Integrantes do Movimento Quilombola do Maranhão (Moquibom) e da Comissão Pastoral da Terra do Maranhão participaram de um intercâmbio em doze comunidades quilombolas no município de Nordestina (BA), entre os dias 12 e 14 deste mês.
Texto: Maria Aparecida J. Silva | CPT Centro Norte – Diocese de Bonfim
Fotos: Ronilson Costa
Edição: Comunicação CPT Bahia
A troca de experiências aconteceu com a participação dos visitantes ao Encontro do Fórum de comunidades, reuniões e visitas às localidades.
No primeiro momento, os convidados conheceram o mapa do território quilombola da região, e as comunidades locais afirmaram a demarcação e a auto-gestão do território como essencial para a garantia de seu modo de vida, com autonomia e dignidade.
Os membros do Moquibom – movimento que nasceu a partir da necessidade de união entre os quilombolas para enfrentar situações de opressão – falaram sobre a experiência do movimento na luta pela terra e contra a exploração. Para eles, o Quilombo é o lugar da liberdade, do bem viver e conviver comunitariamente.
O movimento também falou do desafio que é fazer a retomada da educação, pois, em muitos lugares, o Estado construiu escolas nas comunidades, mas nem a estrutura dos prédios, nem a educação são de fato quilombolas.
Segundo eles, se “aquilombar” é ser comunidade e nesse processo é essencial retomar sempre a história da origem, a ancestralidade e a espiritualidade de matriz africana. Assim como disse Raimundo Ribeiro: “no quilombo o sagrado ocupa lugar central, o toque do tambor nos anima e impulsiona pra luta”.
Além da troca de experiências, nas visitas às famílias e reuniões com os núcleos de comunidades, os habitantes puderam partilhar os conhecimentos tradicionais medicinais, a produção de artesanato com palha de ariri e de cocadas de licuri.
Dona Emília e Marlene explicaram aos visitantes que por causa do desmatamento está cada vez mais difícil acessar a matéria prima para a produção de esteiras, além da dificuldade de comercialização dos produtos, que são pouco valorizados na região.
Outro problema relatado é com a mineradora de diamantes Lipari, instalada no território. “Precisei levar minha filha para a sede de Nordestina porque os filhos dela estavam sempre doentes por causa da poeira e fumaça da mina. Quando tem detonação, treme tudo, tem muita casa e cisterna rachada”, relatou um residente da região que preferiu não se identificar.
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Alguns moradores falaram da forma racista e violenta que são tratados pelos funcionários da empresa que entram em suas terras sem permissão, e quando questionados, alegam ter permissão do governo para isso.
Ainda conforme relatos, a mineradora não traz benefícios para as populações locais, cometem crimes socioambientais e desrespeitam os direitos tradicionais das comunidades. Durante a estadia, todos os participantes do intercâmbio presenciaram vários estrondos e nuvens de poeira a mais de três quilômetros de distância da mina.
Segundo Leidiane de Livramento, nenhuma problemática é tão grave quanto a presença de uma mineradora no território, porque mexe com a estrutura da terra. “A mineração fere gravemente nossa mãe terra e, com isso, vem as consequências que não podem ser reparadas. É preciso entender e respeitar que cada elemento da natureza, tudo tem seu dono, seja o rio, a cachoeira, as matas... Lá moram os encantados que são os guardiões e guardiãs destes lugares e quando esses lugares são destruídos, onde essas entidades vão morar? O minério não é pra tirar, ele tem dono, e não são as mineradoras, nem o governo. Se o minério está debaixo da terra, ele tem que ficar lá, guardado, para manter o equilíbrio da terra e a conexão com o sagrado”, afirmou.