A festa do Acampamento Maila Sabrina começou com a Santa Missa, celebrada por Dom Sergio Arthur, arcebispo de Ponta Grossa (PR), padre Dirceu Fumagalli, da CPT Paraná, entre outros.
(Da Página do MST / fotos: MST)
“A terra é de quem não tem medo do sol, de quem acorda cedo, de quem nela trabalha. Deus nos deu a terra para produzir”. As palavras do padre Valdecir Badzinski, secretário-executivo Regional dos Bispos do Paraná, refletiram o sentimento das centenas de pessoas que participaram da 1ª Festa da Colheita e da Reforma Agrária do acampamento Maila Sabrina, neste sábado (16), em Ortigueira, norte do estado.
A festa comemorou a farta colheita conquistada pelas 400 famílias do acampamento, além de reforçar para moradores da região e autoridades políticas e religiosas a urgência da efetivação da Reforma Agrária naquelas terras, ocupadas há 16 anos.
O pronunciamento do padre Valdecir Badzinski ocorreu durante a homilia da Santa Missa que deu início à festa. A celebração foi conduzida por Dom Sergio Arthur Braschi, arcebispo de Ponta Grossa, e também contou com a participação do padre Dirceu Fumagalli, da Comissão Pastoral da Terra (CPT), e do pároco de Ortigueira, Mario Valcamonica.
Crianças filhas das acampadas e acampados emocionaram os participantes da festa ao cantarem em coro durante o ato de oferta da missa: “Dividir a terra, todo sangue derramado, na luta por um pedaço de chão… em cada canto uma esperança de se plantar, criar raiz, mas quando um sonho de criança, e a Reforma Agrária no país”. Neste momento, vários agricultores ofertaram sua produção diversificada: mandioca, milho, feijão, arroz, pão, bolo, banana e várias outras culturas. A oferta foi doada para a igreja matriz de Ortigueira. A chegada de uma cavalgada pela Reforma Agrária marcou o encerramento da missa.
Após a cerimônia religiosa houve um ato político pela desapropriação da área da ocupação Maila Sabrina e pela efetivação da Reforma Agrária. Várias autoridades religiosas e políticas da região participaram do ato. Com a bênção de Dom Sérgio Arthur, firmaram o compromisso de lutar pelo acampamento e pelo seu desenvolvimento.
Um grande almoço foi oferecido gratuitamente a todos, como forma de apresentar o resultado da agricultura familiar e da luta pela Reforma Agrária. Durante toda tarde houve música de viola raiz. O encerramento contou com um grande baile da cultura camponesa.
Entre os convidados da festa estava o escritor Eduardo Moreira, que está no Paraná há alguns dias em visitas a acampamentos e assentamentos para conhecer o MST. Ele destacou o poder organizativo do movimento, de formar pessoas mais humanas e conscientes de seus direitos. “Quando cheguei no primeiro acampamento que visitei, pessoas que nunca tinham me visto me receberam e colocaram em um quarto dentro de sua casa para dormir. Em centros urbanos isso não acontece, nunca fui tão bem recebido”.
Histórico da área
A diversidade e a produtividade são as marcas da agricultura e da pecuária no acampamento. No último ano foram 108 mil sacas de soja e milho; 3 mil sacas de feijão; 286 toneladas de arroz, abóbora, batata e legumes em geral; 900 toneladas de mandioca; 35 mil caixas de tomate, 8700 animais, entre bovinos, cabritos, cavalos e porcos.
Essa produtividade destoa da situação da área antes da ocupação. O território de 10.600 hectares era de devastação ambiental, pela produção de búfalo, sem cumprir os critérios de reserva legal.
As famílias, integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), ocuparam a área no dia 8 de janeiro de 2003. No mesmo ano, houve o pedido de reintegração de posse, que está em disputa jurídica desde então.
A área passou por quatro avaliações de preço e o dono não quer vender pelo preço de mercado. Para o MST, a solução para a disputa da área deve ser a partir do diálogo, e que seja considerado o desenvolvimento socioeconômico, educacional e cultural que as famílias conquistaram na área. O Movimento também afirma que o governo deve adquirir pelo preço de mercado.