COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Entre os dias 26 a 30 de junho, a “Caravana Agroecológica do Semiárido Baiano: nos caminhos das águas do São Francisco”, percorreu os municípios baianos de Juazeiro, Sobradinho, Campo Formoso, Jacobina, Casa Nova, Remanso e Campo Alegre de Lourdes, com a proposta de visibilizar as denúncias, os conflitos e as experiências de resistência e organização de comunidades dos municípios visitados.

 

(Texto: Sasop | Imagens: Luna Layse)

O  submédio São Francisco é uma região que concentra muitos conflitos agrários, por conta dos grandes projetos que concentram água e terra e tentam, há décadas, expulsar e oprimir os povos que lutam e resistem em seus territórios.

Participaram cerca de 70 pessoas, entre representantes de organizações e movimentos sociais, universidades, institutos de pesquisa e órgãos públicos, que vivenciaram diferentes realidades que ameaçam povos e comunidades do território. As visitas foram feitas em duas diferentes rotas, que buscaram promover uma reflexão sobre os modelos de desenvolvimento e os sistemas agroalimentares, no entorno da bacia hidrográfica do Rio São Francisco, a partir de seis eixos orientadores: impactos da mineração, conflitos fundiários, conflitos por água, uso e impactos de agrotóxicos, as experiências agroecológicas e resistências comunitárias.

Entre as experiências visitadas está o exemplo de luta e resistência do território de Areia Grande, em Casa Nova, que reúne aproximadamente 400 famílias ameaçadas por grileiros, desde a construção da Barragem de Sobradinho, na década de 70. “Casa Nova é um município que sempre teve essas práticas de grilagem por grandes fazendeiros. É um município que quem manda são os coronéis e essa prática continua até hoje. Pessoas que têm dinheiro se acham no direito de massacrar os agricultores e agricultoras”, contou Valério Rocha, presidente da Associação de Fundo de Pasto de Areia Grande.

Valério afirmou que a união das famílias foi fundamental para a comunidade enfrentar as ameaças e denunciou ainda que desde que a Justiça de Casa Nova emitiu uma ordem de despejo em favor de empresários que dizem ser “donos” das terras de Areia Grande, a comunidade vem enfrentando agressões, que culminaram no assassinato do líder comunitário José de Antero, em 2009, e permanece até hoje não esclarecido pela Justiça.

Para Joaquim Ferreira da Rocha, conhecido por “Quinquim”, enquanto os direitos à vida e a dignidade do povo forem ameaçados pelos donos do dinheiro e pelas interpretações injustas das leis, Areia Grande e todas as comunidades do entorno, vão estar firmes na luta. "A gente não mora aqui, a gente vive aqui. Aqui a gente cria, aqui a gente planta, aqui a gente pesca, aqui a gente mora, a gente vive aqui! Só existe Areia Grande porque existe o povo. Um homem e uma mulher sem terra é um homem e uma mulher sem vida, porque a terra é nossa mãe! Defender a terra é defender a nossa vida", disse seu Quinquim.

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A Caravana visitou ainda pescadores e pescadoras atingidas/os pela construção da barragem, em Sobradinho; áreas sem saneamento e esgotamento sanitário adequado na zona urbana de Casa Nova; bacia do Rio Salitre, que, com impactos do agronegócio, de afluente passou a receber água do Rio São Francisco e experiências agroecológicas e de cooperativas no município de Jacobina.

O Serviço de Assessoria a Organizações Populares Rurais (SASOP), que participou da organização de uma das rotas, acompanhou os caravaneiros e caravaneiras ao Sítio Barra, em Remanso, BA, para conhecer a experiência do agricultor experimentador e reflorestador da Caatinga, Cícero Justiniano de Souza, que também é presidente da Associação de Fundo de Pasto dos Pequenos Produtores do Sítio Barra, além das lutas das mulheres pescadoras da Associação de Pescadores e Pescadoras de Remanso (APPR), que beneficiam do pescado e enfrentam o machismo e o preconceito diariamente. 

A culminância entre as duas rotas e o encerramento da caravana aconteceu no Espaço Multicultural da Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf), em Juazeiro, BA, onde os participantes socializaram suas impressões e aprendizados dos dias em campo.

As caravanas agroecológicas fizeram parte da preparação do III Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), que aconteceu em Juazeiro, em 2014. Esta vem integrar o processo preparatório para IV Encontro Nacional de Agroecologia (ENA), marcado para acontecer em 2018, em Belo Horizonte, MG. 

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