Na noite de 24 de julho, por volta das 22h, o Movimento dos Sem Terras e o Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Apodi junto aos agricultores da região de Apodi ocupam terras que fazem parte dos lotes desapropriados para o Perímetro Irrigado do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS) na Chapada.
A ocupação foi feita com o objetivo de resistir contra o projeto do DNOCS que consiste em desocupar as áreas dos trabalhadores rurais que produzem agricultura familiar para que a administração desta área seja feita por cinco empresas do agronegócio.
A região da Chapada do Apodi/RN vêm se consolidando como uma das experiências mais exitosas de produção de alimentos de forma agroecológica e familiar do nordeste, destacando o arroz, frutas, criação de caprinos, ovinos e bovinos, projetos de piscicultura, além do mel de abelha, maior produtora de maneira orgânica do país. Desta forma, O projeto de irrigação configura-se em uma “reforma-agrária ao contrário: “estão tirando as terras dos trabalhadores e trabalhadoras do campo pra dar pro agronegócio. Então vamos ocupar e resistir pela Chapada do Apodi”, é o que diz Damiana (MST, Carnaubais).
Desde o ano de 2011, terras da Chapada do Apodi estão sendo desapropriadas para o Perímetro irrigado. Centenas de famílias estão sendo expulsas de suas terras para dar lugar a um projeto que, na visão dos trabalhadores, vai destruir as comunidades camponesas e todo o trabalho de agricultura familiar desenvolvido na região.
Cerca de 200 pessoas estão na ocupação: homens, mulheres e crianças. Dona Francisca (Assentamento Nova Esperança – MST) garante que o número de assentados resistentes deve crescer: “Estamos esperando muitos companheiros que chegarão”. E completa: “A gente só consegue as coisas na luta”.
Dentre as associações dos assentamentos da Chapada do Apodi na resistência junto ao MST estão Laje do Meio, Nova Descoberta, Milagres, Santa Cruz, Bamburral, Sítio do Góis. Seu Titico (64 anos agricultor e apicultor), presidente da associação de Laje do Meio, Apodi, defende que: “Se é pra vir recurso do Governo Federal, então que venha pra agricultura familiar e não para o agronegócio que só vai poluir nossas terras, nossas águas e explorar a nossa gente”.
Ivone, presidente da associação de Sítio Góis fala da importância desta ação: “desta forma nós acordamos pra luta e vamos acordar o poder público para as nossas reivindicações”. Sobre o porquê de estar lutando contra o projeto do DNOCS, Ivone responde: “Mesmo sendo assentado, a gente não tá seguro pois o governo está tirando a gente do campo pra dar as nossas terras pro agronegócio. Minha comunidade não foi desapropriada nesta etapa, mas vamos ser atingidos num futuro próximo porque nossas terras são vizinhas a Laje do Meio, por exemplo, que já foi desapropriada e não é uma cerca que vai livrar nossas hortaliças, nossa criação de caprinos, nossas abelhas do veneno que o agronegócio vai usar pra plantar lá”.
A medida de ocupação pelo MST é apoiada por diversas instituições e movimentos sociais como Marcha Mundial de Mulheres, CPT, Terra Viva, ASA, CUT, Coopervida e pelo BR 405 e impediram o fluxo de transportes a fim de dizer não ao projeto do DNOCS nas terras da Chapada. A intervenção na BR 405 faz parte do ato do Dia do trabalhador e trabalhadora rural. Para o secretário do STTR Apodi, Agnaldo Fernandes, os movimentos pretendem chegar ao diálogo e numa resolução para que os homens e mulheres do campo possam continuar em suas terras produzindo agricultura familiar.