Mulheres camponesas e quilombolas discutem a importância de se organizar coletivamente para que o acesso à financiamentos promova emancipação das mulheres nas comunidades
Por Marília Silva | Comunicação CPT Goiás
Mulheres das comunidades acompanhadas pela CPT Goiás participaram, entre os dias 5 e 7 de dezembro, do 4º Encontro Estadual de Mulheres do Cerrado, em Hidrolândia (Goiás). Na atividade, as elas puderam olhar para suas realidades pessoais e comunitárias e refletindo sobre os desafios para sua liberdade e segurança, sobre as razões de se organizar coletivamente e sobre os caminhos para ampliar sua autonomia produtiva e renda.
A agrônoma Michela Calaça, que atua hoje no Departamento de Conciliação e Mediação de Conflitos do Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar (MDA), coordenou as formações do encontro, conduzindo um momento de análise de conjuntura, que perpassou a história das lutas e conquistas das mulheres do campo.
As participantes do encontro puderam compartilhar experiências de organização, produção e acesso a financiamentos públicos e conhecer mais sobre como surgiram as políticas públicas do campo e quais podem ser acessadas por elas hoje.
O programa de Quintais Produtivos, de acordo com Michela Calaça, foi todo pensado pelas mulheres camponesas, levando em conta que o quintal é o local de trabalho das mulheres. “Pesquisas mostraram que os quintais são a terra mais fértil das propriedades, devido o manejo feito pelas mulheres”, expôs Michela.
Mulheres de comunidades camponesas relataram também como outras formas de conflitos impactam no sucesso de suas atividades, mesmo quando conseguem acessar algum tipo de financiamento, e como estão enfrentando essas dificuldades. Edna, da Comunidade Quilombola Levantado, contou que as mulheres da comunidade foram contempladas pelo Quintal Produtivo, mas agora estão enfrentando dificuldade com acesso a água para produção. “Perdemos muitas mudas. Com muita dificuldade, conseguimos agora que a prefeitura faça pra gente um poço artesiano”, relatou.
Marta, do Acampamento Che Guevara, em Piranhas, conta como incentiva outras mulheres a partir de seu trabalho produtivo no quintal. “Eu faço feira toda semana. Entrego caixas de jiló, pimenta de cheiro, entrego leite, tudo dos quintais produtivos. Quando alguma amiga tem algo para vender, eu digo que posse me passar que eu vendo na minha banca e passo o dinheiro. A gente precisa se ajudar”, relatou.
Agajoeme, do Assentamento Padre Ilgo, contou que, por meio dos quintais produtivos, as entidades do Campo Unitário conseguiram viabilizar tratoritos voltados para a produção das mulheres em 14 comunidades do estado. “O objetivo é diminuir a carga de trabalho das mulheres e aumentar a produção. As mulheres estão muito animadas”, contou.
A agente pastoral Marta Jacinto conta que há uma dificuldade em relação à assistência técnica. Por vezes, as organizações voltadas para a Agroecologia oferecem formação, mas as empresas de assistência vinculadas ao agronegócio acabam implantando suas ideias nas comunidades. Michela Calaça alertou para a necessidade de organização, por meio de entidades de trabalhadores rurais, acesso aos editais da Ater, para conseguir assistência técnica ligada à Emater, que é uma empresa pública onde é possível encontrar profissionais preparados e comprometidos com a agroecologia.