O coletivo de autocuidado da CPT se propõe a contribuir com formatos de relações sociais a partir do cuidado com o corpo e mente para fortalecer as relações e a militância de seus agentes
Terê Menezes | CPT Piauí
Fotos: Lina Cunha
Quem cuida de quem cuida? Essa é a pergunta que vem sendo respondida nos últimos anos pelo grupo de autocuidado e cuidado coletivo da CPT. Contribuindo, pensado e se articulando na construção interna de ambientes, relações e corpos saudáveis, o grupo trabalha para fortalecer a autonomia das pessoas, dos grupos acompanhados e da missão de ser presença fraterna, profética e solidária junto aos povos do campo.
Para isso, durante os dias 21 a 24 de fevereiro, no espaço Amanduart em Brasília-DF, ocorreu mais um encontro de autocuidado e cuidado coletivo para agentes de diferentes regionais e voluntários da CPT. O Encontro foi assessorado por Mariano Pedroza, Formador Internacional da Técnica de Redução de Estresse (TRE), técnica desenvolvida por David Berceli e que se propõe a ser uma ferramenta de autocuidado.
Uma vez aprendida a técnica, a pessoa pode utilizá-la para promover a saúde e a qualidade de vida, assim como para lidar com situações de estresse. Mariano trouxe elementos de pesquisa sobre os benefícios da prática e da inclusão da técnica no rol das Práticas Integrativas de Saúde (PIC’s) pelo Sistema Único de Saúde (SUS), o que amplia a credibilidade da técnica nos grupos adotados.
Autocuidado e cuidado coletivo é cuidar também do institucional. Diversas são as situações de estresse vivenciadas pelos agentes da CPT quando, constantemente, se vêem em cenários de conflitos no campo. Esse cotidiano impacta as pessoas envolvidas nos territórios, as pessoas ameaçadas, suas famílias e os agentes que acompanham tais situações de conflitos. Nesse contexto de estresse, o dia a dia do trabalho da CPT se torna tenso e as relações de trabalho também podem sofrer desgastes em diversos níveis.
Durante o encontro, o grupo vivenciou, além das práticas de TRE, outras técnicas de autocuidado e cuidado coletivo, todas são bem vindas nesse processo de promoção da saúde. Algumas já praticadas pelos agentes do coletivo de autocuidado ou por outros agentes e comunidades são: Reiki, massoterapia, ventosas, reflexologia podal, auriculoterapia, aromaterapia, benzimento, passe, pajelança, oração/espiritualidade, banho de ervas, emplastos, fitoterapia, bibliodrama, teatro do oprimido, chás, escalda pés, relação com a natureza, entre outras práticas.
Unir o conhecimento de cuidado coletivo tradicional, acrescentando outras práticas integrativas de saúde, fortalece e enriquece o rol de aprendizados, ampliando possibilidades para agentes e comunidades atendidas.
Histórico da formação de Autocuidado e Cuidado Coletivo
Em 2016, pensando no impacto que seus agentes sofrem enquanto defensores de direitos humanos envolvidos no contexto direto ou indireto de conflitos no campo, ou mesmo incluídos nos grupos de ameaçados por conta desses conflitos, a CPT deu início à primeira turma de formação em autocuidado e cuidado coletivo. Em seguida, em 2018, uma segunda turma se inicia, ambas com o estudo da Técnica de Redução de Estresse.
Observou-se, dentro da Pastoral, o adoecimento de seus agentes, diante disso, foi proposta como linha de ação estratégica, o incentivo ao autocuidado e cuidado coletivo. Entendendo que tais pessoas envolvidas nos acompanhamentos aos conflitos, devem/precisam estar bem para poder cuidar dos outros, das comunidades, dos povos ameaçados, etc. Esse “estar bem” significa maior concentração, respostas mais exatas e eficientes aos diferentes contextos de conflitos, fortalecimento da militância e continuidade da missão da CPT.
Durante o processo de formação, e depois dele, já foram identificados diversos benefícios individuais nos grupos em que foram aplicados a prática. Parte do propósito dessas formações está descrito no texto produzido pela segunda turma e publicado no jornal Pastoral da Terra, edição 255, página 15, com o título: “Autocuidado é existir para resistir”. Você pode acessar o texto clicando aqui.