Em Assembleia realizada no dia 22 de abril, em Santa Cruz do Sul (RS), Movimentos sociais e entidades, entre elas a CPT, alertaram: poderá haver fome nas regiões fumageiras.
(Comunicação MPA)
Camponeses e camponesas organizados no Movimento dos Pequenos Agricultores - MPA reuniram-se neste último dia 22 de abril, no auditório Enio Guterres, no centro de formação São Francisco de Assis, em Santa Cruz do Sul - RS. São mais de cinquenta municípios produtores de tabaco que exigem melhores condições de trabalho, melhores preços e mais respeito com os produtores. Os camponeses afirmaram em assembleia que vão organizar audiências públicas em todas as regiões fumageiras e prometem agitar o Estado caso a conjuntura não melhore.
A cadeia do fumo em crise
Rosiéle Ludtke, camponesa e coordenadora estadual do MPA, falou sobre atual situação dos produtores de tabaco da região, “as empresas pagaram muito mal, deixaram fumo nos galpões sem comprar e o nível de endividamento é grande, muitos deixaram todo fumo na indústria e não conseguiram pagar suas dívidas. Como as empresas fumageiras não estimulam a produção de alimento, muitos não produzem sua comida e não terão dinheiro para comprá-la. Para os mais pobres faltará comida na mesa”.
Se a conjuntura de instabilidade econômica e territorial não melhorar, o MPA tornará a denunciar as práticas criminosas de arresto que as fumageiras realizam constantemente no Estado, onde as empresas fumageiras a partir de um mandato judicial apreendem bens de famílias camponesas que possuem contratos com as mesmas para “garantir” o pagamento dos financiamentos.
Campo e cidade numa mesma luta
Além dos mais de 400 camponeses reunidos na assembleia, estiveram presentes representantes dos Sindicatos dos Metalúrgicos, Sindicatos dos Bancários, Sindicatos do Vestuário e Calçados, Comerciários, CPERGS, CPT e outras lideranças políticas.
Durante o dia foi debatido e aprovado proposta de realização de audiências públicas regionais, para fazer frente a atual situação da cadeia produtiva do tabaco. As audiências terão um caráter de externalizar para toda sociedade sobre a crise das famílias produtoras de tabaco, que já vem se arrastando há um bom tempo, além de sensibilizar o governo e os órgãos públicos para intervirem na situação.
Programa Camponês é uma alternativa frente à crise
A cadeia produtiva do fumo colocou as famílias camponesas em uma situação de instabilidade, o pacote tecnológico imposto pelas empresas fumageiras exclui a produção de alimentos, além de manterem o controle da compra do fumo, nesse contexto só a diversificação pode retomar a autonomia das famílias. Para Frei Sérgio Görgen, da coordenação nacional do MPA, é preciso buscar alternativas para o desenvolvimento da região a partir de práticas de diversificação da cultura do tabaco, reestruturação dos sistemas camponeses de produção e introdução do conceito de Alimergia, além de “recuperar e fortalecer a identidade camponesa”, pontuou o Frei.
Logo depois da assembleia uma equipe de representantes dos pequenos produtores protocolou uma pauta de reivindicações no Sindicato Interestadual da Indústria do Tabaco (SINDITABACO), com as exigências dos camponeses e camponesas que produzem fumo no estado. Dentre as reinvindicações se destaca o pedido de implantação imediata do “Programa Camponês”, proposto pelo MPA e os movimentos que juntamente compõe a Via Campesina. O programa tem sua base na diversificação, produção e comercialização de alimentos nas regiões fumageiras. O documento também exige a liberdade para as famílias venderem sua produção caseira e das agroindústrias, sem a ditadura da fiscalização sanitária.
Veja abaixo a pauta de reivindicações na integra:
PAUTA DE REIVINDICAÇÕES:
COMPRA E PREÇO
1 – Exigimos que as fumageiras comprem todo o fumo colhido pelos agricultores, realizando uma classificação justa e pagando o preço combinado nas negociações de preço.
DÍVIDAS
2 - Exigimos a renegociação das dívidas dos plantadores de fumo com as fumageiras e com os bancos, com prazo de dez anos para pagar e juros de 1% ao ano.
CARTÃO ALIMENTAÇÃO
3 – Exigimos um Cartão Alimentação para todas as famílias plantadoras de fumo, pago pelas fumageiras, de R$ 500,00 por família, durante 9 meses para as famílias terem comida na mesa.
PROGRAMA CAMPONÊS
4 – Exigimos dos Governos Federal e Estadual a implantação imediata do Programa Camponês para a diversificação, produção e comercialização de alimentos nas regiões fumageiras;
5 – Exigimos liberdade para as famílias venderem sua produção caseira e das agroindústrias sem a ditadura da fiscalização sanitária.
FUMO ORGÂNICO
6 – Exigimos das fumageiras um programa massivo de produção de fumo orgânico, em menor área, maior preço e mais produção de alimentos.
ACESSO A TERRA
7 – Exigimos o assentamento das famílias que plantam fumo e não tem terra própria, em latifúndios que existem nas próprias regiões do Vale do Rio Pardo, Vale do Jacuí e Sul do estado (próximo a Canguçu e Camaquã).
8 – Exigimos a desapropriação de latifúndios em municípios próximos das regiões fumageiras, começando pela desapropriação das terras das próprias fumageiras que existem na região.
22.04.2015
Movimento dos Pequenos Agricultores- MPA
Plano Camponês: Aliança Camponesa e Operária por Soberania Alimentar