5ª Marcha das Margaridas acontece no mês de Agosto em Brasília-DF, mas mulheres já estão organizadas em todo o país. A expectativa é de que 100 mil mulheres marchem por igualdade e justiça.
(Por Catarina de Angola – ASA)
“Olha Brasília está florida, estão chegando as decididas.
Olha Brasília está florida, é o querer, o querer das Margaridas”.
Canto das Margaridas – Loucas de Pedra Lilás.
“A gente tem que estar em marcha pra que todas nós sejamos livres! Livres pelo direito de ir e vir, por salários dignos, por trabalho justo. Uma só pra buscar esses direitos é mais difícil, mas juntas é bem mais fácil conseguir”. Assim a agricultora Vânia Maria Rocha dos Santos, da comunidade Pereiro, em Flores, Sertão do Pajeú de Pernambuco, fala da importância de marchar com outras Margaridas.
Este ano, Vânia vai marchar pela segunda vez com mulheres de todo o Brasil na 5ª Marcha das Margaridas, que acontece nos dias 11 e 12 de agosto de 2015, em Brasília (DF). “A Marcha pra gente é o momento que pautamos as políticas públicas pra melhoria da vida de nós, mulheres”, explica a agricultora, que também integra o Movimento da Mulher Trabalhadora Rural do Nordeste (MMTR/NE).
A Marcha das Margaridas é uma ação estratégica das mulheres do campo, da floresta e das águas, que integra a agenda permanente do Movimento Sindical de Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais (MSTTR) e de movimentos feministas e de mulheres do Brasil. A Mobilização é realizada sempre no mês de agosto em referência a Margarida Maria Alves, trabalhadora rural e líder sindical na Paraíba, que foi brutalmente assassinada em 12 de agosto de 1983 por um pistoleiro a mando de usineiros da região. Margarida foi a primeira mulher presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande. Ela incentivava as trabalhadoras e trabalhadores rurais a buscarem na justiça a garantia de seus direitos, protegidos pela legislação trabalhista.
“Desde a sua origem, a Marcha das Margaridas tem revelado grande capacidade de mobilização e organização. Seu caráter formativo, de denúncia e pressão, mas também de proposição, diálogo e negociação política com o Estado, a tornou amplamente reconhecida como a maior e mais efetiva ação das mulheres no Brasil”, explica Alessandra Lunas, secretária de Mulheres da Confederação dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), organização que coordena a atividade nacionalmente.
As últimas edições aconteceram nos anos 2000, 2003, 2007 e 2011. Neste ano, sob o lema “Margaridas seguem em Marcha por Desenvolvimento Sustentável com Democracia, Justiça, Autonomia, Igualdade e Liberdade”, as mulheres vão às ruas mais uma vez para protestar contra as desigualdades sociais e denunciar todas as formas de violência, exploração e dominação e avançar na construção da democracia e da igualdade. O lema vem sendo trabalhado a partir de oito eixos: Soberania alimentar; Terra, água e agroecologia; Sociobiodiversidade e acesso aos bens comuns; Autonomia econômica, trabalho e renda; Educação não-sexista e sexualidade; Violência sexista; Direito à saúde e direitos reprodutivos; Democracia, poder e participação. “As margaridas não só são 10 ou 20, são o Brasil inteiro na luta”, diz Maria Angela Nascimento dos Santos, de Mata Grande, Alagoas, e integrante do MMTR/NE.
A expectativa é que a Marcha reúna cerca de 100 mil mulheres, em Brasília, mas seu processo de construção é mais do que a mobilização em agosto. A Marcha já está acontecendo, no processo de preparação da construção da pauta pelas mulheres nos diversos estados. A partir do Caderno de Textos para Estudos e Debates da Marcha, diversas atividades de formação estão sendo realizadas em todo o país, nas comunidades e assentamentos rurais, e desses encontros devem sair propostas para a pauta nacional, a ser entregue ao governo federal.
“A marcha se organiza em diversos comitês, que tem o sentido de ser um processo formativo. Ela não só acontece lá em agosto, ela tem todo um processo de preparação anterior. Que é o processo de discussão com as agricultoras para a elaboração da pauta da Marcha e com a realização de oficinas, que tem o caráter de discutir com as mulheres as demanda delas e as necessidades para a vida delas”, explica Célia Sousa, da Casa da Mulher do Nordeste, uma das organizações que participa da construção da Marcha em Pernambuco.
Para Glória Araújo, da coordenação executiva da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA), a Marcha é um movimento que mostra a força e luta das mulheres do campo. “É onde as mulheres do campo lutam na perspectiva de uma outra agricultura, no enfrentamento ao agronegócio. E essas mulheres estão pautando o governo e se fortalecendo enquanto movimento de mulheres”.
A 5º Marcha das Margaridas propõe também o monitoramento das conquistas fruto de muita luta, identificando os desafios a serem enfrentados e fortalecendo a incidência em todos os níveis, do local ao nacional, para que estas conquistas aconteçam na vida das mulheres. “O maior desafio que enfrentamos hoje está no contexto social e político que vivemos no Brasil, de fortalecimento de um setor conservador, fundamentalista e machista que tem se organizado para tirar direitos historicamente conquistados das trabalhadoras e trabalhadores rurais. Frente a essa realidade, a Marcha das Margaridas 2015 se vê com a grande responsabilidade de contribuir com o fortalecimento da unidade das mulheres e da classe trabalhadora”, Pontua Sarah Luiza, assessora da Secretaria de Mulheres da Contag.
Margarida Maria Alves – paraibana do município de Alagoa Grande, foi a primeira mulher presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade. Margarida Alves foi brutalmente assassinada em 12 de agosto de 1983 por um pistoleiro a mando de usineiros da região. Enquanto foi presidenta do Sindicato, moveu diversas ações por direitos trabalhistas de trabalhadores e trabalhadoras rurais das usinas. Tornou-se um símbolo político após seu assassinato, uma representante das mulheres trabalhadoras rurais, por isso nomeia a Marcha das Margaridas. No dia 12 de agosto é celebrado o Dia Nacional de Luta das Mulheres Trabalhadoras Rurais Contra Violência no Campo, em referência ao seu assassinato.
Parcerias – A Marcha é promovida nacionalmente pela Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), Federações e Sindicatos, em parceria com diversas organizações como Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), Central das Trabalhadoras e Trabalhadores do Brasil (CTB), Confederação de Produtores Familiares Campesinos e Indígenas do Mercosul Ampliado, Conselho Nacional das Populações Extrativistas (CNS), Central Única dos Trabalhadores (CUT), Grupo de Trabalho Mulheres da Articulação Nacional de Agroecologia (ANA), Marcha Mundial de Mulheres (MMM), Movimento Articulado das Mulheres da Amazônia (Mama), Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) e Unicafes.
Acompanhe a construção da 5ª Marcha das Margaridas acesse o Observatório Marcha das Margaridas.