Mais de três mil e quinhentos atingidos e atingidas por barragens de todo o Brasil afirmam necessidade da luta pela soberania nacional, pelo projeto energético popular e pelos direitos dos atingidos.
(Fonte/Imagens: MAB)
O Terreirão do Samba, no Rio de Janeiro, foi palco do maior encontro de atingidos por barragens da história do Brasil entre os dias 1 e 5 de outubro de 2017. Mais de 3.500 atingidos e atingidas organizados no Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), centenas de trabalhadores e trabalhadoras e militantes de organizações de 19 países celebraram a vida, a solidariedade na luta dos povos e refletiram sobre os desafios do próximo período.
No ano que celebra o centenário da Revolução Russa, o Encontro marca novo momento histórico na luta do povo atingido e da classe trabalhadora. Em meio à crise mundial do Capital, a entrega das riquezas, do patrimônio público e o ataque aos direitos humanos têm sido as medidas encontradas pelos grandes banqueiros e transnacionais para explorar e lucrar mais.
Nesse momento, o MAB afirma a necessidade de unidade na luta pela soberania nacional. “É preciso garantir que o fruto do trabalho e as bases naturais estejam de fato nas mãos do povo brasileiro, a serviço de um projeto popular para o Brasil. Estamos também nessa mesma luta junto aos povos do mundo para superar o atual modelo de sociedade”, diz Alexânia Rossato, militante do MAB.
Atingidos e atingidas são vítimas de um modelo energético injusto, em que a energia é uma mercadoria de grande disputa mundial. Esse modelo, que coloca a lógica do lucro acima da vida, viola direitos e explora todo o povo. O Encontro Nacional do MAB afirma a importância da construção de um Projeto Energético com soberania, distribuição da riqueza e controle popular.
Os cinco dias de discussão e reflexão apontaram como principal desafio a construção da unidade da classe trabalhadora para derrotar o golpe e lutar pela soberania nacional. A necessidade de retomada da democracia é urgente, pois somente com a participação plena do povo brasileiro é possível decidir o futuro do país.
Em clima de insatisfação com atual modelo de sociedade e luta por transformação, os participantes declararam seu compromisso em construir uma estratégia transformadora da sociedade junto com toda a esquerda e a classe trabalhadora.
Leia abaixo o documento final com as ideias centrais do 8º Encontro Nacional do MAB:
Reunidos de 1º a 5 de outubro de 2017, na cidade do Rio de Janeiro (RJ), mais de três mil e quinhentos atingidos e atingidas por barragens de todo Brasil, junto a centenas de lideranças e dirigentes de organizações populares, sindicais, religiosas, partidos políticos, parlamentares comprometidos, na presença de militantes de 19 países e com a participação de Luiz Inácio Lula da Silva, lutamos pela Soberania Nacional e celebramos os 100 anos da primeira Revolução Socialista no mundo.
Na grandeza de nossa luta, trocamos experiências e nos alegramos com o animo dos milhares de militantes que lutam cada dia por um mundo melhor para a classe que trabalha. Contribuímos na construção de um ato unitário que reuniu mais de 15 mil pessoas e diante da justeza de nossa causa reafirmamos:
- Que o MAB é uma organização que zela e estimula a pratica de valores socialistas e humanistas, de amor ao povo e de amor à vida, de solidariedade entre os povos, da pedagogia do exemplo e do combate a todas as formas de exploração, dominação e preconceitos;
- Que nossa luta é pela superação da sociedade atual e a construção de uma sociedade alternativa ao capitalismo, com justiça, fraternidade e igualdade.
- Que na sociedade que almejamos é fundamental a construção de um projeto energético popular, com soberania sobre nossas bases naturais e nosso território, bem como do patrimônio publico construído com o trabalho do nosso povo.
- Que nosso projeto prevê a distribuição da riqueza com controle popular, para melhorar as condições de vida do povo brasileiro.
- Que na atual sociedade, onde a energia é utilizada para fins de acumulação privada de capital, é legitimo que as populações lutem e se oponham aos projetos de barragens.
- Que intensificaremos a luta pelos direitos dos atingidas por barragens. Para isso é necessário uma politica nacional de direitos e planos de recuperação e desenvolvimento das regiões.
- Que a luta é para que a água e energia sirvam para satisfazer as necessidades do povo com a adequada sustentabilidade ambiental.
- Que somente o trabalho determinado de militantes, a massiva organização de base e a luta do povo brasileiro, poderão exercer a pressão popular como a principal via da transformação social.
- Que historicamente as mulheres, a juventude, as populações negras, indígenas e LGBTT são as mais oprimidas. Como revolucionários, não devemos aceitar qualquer tipo de injustiça ou descriminação. Somos da mesma classe, e nisso somos iguais. Todas e todos sujeitos do processo transformador.
Neste grande Encontro Nacional constatamos que existe uma ofensiva conservadora, dirigida pelo imperialismo, que neste momento de crise do capitalismo quer ampliar a exploração sobre os trabalhadores, se apropriar das bases naturais (água, petróleo, minérios, terra e biodiversidade), privatizar as empresas públicas e submeter as estruturas do Estado aos seus interesses. Todas essas medidas pioram as condições de vida do povo.
Para superar as dificuldades desse momento histórico, o MAB se propõe a enfrentar os seguintes desafios;
Fortalecer o MAB em todo país construindo uma organização de qualidade superior a que temos atualmente.
Intensificar o trabalho de base junto ao povo brasileiro com atenção especial ao trabalho urbano.
Implantar em todas as regiões a totalidade da estratégia do MAB.
Tomar as medidas para a proteção aos militantes e a organização do nosso povo.
Exigir justiça pelo crime em Mariana na Bacia do Rio Doce e litoral do Espirito Santo.
Estimular a luta ambiental e a defesa da Amazônia.
Participar ativamente na luta pela Soberania Nacional.
Contribuir para a construção da unidade das forças democráticas, progressistas e populares no Brasil, com dedicação especial a Via Campesina, a Plataforma Operária e Camponesa da Energia e a Frente Brasil Popular.
Praticar a solidariedade internacional, fortalecendo o Movimento dos Afectados por Represas, a organização de atingidos em todos os países possíveis e a articulação internacional nos temas água e energia.
Só a luta nos fará vencer.
Água e Energia com Soberania Distribuição da Riqueza e Controle Popular.
Pátria Livre, Venceremos!