COMISSÃO PASTORAL DA TERRA

 

Centenas de mulheres camponesas ocuparam a cidade do Recife durante toda esta terça-feira, dia 11/03. As ações integraram a Jornada Nacional de luta das mulheres camponesas, realizada todos os anos no mês de março. Este ano, Jornada teve como lema Mulheres Sem Terra na luta contra o capital e pela Reforma Agrária Popular (Foto: Ana Emília / MST).

 

(CPT Nordeste II)

 

Logo pela manhã, as mulheres, vindas de áreas de acampamento, assentamento e comunidades rurais da zona da mata e região metropolitana do Recife, ocuparam a Sede do Instituto Nacional de Colonização e Reforma (Incra). Durante o período da ocupação, viaturas do Grupo de Apoio Tático Itinerante (GATI) estiveram presentes intimidando a mobilização das mulheres. No início da tarde, as mulheres saíram em marcha, da Sede do Incra até o Palácio das Princesas. A cada passo dado ao longo do percurso, que durou aproximadamente duas horas, as mulheres iam aumentando o coro: “Mulheres , em marcha, na luta por Justiça social e Reforma Agrária!”. Portando faixas, cartazes, as camponesas iam sendo aplaudidas por onde passavam e durante todo o percursos, as mulheres distribuíram informativos sobre a situação de descaso e de violência vivida pelos homens e mulheres do campo. Foram várias as pessoas que reverenciavam a marcha e anunciavam aos gritos, o apoio à luta pela Reforma Agrária.

 

Ao chegar no Palácio das Princesas, representantes do Governo solicitaram que uma comissão de oito representantes fosse formada afim de dialogar dentro do recém-formado Palácio do Governo. “Não. Se é pra falar algo, vai ser aqui, em frente à todas nós”, informaram em coro as mulheres. Assim, as camponesas foram recebidas pela Secretária da Mulher de Pernambuco, Cristina Buarque, na rua e com as grades de ferro, usualmente utilizada pelo Governo para impedir a aproximação do povo ao Palácio. Na ocasião, foi feito a leitura da carta Manifesto das Mulheres da Via Campesina e logo foi entregue à Secretária.

 

O documento denuncia gravidade da situação de violência no campo e a total inoperância dos governos federal e estadual na implementação da Reforma Agrária. Também denuncia a total conivência dos governos com o setor sucroalcooleiro no Estado, que se baseia na grande propriedade, usa elevadas quantidades de agrotóxicos, gera poucos empregos e produz fome, miséria, exclusão social, violência e degradação ambiental. Outro objetivo do documento foi exigir a plena efetivação das Políticas específicas para as mulheres camponesas.

 

Ao final de um dia de mobilizações na cidade do Recife, as mulheres da Via Campesina marcaram de vermelho a fachada do Tribunal de Justiça de Pernambuco. A cor remete simbolicamente ao sangue e à violência sofrida pelos trabalhadores e trabalhadoras rurais no estado. Durante o ato, não houve confronto com a Polícia.

 

De acordo com as mulheres da Via Campesina, "o Poder Judiciário em Pernambuco tem sido um dos principais inimigos da classe trabalhadora, criminalizando as lutas populares, além de ser empecilho nos processos de desapropriações de Terra, autorizando despejos e reintegrações de posse que são realizadas com extrema violência. Por outro lado, os crimes praticados contra os povos do campo ficam na impunidade."


Pernambuco é um dos estados que, historicamente, possui um dos maiores índices de conflitos agrários no país. Todos os anos, são milhares de trabalhadores rurais sem terra e de famílias camponesas, vitimas das ações de violência do estado e do latifúndio. Nos últimos 20 anos, 48 pessoas foram assassinadas em conflitos agrários, envolvendo altos índices de famílias despejadas, expulsas de suas terras com agressões, perseguições, prisões e ameaças de morte. Só em 2013, de acordo com dados parciais da Comissão Pastoral da Terra (CPT), foram mais de 10 mil famílias envolvidas em situações conflitos agrários no estado.

 

 

Manifesto das mulheres da Via Campesina de Pernambuco – 2014

 

 

Nós, mulheres da Via Campesina, estamos mobilizadas em jornada nacional neste mês de março para denunciar todas as formas de violência impostas pelo Estado e pelo capital aos povos do campo. Ocupamos as ruas para reafirmar o nosso compromisso na luta pela Reforma Agrária Popular e na construção de uma sociedade, baseada nos princípios da solidariedade, igualdade e justiça social.

 

Pernambuco é um dos estados que, historicamente, possui um dos maiores índices de conflitos agrários no país. Todos os anos, são milhares de trabalhadores rurais sem terra e de famílias camponesas, vitimas das ações de violência do estado e do latifúndio. Nos últimos 20 anos, 48 pessoas foram assassinadas em conflitos agrários, envolvendo altos índices de famílias despejadas, expulsas de suas terras com agressões, perseguições, prisões e ameaças de morte. Só em 2013, de acordo com dados parciais da Comissão Pastoral da Terra (CPT), foram mais de 10 mil famílias envolvidas em situações conflitos agrários no estado.

 

Diante deste contexto de violência extrema para os povos do campo, apontamos a total conivência e inoperância dos Governos Federal e Estadual em efetivar mudanças estruturais, visando a realização da Reforma Agrária. O Poder Judiciário em Pernambuco tem sido um dos principais inimigos da classe trabalhadora, criminalizando as lutas populares, além de ser empecilho nos processos de desapropriações de Terra, autorizando despejos e reintegrações de posse que são realizadas com extrema violência. Por outro lado, os crimes praticados contra os povos do campo ficam na impunidade.

 

Enquanto age de forma violenta contra movimentos sociais de luta pela terra e pelo território, o Estado brasileiro se assume como patrocinador do latifúndio e do agronegócio. Como prova disto, foram disponibilizados R$ 21 bilhões, na safra 2013/2014, para a agricultura camponesa, enquanto que para o agronegócio foram destinados R$ 136 bilhões. Ou seja, dez vezes mais investimentos para o capitalismo do que para quem é responsável por produzir 70% dos alimentos que chegam nas mesas dos brasileiros e brasileiras.

 

Onde avança o agronegócio, as mulheres deixam de ser agricultoras, deixam de produzir os alimentos que sustentam suas família e são obrigadas à viverem em condições subumanas nas periferias das cidades. A terra deve ser espaço de trabalho, de vida, de produção de alimentos. Não espaço de produção de negócios, lucro e destruição. Ao relembrar o dia 8 de março, a Jornada de Luta das Mulheres Sem Terra 2014 tem como objetivo denunciar o capital estrangeiro na agricultura (controlado pelas empresas transnacionais) e chamar a atenção da sociedade para o modelo destrutivo do agronegócio, que ameaça tanto o meio ambiente quanto a soberania alimentar do país e a vida da população brasileira, afetando de forma direta a realidade das mulheres. Lutamos pela agricultura camponesa, que defende a mulher e o homem do campo, suas formas de cultivo e o cuidado com os alimentos, respeitando a terra e sem uso de agrotóxicos.

 

Nós mulheres, arcamos diretamente com os problemas e dilemas gerados por esta sociedade, capitalista e patriarcal, baseada na exploração, não apenas dos bens naturais, mas também da vida e da dignidade dos trabalhadores e trabalhadoras. Somos duplamente violentadas por este sistema, que além da violência de classe nos reserva a violência de gênero. De acordo com dados da Via Campesina, pelo menos uma em cada três mulheres ao redor do mundo sofre algum tipo de violência durante a sua vida, sendo que, a violência doméstica, é a principal causa de morte e deficiência entre mulheres de 16 e 44 anos de idade, matando mais que doenças como o câncer e acidentes de trânsito.

 

Nós, mulheres da Via Campesina, reafirmamos que a única forma de mudar esta realidade é a luta e a mobilização permanente, ocupando ruas, praças e latifúndios. Permaneceremos reivindicando a plena efetivação de Políticas específicas para as mulheres do campo. Não intimidaremos diante dos desafios e da luta pela efetivação de nossos direitos, na luta contra a violência e pela realização de uma Reforma Agrária Popular.

 

Mulheres da Via Campesina – Pernambuco

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