terra, atividade organizada pelo MST que tem como protagonistas os jovens das áreas de Reforma Agrária de todo o país. 

Sejam nas escolas, nos acampamentos ou assentamentos, com o lema “Juventude em luta: pela vida e por direitos!”, a Jornada pretende mobilizar milhares de jovens Sem Terra. As ações ocorrem entre os dias 12 e 16 de agosto e tem como destaque a luta na defesa da educação pública, com adesão da Juventude Sem Terra aos atos convocados para o dia 13 de agosto em todo o país.

Juliana de Mello (imagem abaixo), do Coletivo Nacional de Juventude do MST, afirma o papel que cumpre a 10ª Jornada Nacional da Juventude Sem Terra frente ao atual cenário político que vive o país, em especial na luta em defesa da educação pública e da aposentadoria.

“Queremos demarcar nossa disposição de pulsar junto às mobilizações da juventude brasileira. É necessário abrir um novo ciclo de esperanças e perspectivas. Construir um projeto de futuro é uma das questões mais relevantes entre a juventude e nós queremos politizar as percepções sobre esse desejo, indicando que às saídas estão na ousadia coletiva de lutar”, reforça Juliana, jovem acampada no acampamento Herdeiros da Terra de 1º de Maio, no Paraná.

Ela diz ainda que a Jornada será um intenso processo de trabalho de base com os jovens da organização, pautando as demandas da juventude para o conjunto do Movimento, bem como de intensificar e projetar o envolvimento da Juventude Sem Terra nas pautas de luta da sociedade. “A juventude será forjada com consciência de classe se estiver posicionada na luta concreta desde o seu espaço de vida e só estará nessa condição se estiver organizada”, explica. 

Confira a entrevista completa:

O que simboliza a Jornada da Juventude para o conjunto do Movimento Sem Terra?

O estabelecimento de um processo de trabalho unificado nacionalmente na Jornada da Juventude permitiu um avanço expressivo na inserção orgânica dos jovens no Movimento, com isso, fomos assumindo o protagonismo na tarefa de organizar a juventude, massificando a nossa participação e consolidando o Coletivo de Juventude no MST. Anualmente, a Jornada é o período que motivamos com maior intencionalidade o debate da juventude Sem Terra para o MST e nos projetamos para sociedade por meio das lutas.

Esse ano a Jornada chega a sua décima edição com o lema “Juventude em Luta: pela vida e por direitos”. Como foi a escolha desse lema e qual orientação ele pretende dar para a Juventude Sem Terra?

A construção do lema fez o esforço em dialogar com o momento político conjuntural, sintetizando temas que estão latentes na pauta política da juventude no Brasil. Quando firmamos que está na ordem do dia as reivindicações "pela vida e por direitos", queremos evidenciar as condições que os trabalhadores e trabalhadoras estão submetidos diante da atual crise do capital, na qual a juventude é alvo, profundamente afetada pelas transformações desse tempo.

Frente à exclusão sistemática vivenciada nos processos de trabalho, que alcança seus maiores índices na atualidade, a juventude é empurrada para a precarização e o desemprego. Trata-se de uma geração que experimenta cotidianamente a realidade de pobreza crescente, de muita desigualdade e não encontra espaço e incentivo para se desenvolver. Nossa subjetividade é atingida pela culpa, pelo medo, pelo desalento, aumentando o número de casos de depressão e o suicídio. Somos estimulados a entender a violência como forma de resolução dos problemas e conflitos, e exterminados pela ausência de alternativas de sobrevivência. Estar vivo hoje é o principal anseio da juventude e o acesso aos direitos sociais é condição fundamental para que isso seja assegurado. Nosso lema reafirma que precisamos nos apropriar dessa discussão e construir resistência popular.

Com “Juventude em Luta” queremos demarcar nossa disposição de pulsar junto às mobilizações da juventude brasileira. É necessário abrir um novo ciclo de esperanças e perspectivas. Construir um projeto de futuro é uma das questões mais relevantes entre a juventude e nós queremos politizar as percepções sobre esse desejo, indicando que as saídas estão na ousadia coletiva de lutar.

Quais são os principais objetivos da Jornada esse ano?

Propomos fazer um amplo processo de trabalho de base com a juventude Sem Terra, potencializando a formação humana e provocando iniciativas de organização, luta e solidariedade.

A educação pública é a principal bandeira que nos unifica no momento a outros sujeitos e organizações. Queremos denunciar todos os retrocessos que estão impostos pelo atual governo e mostrar que a juventude será a principal trincheira resistência. 

Ao longo desses dez anos de Jornada, o que você considera como principais avanços para o conjunto da Juventude do MST?

O principal saldo é o desenvolvimento da auto-organização da juventude. Fomos compreendendo a importância de exercitarmos a autonomia, debatermos as necessidades enquanto juventude e apontar junto ao Movimento nossas tarefas desde o chão das escolas e comunidades camponesas. 

Em cada Jornada da Juventude avançamos na disputa sobre o que é ser jovem na sociedade, projetando na luta a referência da nossa identidade.  De sujeito social subordinado, a participação da Juventude Sem Terra é ressignificada para sujeito político, que assume para si a responsabilidade de parte de seu próprio processo de formação.

Pensar a organização da Juventude em seus territórios sempre foi uma grandiosa tarefa, seja na cidade ou no campo. Olhando para a Juventude do MST e a complexidade da conjuntura que vivemos, como você enxerga esse desafio?

Atuar no território e em seus conflitos sempre foi um espaço privilegiado de formação da militância. É partir da atuação nele que a juventude experimenta com intensidade à multiplicidade de dimensões que perpassam os acúmulos e os desafios do MST na construção da Reforma Agrária Popular. 

A trajetória de constituição dos Coletivos de Juventude nos acampamentos, assentamentos e escolas do MST, evidenciam que quando desafiados e incentivados, estes desenvolvem a altura seu potencial de organização, trabalho e luta.

Nessa conjuntura, temos a árdua tarefa de combater o consenso ideológico que foi bojo na formação da atual geração de jovens, em que a luta e a organização são apresentados como atraso. Venceremos se conquistarmos a maioria para a causa do povo, mas só é capaz de disputar hegemonia quem tem projeto político enraizado em seus territórios. Neste contexto, a juventude será forjada com consciência de classe se estiver posicionada na luta concreta desde o seu espaço de vida e só estará nessa condição se estiver organizada.

Desde o início do governo, Bolsonaro tem dedicado uma série de ataques e ameaças à educação e, em resposta, atos de rua tomaram diversas cidades do país, protagonizados especialmente pela juventude. Como tem se colocado a Juventude Camponesa nesse contexto? Como a Jornada da Juventude pretende contribuir nesse processo de luta e resistência?

A juventude camponesa tem se ocupado dessa problemática e acrescentado denúncias da ofensiva à Educação do Campo, conquistada por meio da luta das organizações populares em benefício dos que mais foram excluídos dos processos educacionais no Brasil.

Os estudantes têm forjado uma contribuição incisiva na inauguração de um novo ciclo de mobilização da juventude brasileira. Dessa forma, ser parte do 13 de agosto, Dia Nacional de Luta pela Educação Pública, será uma das tarefas imprescindíveis impulsionada pela Jornada da Juventude Sem Terra. Se manifestar em defesa de nossos direitos deve ser ação crescente e nós pretendemos ter presença organizada nesse processo. 

A partir dos grandes atos de rua em defesa da educação e contra os cortes do governo que mobilizou milhares de jovens durante o mês de maio, quais são os principais desafios e tarefas da juventude brasileira nesse próximo período?

A juventude brasileira precisa ser instigada a formar identidade, se reconhecer em unidade, para ocupar posições na luta política. É importante despertar a ideia de que a resistência é possível e que somos hoje a maior força potencial no enfrentamento da agenda neoliberal e conservadora do governo Bolsonaro.

Já temos uma multidão de jovens que experimentou a luta como prática política neste último período. É necessário continuar mobilizados, ao passo que qualificamos nossas formas de organização. É central nesse cenário se envolver nas tarefas da batalha das ideias, onde nos cabe ganhar corações e mentes de milhões; e do trabalho de base, que reaproxima do povo, mostra os caminhos a seguir e possibilita a construção sólida de um projeto popular de nação. 

*Editado por Wesley Lima

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