Texto e imagens: Carlos Henrique Silva (Comunicação CPT Nacional)
A Articulação das CPTs da Amazônia esteve, entre os dias 4 e 6 de julho, em mais uma visita para analisar o impacto do assédio das empresas de crédito de carbono (REDD+) aos povos e comunidades da floresta, desta vez no Marajó/PA, uma das regiões de maior concentração destes projetos no país.
Participaram agentes pastorais dos regionais Araguaia-Tocantins e Pará e equipe CPT-Marajó. A comunidade visitada foi Santo Ezequiel Moreno, no município de Portel, uma comunidade das águas que sobrevive do extrativismo do açaí e da agricultura familiar, com manejo sustentável do meio ambiente.
A visita foi um intercâmbio de escuta da comunidade, sendo uma iniciativa encaminhada a partir o encontro de formação da Grande Região Norte, ocorrido em 2023 em São Luís/MA.
Pesquisa elaborada pela Fundação Rosa Luxemburgo e pelo Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (CPDA-UFRRJ) mapeou 107 projetos privados de compensação ambiental, que incluem uma área total de quase 19 milhões de hectares, em 15 estados.
O Pará é o estado com o maior número de projetos (34), abrangendo 12 comunidades, sendo 7 delas na região do Marajó. Os resultados estão publicados no relatório “Em Nome do Clima: Mapeamento Crítico – Transição Energética e Financeirização da Natureza”, lançado em março, e também no relatório Conflitos no Campo Brasil 2023, publicado pela CPT em abril.
“A região do Marajó tem 97% de suas áreas naturais, muita floresta, muita água, mangue, área natural, devido à luta e resistência das comunidades. O mercado vê agora a natureza protegida como uma forma de ganhar dinheiro e de especular em cima disso, e toda essa biodiversidade preservada chamou a atenção das empresas dessa área. O Cadastro Ambiental Rural (CAR) também contribuiu muito para autodeclaração das terras, e inclusive abrindo espaço para a grilagem”, afirma Carlos Augusto Pantoja Ramos, engenheiro florestal e assessor da CPT.
Resistindo às promessas e contratos danosos ao seu próprio futuro, as 57 famílias da comunidade Santo Ezequiel Moreno se fortalecem a partir da associação e do cooperativismo, entendendo que sua maior riqueza é a natureza, o conhecimento e as maneiras de cuidar dela desde os seus ancestrais.
“A gente não aceitou o carbono porque vivemos bem, já preservamos a área onde a gente mora, e também estamos prevenindo os nossos filhos no futuro. A gente também não ia poder fazer muitas coisas nas nossas áreas de plantio, de onde tiramos a renda para a família, como fazer casas, suprir outras necessidades, tirar o açaí. Fizemos várias reuniões para conversar com as famílias da comunidade, e graças a Deus a maioria não aceitou. Tem outras comunidades vizinhas que assinaram e estão passando necessidades, sem receber ajuda dessas empresas”, lembra Maria Eliane Alves Araújo, moradora na comunidade ha 13 anos.