COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Um grupo de pequenos agricultores rurais e assentados da reforma agrária cobraram ontem (11) que o projeto de uma grande barragem no Rio Guapiaçu, na região metropolitana do Rio Janeiro, seja substituído por obras de menor impacto socioambiental e por recuperação da bacia hidrográfica. A alternativa apresentada pelos produtores rurais envolve, entre outras ações, a preservação e replantio da mata ciliar e o aumento no número de locais de captação de água.

(Agência Brasil)

Cerca de 3 mil pessoas serão prejudicadas com a obra, que, de acordo com a Associação dos Geógrafos Brasileiros (AGB), pode não resolver o problema de abastecimento. O pedido dos agricultores foi feito em uma reunião com o secretário estadual do Ambiente, André Corrêa, que assumiu a pasta este ano.

Os agricultores pediram o encontro depois que o governador Luiz Fernando Pezão apresentou o projeto da barragem à ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, na segunda-feira (9). A obra, orçada em R$ 250 milhões, em fase de licenciamento ambiental, está prevista para abastecer os municípios de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí, Maricá e Cachoeiras de Macacu.

Segundo o sindicato dos Trabalhadores e Produtores Rurais de Cachoeira de Macau, a construção, no entanto, desalojará 1 mil pessoas e deixará mais 2 mil sem emprego. Na área, são produzidas hortaliças e legumes para a região metropolitana. “A única coisa que sabemos fazer é plantar, o pessoal mal tem até a 4ª série. Se ficarmos sem a terra, vamos trabalhar em quê?”, questionou a agricultora Rosilene Brives Viana, que cultiva abóbora, quiabo e feijão.

O sindicato, que fez um dossiê técnico sobre o projeto, alertou também que, por conta da degradação ambiental, a barragem não terá condições de fornecer a quantidade de água prevista no projeto original. Em contraposição, sugerem a recuperação da bacia hidrográfica dio Rio Guapiaçu, por meio de reflorestamento, para posterior captação em três pontos e não em um, como ocorre atualmente.

Rosilene acrescenta que a ideia é, paralelamente, incrementar o programa municipal que torna os agricultores produtores de água, incentivando o replantio nas propriedades. “Vamos preservar a mata ciliar, plantar mais árvores. Isso vai aumentar a vazão do rio”, diz. “Não queremos impedir a captação, mas propor uma alternativa mais eficiente para todos”.

A alternativa foi também sugerida pela Associação dos Geógrafos Brasileiros, que elaborou um relatório condenando a barragem no Rio Guapiaçu e alertando para a vida útil da obra. “Corremos o risco de gerar grandes impactos e não resolver o problema de abastecimento, tendo em vista o limite operacional do sistema, estimado já para 2020, ou seja, para daqui menos de 6 anos”, diz o documento, que identificou redução da vazão do rio nos últimos anos.

“Se barragem resolvesse o problema, o Cantareira estaria cheio. Precisamos, primeiro, recuperar o meio ambiente, permeabilizar o solo, para aumentar a água na bacia. Nossa proposta é essa, melhorar”, disse Rolf Heringer, do sindicato dos produtores rurais.

Com base nos argumentos, o Comitê da Região Hidrográfica da Baía de Guanabara também estuda outras alternativas à construção. “Sem dúvida, o que a gente quer é captação [de água] em três pontos, porque não causa impacto dessa ordem de grandeza [sob a comunidade e o meio ambiente]”, disse o secretário executivo, Alexandre Braga. Mas diante da necessidade de abastecimento da região metropolitana, ele diz que todas as soluções estão sendo avaliadas.

Depois de receber os agricultores, o secretário do Ambiente do Rio admitiu que houve um “erro de condução” no projeto da barragem ao não ouvir os agricultores. Corrêa marcou uma reunião para o dia 3 de março para discutir as alternativas apresentadas nos estudos técnicos e prometeu ir à região dia 27 de fevereiro conversar com os moradores, relataram as lideranças que participaram da reunião. André Corrêa saiu sem dar declarações à imprensa que aguardava no local.

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